O novo desastre ambiental de que ninguém ouviu falar

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O Golfo do México voltou a ser atingido por um novo derramamento de crude na passada quinta-feira, quando uma falha num poço subaquático detido pela petrolífera Shell largou 90 mil galões de água misturada com petróleo no oceano (cada galão corresponde, nos Estados Unidos, a 3,785 litros, o que equivale a um total de mais de 340 mil litros de crude espalhados na água).

Por uma razão ou por outra — quer pelo tratamento machista e misógino que Donald Trump dá às mulheres denunciado em exclusivo pelo “New York Times” ou pela suspensão de Dilma Rousseff e a consequente tomada de posse do conservador neoliberal Michel Temer — a notícia do acidente ambiental fez poucas ou nenhumas manchetes em todo o mundo. Mas depois do que aconteceu a 20 de abril de 2010 no mesmo golfo, o maior do mundo, não é notícia menor.

Esta terça-feira, cinco dias depois do acidente, a Shell anunciou que já deu início aos trabalhos de reparação da falha no oleoduto subaquático que resultou no derramento do correspondente a dois mil barris de petróleo no Golfo do México. O oleoduto integra uma rede de quatro poços subaquáticos localizados a cerca de 156 quilómetros do porto Fourchon, no Louisiana. De acordo com a Glider Field, a empresa que gere estes poços sob um contrato de outsourcing com a Shell, o derramamento de quinta-feira criou uma mancha de petróleo de quase 21 quilómetros na superfície da água.

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Em comunicado, a Shell garante que o petróleo não deverá alcançar a costa e que nenhuma zona de pesca foi encerrada na sequência do derrame, cuja limpeza está a ser levada a cabo por embarcações com a ajuda da aviação, informa a empresa.

“A trajetória é em direção a oeste, não se antecipando qualquer impacto na costa neste momento. O processo de limpeza continua hoje [terça-feira], com recurso a tecnologia infravermelhos e com o apoio de recursos aéreos. Os esforços conjuntos já conseguiram recuperar 1826 barris, mais de 76.600 galões, da mistura petrolífera.”

As autoridades ambientais norte-americanas dizem que já alocaram “recursos totais de investigação” para o local a fim de identificar a causa do derramamento e as melhorias necessárias nas infraestruturas subaquáticas para evitar novas falhas.

A exploração de petróleo no Golfo do México tornou-se mais difícil e estrita sob ordens do governo federal norte-americano após o desastre de 2010, quando uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, detida pela BP, resultou em 11 mortos e num dos piores acidentes ambientais da história, com impactos sentidos até hoje na fauna e flora marina.

Há um mês, a administração Obama apresentou uma série de novas medidas para gerir os resultados de eventuais novos desastres, mas muitos criticam o governo e a indústria petrolífera pela demorada e limitada resposta ao acidente de 2010. Num relatório divulgado em abril, a US Chemical Safety Board denunciou que nem as regulações governamentais nem as práticas da indústria melhoraram desde então.

“A última coisa de que o Golfo do México precisa é de um novo derramamento de petróleo”, diz Vicky Wyatt, da Greenpeace, citada pelo “The Guardian”. “A mentalidade de ‘negócio como de costume’ patente nas indústrias do petróleo e do gás devasta comunidades, o ambiente e o nosso clima. Que ninguém se engane: quanto mais infraestruturas de combustíveis fósseis nós tivermos [nos oceanos], mais derrames irão acontecer. Já é altura de manter [estas operações] exclusivamente em terra.”

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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