O que pensam os principais cabeças-de-lista do Algarve

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O ato eleitoral é já daqui a pouco mais de duas semanas. Quem são, o que pensam e a que se comprometem os primeiros candidatos de cada lista às eleições de dia 30?

O JA questionou os cabeças de lista dos principais partidos concorrentes. À cabeça das preocupações de todos, por unanimidade, está a saúde na Região. Mas questões como a mobilidade, a água e a habitação também ocupam os lugares cimeiros.

Quisemos também saber quais os compromissos de cada um deles perante os seus eleitores. E nem faltou a clássica pergunta da Regionalização, agora que o assunto promete voltar a ficar na agenda política

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As perguntas

  1. Quais as perspetivas e expetativas do seu partido para as próximas eleições, no Algarve?
  2. Vai conseguir reverter (confirmar, no caso do PS) o que aconteceu nas últimas eleições autárquicas?
  3. Quais as principais bandeiras do seu partido para os próximos quatro anos aqui na Região?
  4. Pessoalmente, quais os seus compromissos para com os algarvios que vão votar em si na legislatura que se avizinha?
  5. A próxima legislatura pode ser mesmo, e finalmente, a da Regionalização?

Partido Socialista
Jamila Madeira
, economista
(atualmente deputada na AR), 46 anos

  1. Apresentamo-nos com confiança no trabalho feito. Estamos a trabalhar para renovar essa confiança. O lema da campanha é “Juntos seguimos e conseguimos”. E seguimos apesar do contexto pandémico, apesar de o Turismo ter sido o setor mais afetado da pandemia, houve um apoio às empresas de hotelaria e restauração e à economia, acreditamos nesse apoio dos algarvios. Queremos acreditar na renovação dessa confiança.
  2. Sabemos que a governação socialista tem feito um bom trabalho, recuperou o País e a economia da região depois da austeridade de 2011/2015. Tenho confiança que os algarvios vão reconhecer essa retoma e vão voltar a depositar o seu voto de confiança no Governo socialista.
  3. A primeira prioridade é a saúde. Continuamos a trabalhar no processo de consolidação da saúde. O Hospital Central continua a ser a nossa bandeira, que não avançou o suficiente para agora ser visível para os algarvios em tempo de eleições, pois a legislatura foi interrompida e não conseguimos ter esse resultado pronto, mas acreditamos que na próxima legislatura tornar-se-á realidade.
    Depois a mobilidade. Investir em transportes públicos, bem como o metro de superfície, mudando o paradigma de circulação na região.
    A terceira prioridade é a habitação e a água. No Algarve a habitação é um problema estrutural. Os 203 milhões que o PRR coloca ao dispor das autarquias para construir habitação a custos acessíveis são muito importantes. Investir na eficiência hídrica é estruturante e o apoio de 300 milhões de euros suplementares ao quadro tradicional servirão para não voltarmos a ter uma economia parada.
  4. A trazer desenvolvimento e crescimento económico para a nossa região, que é o maior compromisso com os algarvios sempre que me apresentei a eleições. Por outro lado, é tornar realidade o Hospital Central do Algarve. Farei todos os esforços para que todos os contratempos duma obra destas desapareçam.
  5. A nossa região é uma região natural e nós queremos avançar com ela e que todos os passos para essa consumação seja uma realidade a breve trecho. Existe esse compromisso por parte do PS de avançar com a Regionalização na próxima legislatura.

