O fim do comércio tradicional ainda não está à vista

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Os comerciantes algarvios sentem que têm beneficiado com o crescimento do turismo, revelando que tal potenciou a criação de empresas e aumentou as vendas nos últimos anos. No entanto, o presidente da Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL) reconhece que o setor precisa de “dar saltos maiores” para enfrentar a atual mudança de paradigma do comércio. Álvaro Viegas frisa a necessidade de se “acompanhar os novos formatos comerciais” e de se evoluir para a “venda virtual”

Nuno Couto/Jornal do Algarve

Há cerca de vinte anos, pensava-se que o comércio de rua no Algarve estava “condenado” e que “iria tudo encerrar”. A região algarvia entrou numa espiral de licenciamentos de centros comerciais e grandes superfícies que levaram à asfixia e ao desaparecimento de muitos estabelecimentos de rua.

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Felizmente, o setor tradicional sobreviveu a uma guerra que parecia perdida. Hoje, muitas das 20 mil empresas de comércio e serviços que existem na região deixaram de ser “uma coisa antiga, ultrapassada”, porque reinventaram-se e deram um salto de qualidade. Porém, os desafios são enormes e há quem defenda que o comércio tradicional só não vai morrer se os pequenos comerciantes souberem colocar as novas tecnologias ao serviço da evolução dos seus negócios.

“O comércio – como tudo na vida – vai evoluindo. Mas, no meu ponto de vista, deveria evoluir mais rápido. Temos de acompanhar os novos formatos comerciais e dar saltos maiores”, diz ao JORNAL DO ALGARVE o presidente da Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL), sublinhando a necessidade de se evoluir para a “venda virtual”.


O presidente da ACRAL, Álvaro Viegas, apela aos pequenos comerciantes para que coloquem as novas tecnologias ao serviço da evolução dos seus negócios

Segundo Álvaro Viegas, para que o comércio tradicional se possa diferenciar de uma concorrência cada vez mais feroz, as lojas de rua têm de se aproximar cada vez mais dos seus públicos-alvo, com o objetivo de conquistar a sua lealdade. “Temos de alterar os atuais horários de funcionamento e evoluir para termos, em simultâneo, o espaço físico e a loja virtual. Cada vez mais, os consumidores utilizam os sites das lojas para adquirirem as suas compras”, realça o presidente da ACRAL, sublinhando que essa é a tendência que vai marcar o futuro.

Vendas online” alavancam aumentos dos negócios

Álvaro Viegas acredita assim que, para além das vendas presenciais, os estabelecimentos tradicionais também devem apostar no fenómeno das “vendas online”, pois estas podem ser cruciais para alavancar o aumento dos negócios. Sem essas novas ferramentas tecnológicas, o responsável considera que muito dificilmente o comércio tradicional poderá continuar a resistir.

Ainda assim, apesar de todas as dificuldades e da abertura de mais alguns gigantes comerciais nos últimos anos – “o Algarve tem o maior número de metros quadrados de grandes superfícies por habitante na Europa” –, Álvaro Viegas refere que “o comércio tradicional está a resistir melhor do que se esperava”. “Nos últimos dois ou três anos, fruto do ‘boom’ turístico, houve um acréscimo de clientes e, portanto, mais vendas”, adianta. No entanto, – continua – “neste ano de 2018 já se sentiu uma retração e, no próximo, não é expectável o mesmo número de turistas, devido à nuvem de incerteza que paira em relação à saída do Reino Unido da União Europeia e sabendo que este é o primeiro mercado na nossa região”.

Para além do apelo aos pequenos comerciantes para que coloquem as novas tecnologias ao serviço da evolução dos seus negócios, o presidente da ACRAL apela, também, às autarquias para que “tenham um olhar diferente para as suas baixas comerciais e zonas históricas”. O responsável alerta que “estas zonas, que há muito foram abandonadas para a habitação, se deixarem de ter comércio, tornam-se em zonas abandonadas, propícias a atividades ilícitas”.

Presidente da ACRAL elenca principais problemas

Neste sentido, Álvaro Viegas lembra que apresentou, há cerca de três anos, junto da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), um conjunto de medidas para relançar o comércio local. “Com pena minha, nada avançou. É muito difícil a articulação entre os 16 municípios. Cada um tem a sua própria estratégia”, desabafa, elencando os principais problemas que afetam o comércio tradicional na região: “Temos de resolver o problema do estacionamento nas baixas, temos de resolver o problema da reabilitação patrimonial de muitos prédios devolutos que dão péssima imagem às zonas comerciais, temos de tornar atrativas as zonas comerciais com novo mobiliário urbano e temos de ter um plano de promoção do comércio no Algarve”.

“Isto tudo só se faz em consonância com as autarquias. Se elas não dão esses passos nada será possível. Hoje, limitam-se, algumas delas, a terem eventos no verão e no natal. Embora sejam iniciativas positivas, são desgarradas e não ligadas a uma estratégia”, remata o presidente da ACRAL.

(NOTÍCIA PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 20 DE DEZEMBRO DO JORNAL DO ALGARVE)

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