O novo normal da educação

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A pandemia de COVID-19 alterou a vida de todos, incluindo estudantes e seus pais. De um dia para o outro, com as escolas encerradas, as aulas começaram a ser lecionadas através de um computador ou televisão e muitos pais iniciaram o teletrabalho para, ao mesmo tempo, cuidarem dos seus filhos. Agora, após várias fases de desconfinamento, já retomaram algumas aulas presenciais e reabriram as creches e ATLs, apesar de a maior parte dos alunos continuarem a aprender através de um televisor ou tablet. O JA foi ver o que mudou neste “novo normal” educativo. E falou com gente que, de um momento para o outro, ficou com o mundo “de pernas para o ar”

As escolas estão vazias, em silêncio, com muitos locais dantes repletos e agora proibidos. O convívio que noutros tempos enchias os intervalos já não faz parte desta nova realidade. A maior parte dos quadros de giz foram substituídos por ecrãs. E nada se faz sem a ajuda de telemóvel, um tablets, computador. A telescola, que noutros tempos fez parte da infância de muitas pessoas, regressou este ano e poderá permanecer durante algum tempo.

Ambiente na escola não transmite confiança


Aos 17 anos, Bruna Figueiredo é obrigada a usar máscara para assistir às aulas presenciais na Escola Secundária Dr. Augusto Correia, em Tavira, para sua proteção e dos seus colegas, que viram as suas secretárias mais afastadas do que antes, devido à pandemia de COVID-19.


A aluna de Economia do 11.º ano, durante os primeiros dias de aulas presenciais sentiu que foi “sem dúvida, sufocante”, uma vez que “o ambiente, apesar de ser minimamente seguro, não nos transmite muita confiança. Por outro lado, foi muito bom regressar às aulas que me vão ajudar imenso para os exames” necessários para uma posterior candidatura ao ensino superior, revelou ao JA.


Para entrar na sua instituição de ensino, desde a porta principal até à sala de aula, há todo um processo e um novo percurso, com regras a cumprir impostas pela Direção-Geral de Saúde.


À entrada da escola, as mãos de todos os alunos são desinfetadas e os auxiliares verificam se todos têm a máscara corretamente colocada, seguindo depois em percursos diferentes até aos respetivos blocos.


Já na porta dos blocos que dão acesso às salas de aula, as mãos dos estudantes são, de novo, desinfetadas, dando início às aulas pouco tempo depois.

Bruna Figueiredo


Ao todo, Bruna tem entre duas a três horas de aulas presenciais diariamente, com um dia livre por semana, além das aulas em casa através da internet.

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“Para ser sincera, prefiro as aulas presenciais porque é muito mais esclarecedor e nós compreendemos melhor as coisas”, revelou Bruna ao JA.


Por outro lado, as aulas online poderão ser “uma boa ferramenta, se todos os professores souberem dar aulas” através desse método, porque muitos deles “dão exercícios sem qualquer tipo de material de estudo” a acompanhar.


“Em algumas disciplinas tem sido complicado as aulas online, sem dúvida”, concluiu Bruna.

Nas aulas online é mais difícil manter a atenção


Miguel Encarnação tem 19 anos, é natural de Monchique e devido à pandemia de COVID-19 teve as suas aulas do curso de Ciências Biomédicas e Laboratoriais da Universidade do Algarve, em Faro, através da internet durante os últimos meses.


Quando entrou para este curso, pensou viver a vida académica como qualquer outro aluno do ensino superior, com aulas, convívio com novas pessoas e uma nova cidade. Após um ano como caloiro, com aulas presenciais em laboratório rodeado de todo o equipamento necessário e que facilita o estudo, e a viver a vida académica que qualquer estudante sonha, a COVID-19 chegou e trocou as salas de aula por um computador com webcam, na sua própria casa e sem os seus colegas e professores, fisicamente.


“Desde o encerramento da universidade por causa da pandemia temos tido as aulas online através do Zoom. No início foi um pouco difícil, mas com o tempo fui ganhando o hábito”, confessou o jovem ao JA.


Esta nova realidade tem as suas dificuldades, uma vez que agora o estudante tem de “prestar mais atenção, porque agora temos a ideia de que estamos em casa e que estamos de férias, mas ao mesmo tempo é como se estivéssemos na universidade”.

Miguel Encarnação


O curso de Ciências Biomédicas e Laboratoriais tem uma componente muito prática, que devido à pandemia os alunos deixaram de frequentar os laboratórios e os professores tiveram de reinventar-se online. Os laboratórios estão encerrados, mas virtualmente os professores tentam transportar os alunos para o local.


“Os professores tiveram de adaptar maneiras em que pudéssemos ver as técnicas, sendo que um dos métodos que utilizaram foram vídeos do Youtube, que mostravam tudo como se estivéssemos a ter aulas presenciais. Mas não é a mesma coisa”, confessou o estudante algarvio.


Em relação às avaliações, foram também feitas através da internet, “utilizando o sistema da UALG, da tutoria”.


Nestes casos, os testes foram de escolha múltipla e depois “eram logo dados os resultados, porque o sistema é capaz de corrigir, enquanto que as questões de desenvolvimento são corrigidas pelos professores e passado algum tempo são dadas as notas”.


Para o próximo semestre, a preocupação de Miguel começa já a aparecer, “considerando a segunda vaga” e que as aulas continuem a ser à distância. Se isso voltar a acontecer será “muito prejudicial” para o estudante algarvio, uma vez que “significaria mais um semestre sem aulas práticas necessárias para o estágio no último ano do curso”.

