O insubmisso: António Silvestre Branco – O concelho de Castro Marim perdeu um político do povo

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António Branco não foi um político de plástico, nunca foi escravo das televisões, das páginas dos jornais ou das rádios, muito menos permitiu num só momento que a sua imagem fosse maquilhada para caçar votos

No passado dia 30 de Junho, o concelho de Castro Marim ficou mais pobre com a morte de António Silvestre Branco, um distinto castromarinense de 94 anos, impoluto e de uma seriedade irrepreensível, cuja incomparável generosidade a todos cativava.
Não sendo um defensor acérrimo das homenagens póstumas, ainda assim, e com a humildade que me caracteriza, gostaria de discorrer algumas linhas acerca deste homem vertical e natural da freguesia de Odeleite. António Branco, militar de carreira, concluída a instrução primária, cedo experimentou os tempos difíceis no torrão de terra que o viu nascer, ajudando o seu pai no barco que este possuía e com o qual efectuava o transporte de produtos agrícolas, sal e cal, pelo Guadiana, o grande rio do sul, entre Odeleite, Vila Real de Santo António e Mértola.
Com um carácter tenaz e o desejo de alargar o horizonte dos seus conhecimentos, este castromarinense exemplar ingressou em 1947, após o serviço militar, na Guarda Nacional Republicana, iniciando uma carreira militar que mais de 30 anos testemunham e consagram, vindo a terminar no posto de Sargento Ajudante.
De regresso às origens e preocupado com o definhar e o atraso da sua freguesia, António Branco, homem de ideais e do combate por causas, envergou em 1982, num acto de grande coragem política, a camisola do PPD/PSD, o partido de Francisco Sá Carneiro, para lutar pela melhoria das condições de vida da sua terra. Perdeu este combate, mas tal como é apanágio dos homens de fibra, não desistiu de lutar por aquilo em que acreditava. Em 1989, voltou ao combate político, candidatando-se à Junta de Freguesia de Odeleite, onde ganhou sucessivas eleições para o Partido Social Democrata, mantendo-se como Presidente até 2004.
António Branco não foi um político de plástico, nunca foi escravo das televisões, das páginas dos jornais ou das rádios, muito menos permitiu num só momento que a sua imagem fosse maquilhada para caçar votos. Foi antes um homem genuíno, de bem, de serviço público, que para lutar pelos superiores interesses dos seus fregueses não precisou de selar acordos serôdios que pudessem atentar contra os seus ideais ou esconder o seu partido.
Numa entrega à comunidade em que viveu, tendo como vértice da sua acção as questões sociais e o bem-estar dos seus concidadãos, António Silvestre Branco criou em 1993 a primeira Instituição de Solidariedade Social da Freguesia, a Associação Social de Odeleite, na freguesia mais despovoada e desertificada de Castro Marim. O objectivo era acudir a todos aqueles que necessitavam de ajuda, com particular enfoque para as crianças, pois acreditava firmemente que elas constituíam o futuro do concelho, como provam o Infantário e o ATL criados.
Também integravam o acervo das suas preocupações o aproveitamento agrícola das várzeas de Odeleite e o Plano de Ordenamento da albufeira da barragem ali construída, tendo fundado em 1997 a Cooperativa Agrícola de Rega de Odeleite, uma agremiação importante no apoio aos agricultores da freguesia.
Não obstante a sua obra, António Branco partiu com a mágoa de não ter conseguido cumprir um dos seus desígnios, a construção de um Centro Comunitário em Odeleite para acolher as mulheres e homens que construíram laboriosamente a freguesia. A incúria das teias da burocracia da Administração Pública definitivamente não se compadece com as necessidades reais das populações.
No ano de 2006 foi agraciado pelo Presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Dr José Estevens, com a medalha de Honra do Município pelos relevantes serviços prestados ao concelho no Poder Local.
A terminar o meu pensamento sobre António Silvestre Branco, um mestre que segui e sigo, deixo como seu humilde discípulo uma nota pessoal. Quero agradecer-lhe penhoradamente os conselhos sábios que me transmitiu, permitindo temperar a minha rebeldia e a minha irreverência com o seu bom senso e muita seriedade.

Vítor Madeira

* [email protected]
O autor do artigo escreve de acordo com a antiga ortografia

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