Eram exatamente zero horas, 20 minutos e 19 segundos quando arrancou a fita com a senha “Grândola Vila Morena” no programa Limite da Rádio Renascença. Foram momentos de grande tensão, conta ao JA Carlos Albino, que naquela madrugada de 25 de Abril tremeu e receou pela própria vida, mas não hesitou e deu o sinal que desencadeou a operação militar que pôs fim a um regime que amordaçava Portugal desde 1926. “A ditadura portuguesa era pior que a espanhola porque matava onde a morte não se via”, lembra Carlos Albino, em entrevista exclusiva ao JA. Casado há mais de trinta anos com a escritora Lídia Jorge, o jornalista natural de Loulé é o presidente da comissão das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril naquele concelho. Nestas páginas, Carlos Albino recorda como tudo se desenrolou naquele dia decisivo para a história do país. E fala também do que veio a seguir…
Frases soltas da entrevista exclusiva dada esta semana ao JA:
“Em democracia nem toda a gente pode estar preparada para evitar que se regresse a uma ditadura”
“O ‘Limite’ foi o único programa da história da rádio portuguesa a ter censura direta”
“A senha do 25 de Abril (Grândola) foi visada e aprovada pelo coronel delegado da Comissão de Exame Prévio!”
“Tinha que fazer as coisas com extremo cuidado. Cheguei a ter medo de não ser capaz”
“O censor ficou atónito com este episódio que presenciou de boca aberta”
“Prometeram-me uma patrulha para segurança no trajeto até casa, patrulha que nunca apareceu”
“Antes do 25 de Abril, o único conforto era o da esperança em que algum dia acontecesse a liberdade”
“A esperança é a única coisa que uma ditadura não consegue tornar clandestina”
“A ditadura portuguesa era pior que a espanhola porque matava onde a morte não se via”
“A democracia é um perigo para uma classe política desacreditada”
“Ao que se chama de abstenção, é desalento. Quem se abstém, quer ou queria acreditar, mas não tem outra forma de traduzir a convicção de que foi enganado”
“Um dos fracassos (do 25 de Abril) foi sem dúvida o da regionalização”
“A representação política dos algarvios tem vindo a ser desgraduada, e a participação política e cívica não se tem elevado de patamar com credibilidade”
(Entrevista completa na última edição do JA – dia 24 de abril)
NC/JA