Obrigado, Gana, mas era preciso mais do que um milagre

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Os ganeses andaram a fazer de tudo para que os astros se alinhassem e o milagre português caísse do céu sem pré-aviso: os malões de dinheiro que cruzaram a autoestrada num comboio de segurança, transmitido em direto pela Globo; a bofetada de Muntari ao dirigente e o palavrão de Boateng ao treinador que deixou a ambos de fora; o golo de Boye a passe milimétrico de Miguel Veloso que mostrou um povo africano com costela portuguesa; e o mesmo Boye a tentar repetir a dose quando a bola lhe chegou de João Pereira.

Se o que se temia era o tal arranjinho germano-americano, só possível na cabeça de quem não conhece alemães e americanos, o que os primeiros 45 minutos nos mostraram foi um Gana a namoriscar com uma derrota simpática para português passar. Só que os portugueses são tapadinhos e não se aperceberam da conversa de engate. Perderam todas as abébias que lhes apareceram pela frente, apesar de tudo o que de benzinho foram tentando fazer. Na primeira parte, William deu uma sensação de segurança, Amorim alguma frescura e os lances de Ronaldo levaram-nos à estúpida e perversa conclusão de sempre: a de que ele, mesmo a meio-gás, vale o dobro de qualquer outro.

Na segunda parte, Portugal tinha de fazer o segundo para então tentar o terceiro e eventualmente o quarto. Acabou por sofrer um, por Gyan, a cruzamento de Asamoah, com Miguel Veloso pregado ao chão. E o que se seguiu está no roteiro de todas as histórias das seleções que se veem num beco sem saída: rematam e batem com a cabeça na parede, perdem-se em picardias e mexem-se em círculos à volta delas próprios e do árbitro.

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Uma equipa com cinco lesões, uma expulsão, seis golos sofridos e apenas dois marcados em dois jogos não merecia um final feliz

Sim, é verdade, que Ronaldo ainda fez o seu primeiro golo no Mundial numa bola oferecida pelo guarda-redes ganês e ainda teve o segundo nos pés, mas nada apaga a imagem pobrezinha de uma formação que se arrastou pelo Mundial, presa por músculos e articulações atrofiadas, sem uma ideia de futebol que justificasse o estatuto de candidata a qualquer coisa, mesmo que essa coisa fosse apenas a passagem aos oitavos-de-final.

O milagre de Portugal não aconteceu porque não tinha de acontecer e honestamente seria injusto se tivesse acontecido. Uma equipa com cinco lesões, uma expulsão, seis golos sofridos e apenas dois marcados em dois jogos não merecia um final feliz. É evidente que seleção não foi eliminada do Mundial pelo jogo que fez diante do Gana mas pelos antecedentes que o levaram até à última jornada da fase de Grupos a depender de duas goleadas: a sua e a da Alemanha. Convenhamos que uma e outra eram irrealizáveis, mesmo na realidade alternativa, onde Portugal aterrou em Campinas como a quarta melhor do mundo e com o melhor jogador do mundo. Ou será que aterrou?

RE

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