Observatório diz que emigração não é resposta para o desemprego

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O coordenador do Observatório da Emigração considera que a saída para o estrangeiro não é, no contexto atual, resposta para o problema do desemprego em Portugal, lembrando que a generalidade dos países não consegue absorver emigrantes.

“Vai ser difícil, nos tempos mais próximos, pensar que o desemprego se resolve com base na emigração”, diz Rui Pena Pires, em entrevista à Agência Lusa.

O investigador adiantou que os dados mais recentes confirmam a tendência de desaceleração dos fluxos migratórios, uma realidade que, acredita, nem as medidas de austeridade anunciadas irão alterar.

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Até porque os dois principais destinos da emigração portuguesa nos últimos anos – Espanha e Reino Unido – registam também elevadas taxas de desemprego.

“A maioria dos países da Europa e América do Norte tem problemas de desemprego sérios e não é provável que possam absorver muita emigração provocada pela crise”, diz.

Rui Pena Pires rejeita a ideia de que a crise está a gerar uma onda de emigração semelhante à dos anos 1960, considerando que há um “desfasamento” entre os números e a perceção pública.

“O grande crescimento da emigração para números próximos dos anos 1960 é anterior à crise e não consequência da crise. A crise veio travar este movimento”, adianta.

“Na primeira metade desta década, saíam em média 70 mil pessoas por ano (80 mil na década de 1960). Quando isso começou a ser visível fora dos círculos académicos foi quando acabou”, explica.

Para o investigador, os números atuais confirmam uma desaceleração das saídas para todos os destinos, existindo apenas dúvidas sobre Angola.

“Não temos dados seguros para dizer que a emigração para Angola cresceu. Aparentemente cresceu. (…) O dinheiro que os portugueses mandam de Angola para Portugal (…) tem vindo sempre a crescer. Esse crescimento pode indicar que a emigração continua a crescer”, sustenta.

O coordenador do Observatório não prevê que possam surgir novos destinos para a emigração, adiantando que as saídas para os países árabes por via das empresas de construção portuguesas não têm expressão estatística.

“Vai demorar algum tempo até a emigração poder crescer como cresceu no passado. Podemos ser surpreendidos, pode ser que de repente recomece a emigração para o Brasil, mas neste momento não há nenhum dado que aponte nesse sentido”, diz.

Por seu lado, Jorge Arroteia, investigador da Universidade de Aveiro e coordenador da Academia Virtual da Emigração – Emigrateca, acredita que a situação atual do país gerará “um acréscimo dos fluxos emigratórios, a menos que a situação na Europa e noutros destinos de emigração, o não venha a permitir”.

No mesmo sentido, Engrácia Leandro, da Universidade do Minho, considera que no contexto atual “a emigração pode afigurar-se como um recurso muito plausível”.

A catedrática de Sociologia alerta, todavia, para o facto de a nível internacional estarmos longe do período dourado da emigração portuguesa.

“Não vivemos hoje em “anos gloriosos” como acontecia nos anos 1960 e 1970 em que se fazia insistentemente apelo à emigração (…), o que não é o caso atualmente, em que se procura por todos os meios fechar as portas”.

Ainda assim, acredita que não será por isso que os desempregados portugueses “deixarão de estar à espreita (…) das melhores oportunidades”.

AL/JA

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