Obras muito contestadas “inventam” praia artificial

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A intervenção tem sido alvo de forte contestação por parte dos habitantes e dos ambientalistas

A Almargem critica duramente a “ação de emergência” efetuada na praia de Odeceixe pela Sociedade Polis. Segundo a associação ambientalista, a obra limitou-se a extrair areia da “praia maravilha de Portugal” para depositá-la do outro lado da ribeira, no concelho de Odemira. Está assim “inventada” a ‘praia Norte de Odeceixe’, que, segundo a Almargem, deverá ser engolida pelo mar no próximo inverno, assim com os milhares de euros que foram gastos nesta obra “injustificável e inútil”

 

Uma das “7 Maravilhas – Praias de Portugal” foi alvo nos últimos meses de uma empreitada polémica, no âmbito do Polis Litoral Sudoeste. Trata-se da praia de Odeceixe, que está localizada no extremo norte do concelho de Aljezur e tem a particularidade de conter uma praia fluvial, pois é limitada a nascente e a norte pela ribeira de Seixe, que faz fronteira natural com o Alentejo.

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A intervenção do Polis arrancou no início do verão e desde logo foi alvo de forte contestação por parte de comerciantes e moradores por se realizar nesta altura do ano. No mês passado, os trabalhos chegaram a ser mandados parar pela Câmara de Aljezur por pressão da população, mas a obra foi retomada e em parte concluída. A segunda fase do projeto, que inclui a construção de passadiços no areal, ficou adiada para setembro, depois da época balnear.

Entre as críticas está o facto de a Sociedade Polis ter retirado areia da praia de Odeceixe para fazer uma praia fluvial do outro lado da ribeira, já no concelho de Odemira (Alentejo).

“A chamada ‘Praia Norte de Odeceixe’, foi alvo, há meses atrás, de uma empreitada no valor de 112 mil euros, que visou melhorar os acessos, ordenar o estacionamento e enquadrá-lo melhor na paisagem. Acontece que a ‘Praia Norte de Odeceixe’, pura e simplesmente não existe!”, esclarece a Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve – Almargem, acrescentando que se trata de “uma extensão de afloramentos rochosos e cascalho que, na maré vaza, deixa a descoberto pequenas extensões de areia húmida e poças de água”, sendo uma zona completamente desabitada, apenas procurada por autocaravanas e outros veículos no verão.

50 mil euros para criar praia polémica

Mas o problema não se fica por aqui. A Almargem adianta que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já tinha prevista uma intervenção de “emergência” na praia de Odeceixe, no sentido de repor as condições existentes antes da tempestade ocorrida em janeiro de 2014, para além de um projeto de “reforço do sistema de escoamento natural da foz da ribeira de Seixe e do sistema dunar”, que acabou por ser concretizado pela Sociedade Polis Litoral Sudoeste, num investimento de cerca de 50 mil euros.

Segundo a direção da associação, esta obra limitou-se a criar uma nova praia no concelho de Odemira. “Para tal, resolveu retirar-se, com um bulldozer, grandes quantidades de areia da zona dunar da praia de Odeceixe, carregá-la num camião, transportá-la para a margem contrária, atravessando a ribeira a vau, e depositá-la aí em cima das pedras e do cascalho”, denunciam os responsáveis da Almargem.

Assim, para além da perturbação causada aos utentes da praia de Odeceixe, em plena época balnear, a associação critica a “destruição abusiva dos ecossistemas dunares, fluviais e intermareais, provocada pela mobilização de materiais do leito da ribeira, aterro da margem direita e depredação do frágil cordão dunar da praia de Odeceixe que se encontrava já em recuperação”.

“Incompetência” ou “um lamentável desconhecimento”

A Almargem acusa ainda os técnicos da obra de “incompetência”, explicando que, do ponto de vista geológico, esta intervenção revela ainda “um lamentável desconhecimento da dinâmica sedimentar de um curso de água”.

“Numa zona de meandro, como sucede na foz da ribeira de Seixe, as águas tendem a depositar a areia e outros sedimentos que transportam na margem convexa (neste caso, a esquerda) , escavando e erodindo a margem côncava (neste caso, a direita). É por isso que a praia de Odeceixe foi crescendo naturalmente na margem esquerda e é por isso que a ‘praia Norte de Odeceixe’, inventada pela APA e pela Sociedade Polis Litoral Sudoeste, irá provavelmente ser arrastada pela primeira grande enxurrada de inverno, juntamente com os milhares de euros que foram gastos com esta obra injustificável e inútil”, sublinha a associação.

Nuno Couto/JA

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