Transformar uma casa em escola e num escritório


Mãe de uma menina de cinco anos, Filipa Martins também viu a sua vida alterada de um dia para o outro. Com a chegada da pandemia, viu-se obrigada a ir para casa em teletrabalho, ao mesmo tempo que cuidava da sua filha.


“Foi uma adaptação aos novos métodos de trabalho. Tive que criar uma rotina para que eu e a menina tivéssemos a nossa nova normalidade”, referiu a vilarealense de 34 anos ao JA.


Durante o mês que esteve em casa devido à pandemia de COVID-19 e ao consequente encerramento da escola, esteve dividida entre ser mãe, cuidar da casa e ainda o seu trabalho num escritório em Vila Real de Santo António, desta vez a partir de casa.


Desde início, teve que criar uma rotina com a sua filha: “De manhã normalmente fazia as atividades propostas pela educadora e durante a tarde brincava. A minha filha gosta muito de brincar, desenhar e fazer as suas artes, logo não foi difícil que tivesse entretida”, revelou Filipa ao JA.


Para compensar o facto da sua filha não ir à escola, Filipa, que para além de mãe, dona de casa e contabilista, teve de se transformar em educadora de infância e tornar a sua habitação numa escola improvisada.


“Fizemos todas as atividades que foram propostas pela educadora e alguns trabalhos manuais que vi na internet, alguns grafismos, uma régua de medir a altura, desenhos com aquarelas e guache. Uma amiga também me deu imensos materiais e tintas para que a minha menina não tivesse falta de material”, revelou Filipa ao JA.


A pandemia de COVID-19 obrigou todos ao confinamento e isso teve impacto em certas pessoas. Mas no caso da filha de Filipa, o facto de ter de estar na sua habitação durante um mês não teve influência, uma vez que “brinca muito e sabe estar em casa, pois arranja sempre algo para fazer”.


No entanto, Filipa tem noção que “foi muito difícil para algumas crianças, que pediam para ir para a rua, mudaram o comportamento e não queriam fazer nada”.


Explicar uma pandemia a uma criança de cinco anos pode ser muito complicado, mas passado algum tempo a filha de Filipa compreendeu o que se passava e “cumpre muito bem o que lhe é pedido”, apesar de ter “medo do bicho”.


No seu caso, pensou que durante o confinamento fosse “mais complicado gerir o trabalho e a filha em casa” e que está pronta para “esta nova normalidade”.


Conciliar o teletrabalho com uma criança pode não ser tarefa fácil, mas o dia de Filipa e da sua filha começava como outro dia qualquer. Ao acordar, era “tudo como se fosse realmente sair de casa”, como vestir e tomar um pequeno almoço.


Após ligar o computador e conectar-se ao trabalho, conseguia entreter a filha com uma ficha ou outra atividade da educadora que, quando terminava, ligava a televisão nos canais da Disney ou no Panda, aproveitando para brincar até à hora da refeição.


“Até ao almoço não pedia muito a minha atenção para brincadeiras”, mas na parte da tarde, já era um pouco diferente.


Apesar de querer brincar com a mãe, que estava em teletrabalho, a criança era entretida com um desenho ou algum trabalho manual até à hora do lanche.


Depois de comer chega a hora em que Filipa consegue focar-se totalmente no trabalho: à sua filha é-lhe entregue um tablet, onde fixa a sua atenção.


Já ao final da tarde, a sua filha volta a pedir-lhe atenção, uma vez que é o “momento de brincar de bebés ou de andar de bicicleta”, como já vem sendo hábito.


O teletrabalho de Filipa não teve horários durante um mês. Normalmente o seu dia de trabalho terminava às 18:00, “mas como o dia não é bem igual, trabalho após a brincadeira de fim de dia e à noite quando a menina dorme”.

As novas regras para as instituições de ensino


Nesta nova realidade, as escolas e creches que reabriram têm agora de seguir regras apertadas impostas pela Direção-Geral de Saúde, para combater o contágio de COVID-19.


As escolas secundárias que reabriram para as aulas presenciais dos alunos do 11.º e 12.º ano obrigam a todos os estudantes, funcionários e professores a usar máscara dentro do recinto escolar, enquanto nas creches e no pré-escolar apenas usam este equipamento de proteção os educadores e crianças com mais de 10 anos.


As salas de aula viram as suas mesas afastadas, com um aluno em cada secretária, tal como as salas das creches e pré-escolar onde foi reduzido o número de crianças por divisão e o afastamento de berços e espreguiçadeiras.


Os horários de entrada e de saída dos estudantes e dos mais pequenos devem estar bem definidos e ser desfasado de sala para sala, para evitar o contacto. Nas creches, as crianças devem ter uma sala fixa e devem ser acompanhadas sempre pelo mesmo funcionário.


Além dos circuitos definidos dentro dos estabelecimentos escolares, os intervalos foram reduzidos e os alunos devem aproveitá-los dentro das salas de aula.


Os bufetes, salas de apoio, salas de convívio e bares estão encerrados, enquanto apenas estão as bibliotecas e as salas de informática disponíveis, com a lotação reduzida para um terço.


Os refeitórios continuam abertos mas no ensino secundário os guardanapos, talheres, fruta e sobremesa devem estar embalados, enquanto nas creches as crianças devem comer à vez e ter lugares marcados.


As casas de banho devem ser lavadas quatro vezes por dia, duas de manhã e duas de tarde, tal como maçanetas, corrimãos e interruptores. As salas de aula são desinfetadas sempre que haja mudança de turma.

Gonçalo Dourado

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