Partido Social Democrático
Luís Gomes,
48 anos,
professor universitário

  1. Até às eleições conseguirmos debater as soluções estruturantes para a região. O PSD quer ganhar estas eleições, ter o melhor resultado possível no Algarve, mas o que faz sentido no quadro destas eleições legislativas é não ganhar por ganhar. É ganhar assumindo compromissos de respostas e propostas que possam ser concretizadas. Já basta o exercício do poder pelo poder. O Algarve está sempre iludido com as mesmas propostas.
  2. As eleições autárquicas não são eleições legislativas. Nas autárquicas votaram-se candidatos para presidente de câmara, agora vamos votar para quem vai ser o próximo primeiro-ministro. São outras circunstâncias e outra realidade. As pessoas são suficientemente inteligentes para conseguir distinguir uma coisa da outra.
  3. Em primeiro lugar na saúde. Os algarvios são dos últimos da fila na qualidade de acessos à saúde. Este é um problema de todos os governos das últimas décadas, do meu partido e do Partido Socialista. Há que ter a frontalidade de dizer isto mas há que ter a frontalidade também junto do Governo para que os algarvios possam ter dignidade no acesso à saúde.
    Outro aspeto: nós não podemos estar a pagar portagens na A22 sem ter a EN125 devidamente requalificada. António Costa em 2015 prometeu isentar as portagens. Depois veio corrigir e atenuou em 50%. Nada disso foi feito. Quando os que são hoje candidatos e suportaram o PS prometeram aos algarvios que iam acabar com as portagens e requalificar a EN125 e depois já corrigiram em 2019, que iam reduzir em 50%.
  4. Primeiro compromisso: a forma de estar, de proximidade; o segundo: vou dar tudo para que se possa resolver o maior flagelo do Algarve, que é o acesso à saúde.
  5. O Partido Socialista também deu certeza que retirava as portagens e que construía o Hospital Central do Algarve. Espero que esta seja a legislatura da Regionalização, claro que sim! E da reforma do Estado, pois é lamentável termos um Estado absolutamente caduco, que não ajuda os cidadãos nem as empresas deste País.

Bloco de Esquerda
José Gusmão,
economista
(atualmente eurodeputado), 45 anos

  1. O Bloco é a única força política fora do Bloco Central que elege no Algarve. O nosso objetivo é manter essa representação, se possível com reforço da votação, porque ela é a única que garante que há deputados do Algarve que não pertencem aos dois partidos do Centrão.
  2. Iremos tentar. O PS já elege uma maioria absoluta de deputados pelo Algarve e essa maioria absoluta em nada serviu para que ao longo dos últimos seis anos e meio de Governos do PS os tais investimentos fossem desbloqueados. As pessoas devem refletir sobre isso numa região numa região com a maioria dos deputados socialistas e num país que tem sido governado pelo Partido Socialista.
  3. A primeira é a saúde. O Algarve está parado em investimentos de saúde há vários anos. O Hospital de Faro e o de Portimão, para além das dificuldades logísticas que foram acumulando devido à falta de investimentos, têm um problema gravíssimo no número de profissionais.
    A modernização da linha do Algarve, que tem a ver com a mudança do material circulante para aumentar a velocidade comercial da linha ferroviária do Algarve. E tem a ver com a articulação da linha ferroviária com os sistemas de transportes coletivos, o que agora não acontece.
    A terceira prioridade é a questão do ambiente e da água. O Bloco vem chamando a atenção para uma catástrofe da água que se prepara no Algarve, associada à forma irresponsável como se permitiu que a agricultura intensa alastrasse, e a conjugação disso com as alterações climáticas.
  4. O meu compromisso é fazer parte de um processo negocial que conduza a um acordo escrito que assegure um projeto de desenvolvimento para o País e para a região para os próximos quatro anos à semelhança do que foi feito em 2015 e rejeitado pelo PS em 2019.
  5. Essa é mais uma das promessas recorrentes sempre feitas em campanha e sistematicamente adiadas, por acordo entre os partidos do Bloco Central. A criação da região administrativa do Algarve seria absolutamente estratégica para pensar a mobilidade, as questões da economia do Algarve, para combater a instabilidade laboral.

Coligação Democrática Unitária
Catarina Marques,
44 anos,
professora de educação especial

