A reunião extraordinária do Eurogrupo marcada para esta sexta-feira pode ser ou não o fim do impasse grego, mas a conversa telefónica, ontem, entre a chanceler Angela Merkel e o primeiro-ministro Alexis Tsipras faz entender que há uma solução a caminho.
Aparentemente, tudo indica que essa solução terá que ser política, transcendendo os próprios poderes dos ministros das Finanças que se reúnem no Eurogrupo. E, do ponto de vista económico-financeiro, poderá mesmo haver uma solução de compromisso.
Ao contrário do que foi sendo veiculado, a posição dos ministros na passada segunda-feira não foi unânime e a própria intervenção, esta quinta-feira, de Jean-Claude Juncker, mostrou que a Comissão está a tentar fazer um papel de intermediário “o mais honesto possível, em linha com a defesa que lhe cabe dos interesses europeus”, segundo relatou ao Expresso uma fonte da Comissão.
O facto foi patente logo na própria segunda-feira, quando uma carta do comissário para os Assuntos Económicos, o francês Pierre Moscovici, foi substituída por uma outra assinada pelo presidente do Eurogrupo, e que foi rejeitada pela parte grega.
Que compromisso?
Em questão está saber se é possível que a Grécia tenha um objetivo de reequilíbrio orçamental menos exigente, que lhe permita espaço de manobra para travar a degradação do sistema social e a retoma de investimento, o que por sua vez condiciona a natureza das reformas que terá de cumprir.
Entre uma posição extrema, defendida, entre outros, pelo ministro alemão Schauble, de que todos os compromissos devem ser mantidos quanto ao equilíbrio orçamental e as reformas (“as regras que existem são para cumprir”) e a do Governo grego de não-aceitação da extensão do programa, poderá estar a desenhar-se uma solução intermédia.
Essa solução de compromisso prevê a extensão do programa (o que, por outros termos, o Governo Syriza aceitaria – a tal “extensão do acordo de resgate”), mas com um conteúdo diferente de reformas, metas e reequilíbrio orçamental.
À cabeça dessas reformas estaria a prioridade dada à elaboração de um novo sistema de coleta de impostos mais abrangente e à “construção” de uma administração mais eficaz e menos corrupta, ambos problemas reais que a Grécia enfrenta.
O destaque dado à vertente social (como a saúde) e a possível inclusão do país no Plano Juncker de Investimentos, seriam outros componentes desse compromisso.
A linha vermelha seria aquela que o próprio Governo grego já admitiu: não ao perdão da dívida.
Tais propostas poderiam acolher o voto favorável de vários ministros das Finanças, entre eles o francês e o italiano. Aliás, não terá sido por acaso que o próprio vice-chanceler alemão e presidente do SPD, Sigmar Gabriel, veio também ontem demarcar-se da posição do ministro das Finanças, ao dizer que “a nova atitude por parte do Governo grego [deve ser vista] como um ponto de partida para as negociações, e não [se deve] rejeitá-la publicamente de antemão”.
O Grupo Socialistas e Democratas (S&D), a que pertencem vários países membros do Eurogrupo, também já se manifestou em declaração oficial a favor de uma solução de compromisso.
“Tal solução permitiria abrir à Grécia uma possibilidade de retoma e, ao mesmo tempo, um novo capítulo da união económica e monetária, que tem de ser reformada para repor o princípio da convergência”, disse ao Expresso a este propósito Maria João Rodrigues, vice-presidente do grupo para os Assuntos Económicos e Sociais.
De todas as maneiras, a solução será sempre política. E, daí, a importância do telefonema de Merkel.
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