Obama restringe venda de armas e põe mais polícia nas escolas

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Reagindo à sucessão de massacres nos EUA, Barack Obama assinou ontem uma directiva com novas medidas de segurança, ficando à espera que o Congresso proíba a venda de armas de assalto e de carregadores com mais de dez balas.

Testes mais rigorosos para todos aqueles que quiserem comprar uma arma e um reforço policial nas escolas são duas das recomendações expostas na directiva assinada esta quarta-feira, em Washington, pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

A sucessão de massacres nos EUA, como o que ocorreu em Newtown há cerca de um mês, onde 26 pessoas foram mortas, entre as quais 20 crianças, transformou-se no principal tema de debate político nos EUA. “Desde Newtown, cerca de 900 pessoas morreram vítimas de uma arma”, revelou o líder americano esta manhã.

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Obama surgiu acompanhado pelo vice-presidente Joe Biden, por alguns dos pais das vítimas de Newton e por quatro crianças que enviaram cartas à Casa Branca sobre o tema das armas e da violência nas escolas.

“E isto são crianças. Nós temos de fazer tudo por tudo para os manter protegidos. Temos essa obrigação”, afirmou o chefe de Estado.

Relatório feito num mês

Depois do massacre de Newtown, há precisamente 33 dias, Obama nomeou Biden para chefiar um grupo de trabalho, com a tarefa de elaborar um conjunto de recomendações. Na segunda-feira, Obama tinha o dossiê em cima da mesa.

Esta manhã, o líder americano prometeu “fazer o que for preciso para tornar as recomendações do Joe realidade” e explicou que “a proposta pretende dar mais condições” à polícia, escolas e pessoal médico para lidar com o fenómeno do “acesso desregulado” às armas.

Exames mais rigorosos aos indivíduos que pretendam adquirir uma arma, reforço da segurança nos estabelecimentos de ensino, incentivo ao desenvolvimento de planos de urgência, financiamento da pesquisa científica sobre os efeitos dos vídeo jogos violentos nas crianças, proibição de venda de armas de assalto (semiautomáticas e específicas para uso militar) e de carregadores com mais de 10 balas são algumas das recomendações do grupo de trabalho liderado por Joe Biden.

Nem todas estão incluídas na directiva assinada hoje pelo Presidente americano, como a proibição de venda de armas de assalto e de carregadores de grande capacidade, que necessitam de aprovação do Congresso.

“Será muito difícil convencer a Câmara dos Representantes a aprovar leis mais restritivas. A maioria republicana não está convencida das ideias do Presidente”, explicou-nos uma fonte democrata do Congresso.

Barack Obama dirigiu-se, directamente, à oposição conservadora e recordou o antigo presidente Ronald Reagan, um republicano e acérrimo defensor do segundo artigo da Constituição, mas que em 1994 recomendou que o Congresso decretasse a proibição da venda de armas de assalto.

Milícias contra-atacam

No estado de Nova Iorque (NI), qualquer pessoa que queira comprar uma arma é obrigada a passar por uma série de testes e entrevistas, feitas por pessoal médico e pela polícia, que chega a reunir-se com familiares, amigos e vizinhos, esmiuçando o perfil do requerente.

A legislação em NI é das mais restritivas, mas, na prática, não impede que quem queira comprar armamento não o consiga. “Basta conduzir até ao estado vizinho da Pensilvânia, onde as normas são menos restritivas, e comprar lá. Em alternativa, podem ir até uma qualquer esquina de um desses bairros onde o tráfico é que manda e comprar no mercado negro”, explicava ao Expresso Harold Schroeder, membro da milícia “Scope” (alvo), ex-director da National Rifle Association (NRA), e um dos maiores activistas na defesa da segunda adenda da Constituição Americana, que define o direito universal de licença e porte de arma.

Filhas de Obama no centro da polémica

Num anúncio televisivo, estreado ontem, a NRA pergunta porquê que as filhas de Obama têm direito a serem protegidas por agentes armados dos serviços secretos e o americano comum não tem direito a comprar armamento para proteger os seus.

O secretário de imprensa, Jay Carney, considerou que aquela reclamação “arrastou” a polémica em redor da licença e porte de arma nos EUA para “um novo fundo”, afirmando que a premissa é simplesmente “estúpida”.

Aos poucos a NRA, que gere uma das mais poderosas redes de lobby em Washington, a partir da rua J, a poucos minutos a pé do Congresso, reage com argumentos contrários à produção de legislação mais restritiva.

Menos armas menos emprego

Na linha de frente desse contra-ataque está a indústria de armamento, que financia congressistas de ambos os partidos. Ontem, membros do sindicato e trabalhadores da “Remington Arms Factory” de Nova Iorque, que produz a metralhadora AR15, arma usada no massacre de Newtown, Connecticut, protestaram em frente ao palácio do Governador Andrew Cuomo, na capital estadual, Albany.

“Less guns, less jobs” (menos armas, menos empregos), gritavam em uníssono cerca de 40 indivíduos, reclamando que mais restrições irão diminuir a produção de armamento, o que obrigará a fábrica a despedir pessoal.

Num cenário de lenta recuperação económica (a taxa de desemprego cifra-se nos 7,8%, depois de ter chegado aos 10,4% em meados de 2009, no pico da recessão), a NRA quer convencer os americanos que a iniciativa de Obama é má para o crescimento.

Ricardo Lourenço (Rede Expresso)
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