  1. O objetivo principal é recuperar o deputado que perdemos em 2019. Mas esse objetivo depende sempre de uma concretização maior que depende da força que o povo nos der a 30 de janeiro. Quanto mais força e mandatos tivermos mais próxima fica a concretização da política alternativa que propomos para a região e para o País.
  2. Sobretudo afirmamos uma política alternativa à que tem sido praticada. É mudar completamente o paradigma de política, de sociedade. Para conseguirmos concretizar essa política alternativa, patriótica e de esquerda, a nossa vontade é que a consigamos concretizar. Quanto mais força nos der o povo melhores condições teremos para concretizar essa política.
  3. Há uma grande urgência na construção do Hospital Central. Está prometido há muitos anos, nunca foi concretizado e o PRR nem sequer o contempla.
    Depois temos o modelo económico da região. O Algarve tem condições e potencialidades para o Turismo e este deve ser desenvolvido, mas não podemos depender só desta atividade. Temos que recuperar o nosso aparelho produtivo, a agricultura, as pescas, a indústria, a tecnologia.
    Temos a questão dos salários, no Algarve há um problema acrescentado: os trabalhadores estão muito ligados ao turismo e hotelaria e põe-se a questão dos baixos salários e da precariedade. Somos a região do País com níveis de desemprego mais elevados e com práticas de salários mais baixos. Uma maior percentagem da população vive com o salário mínimo nacional.
  4. Dar resposta aos problemas da região, população e trabalhadores. Por exemplo na habitação, enquanto deputados, podemos exigir do Governo que crie políticas de investimento público. No fundo comprometemo-nos a dar resposta aos problemas e anseios da população.
  5. Temos muita vontade que isso aconteça. Aliás a regionalização é um imperativo constitucional que está por cumprir desde 1976. O Algarve tem condições para se tornar uma região administrativa.

Iniciativa Liberal
Cláudia Vasconcelos
, 38 anos,
diretora hoteleira

  1. Vamos trabalhar para ser eleitos. O partido existe desde 2017, fomos a umas eleições legislativas em 2019 e na altura não havia grande implantação do partido no Algarve. Tivemos cerca de mil votos nessa altura e nas presidenciais tivemos cerca de 4 mil votos. A onda liberal cresceu também no Algarve. Um deputado liberal algarvio fará a diferença. Vamos lutar todos os dias, para que o Algarve não fique esquecido e que os algarvios tenham sempre voz no parlamento.
  2. Lutaremos por isso, até porque numa região como o Algarve, com um tecido empresarial de pequenos e micro-empresários, não é natural que exista uma preponderância eleitoral tão grande do PS, porque as pessoas hão-de preferir trabalhar a viver de subsídios. A dicotomia entre PS e PSD é muito forte no Algarve. A maior parte dos deputados são PS e PSD e achamos que isto não devia ser assim. Mas com partidos como o Bloco de Esquerda a apresentarem candidatos que nem sequer são do Algarve é complicado, porque para defender uma região temos que a conhecer. Podemos não ser nascidos nela, mas para conhecer as necessidades, os problemas e as mais-valias da região é preciso alguém que viva no Algarve. É o meu caso, sou de Albufeira, onde vivo, e trabalho em Portimão.
  3. Há algumas semanas fizemos um questionário online aberto ao público, onde perguntávamos o que preocupava mais as pessoas. E tivemos quatro respostas com um destaque brutal: a primeira foi a saúde, com mais de 90% das respostas, a mobilidade, a economia, o emprego e a dependência do Turismo e por último a educação.
  4. O que podem esperar de mim é que eu não vou sair da Assembleia da República, em 2026, sem que fique resolvido o problema da saúde e do emprego e sazonalidade no Algarve.
  5. A Regionalização não é uma bandeira nossa. A nossa bandeira é a descentralização, acima de tudo porque achamos que uma descentralização bem feita pode ser mais rápida e eficiente do que a Regionalização em si. Mas não somos contra a Regionalização, dentro do partido há pessoas que a defendem. Somos um partido liberal…

Pessoas Animais e Natureza
Ana Poeta
, 42 anos,
técnica de desenvolvimento local

  1. A expetativa mais global é manter os quatro eleitos que temos e no Algarve é levar um deputado pelo círculo. Temos todas as ferramentas para defender os interesses dos algarvios no Parlamento e é a isso que nos propomos.
  2. Tenho uma perspetiva diferente. A hegemonia acabou por ser da abstenção. Houve 54% de algarvios que não foi votar. Os que foram votar, votaram mais PS, mas nós tivemos um bom desempenho: conseguimos eleger quatro deputados municipais, um deputado a uma junta, aumentámos o número de votos. Temos consciência que temos eleitores que já não se reveem muito na dicotomia direita/esquerda, ou PS/PSD. Um dos objetivos é trazer mais população para a política, isto é, tornando os assuntos políticos acessíveis a toda a gente. O objetivo deve ser diminuir os números da abstenção.
  3. Temos três pilares de suporte: as pessoas, animais e natureza. Nas pessoas, eu destacaria a questão da saúde, a necessidade urgente da criação de um hospital central; falamos também da habitação, que não passa muito por construirmos mais, porque temos casas no Algarve, mas muitas delas estão fechadas ou a preços que não estão acessíveis. E só estão acessíveis durante o Inverno.
    Na questão animal, vamos continuar a batalhar na construção de centros de apoio animal em todos os municípios e para que os serviços médico-veterinários sejam mais acessíveis. Quase todos nós temos um animal em casa e dedicamo-nos a ele, em família, e sabemos que tanto a questão médico-veterinária como a alimentação é cara.
    Relativamente à natureza, continuar a batalhar na mitigação das alterações climáticas mas de uma forma mais transparente. Não sei se as pessoas percebem, mas estamos a falar de, no fim do caminho, daqui a uns anos a gente abrir a torneira e não ter água. Estamos a falar de coisas mais concretas.
  4. Uma das questões de batalha ‘e a criação do Hospital Central do Algarve. O Hospital que temos é obsoleto, tanto para os doentes como para quem lá trabalha. Toda a gente sabe, toda a gente vê, mas vai-se chutando o assunto para canto.
  5. A questão deve estar sempre presente na legislatura, mas logo na questão do início. Somos pelo referendo, mas entendemos que ele deve ser alargado. Tem que ser explicado o formato, qual a divisão e como vai ser feita, as competências de cada um. Estas coisas têm que ser debatidas e explicadas. Falamos muito em Regionalização, mas não colocamos em cima da mesa nem as potencialidades nem os obstáculos. O partido é a favor da auscultação da população e seguindo o que a população quiser nós estamos com ela.

CDS – Partido Popular
José Pedro Caçorino
, 60 anos,
profissional de seguros

  1. Não está fácil, admito que as próximas eleições nos suscitam muitas dificuldades. Face ao peso de alguns partidos concorrentes que até há pouco tempo não andavam nestas lides, temos condições políticas para reafirmarmos as nossas causas de sempre. O nosso objetivo é eleger pelo menos um deputado, é possível embora difícil.
  2. Para que isso aconteça é necessário que a área do centro-direita saia reforçada. Temos que dar um contributo grande para a eleição de todos os outros círculos para que isso possa acontecer. E só acontece se tiver um resultado direto na expressão do voto do povo.
  3. O que me preocupa mais é o tema da água. Se não houver água, a nossa monocultura do Turismo cai por terra. E se cai o Turismo cai tudo.
    É preciso uma diversificação do modelo económico, complementar ao Turismo. Não podemos estar dependentes só de um serviço ou oferta, temos que ter condições naturais para essa diversificação.
    Quanto à saúde, não sou dos que defendem acerrimamente o Hospital Central sem que isso seja acompanhado de uma verdadeira preocupação com a reformulação do SNS, com o reforço de uma rede de cuidados primários e a criação de incentivos que levem à fixação de pessoal da saúde.
  4. O compromisso de ser o porta-voz dos algarvios na Assembleia da República. Encaro o exercício deste mandato de deputado numa perspetiva de serviço. Sempre fiz um serviço de cidadania e disponibilidade e é isso que quero fazer. Levar os verdadeiros problemas, propostas, anseios, que ouvir dos algarvios ao Parlamento. Quero fazer com que os algarvios andem de queixo levantado e não de mão estendida.
  5. Temos que definir qual o modelo de Regionalização. Além da distribuição, qual a estrutura. Não queremos uma Regionalização de “tachos”, de mais despesa. Temos que saber o modelo e caso ele seja próximo das nossas regiões autónomas ou da que foi chumbada no referendo de 1998 – que previa a criação de uma nova classe política – aí, somos frontalmente contra. Caso queiram alocar os meios humanos que já existem nas entidades regionais, podemos ponderar esse modelo. Não me parece mal consultar os portugueses sobre isto.

João Prudêncio

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