Decorreram, nos passados dias 3 e 4 de maio, as Olimpíadas Nacionais da Filosofia, que já vão na sua 8.ª edição. O evento teve lugar na Escola Secundária António Damásio em Lisboa e estiveram representadas mais de 50 escolas públicas e privadas de todo o país, tendo participado mais de noventa alunos. Pela primeira vez participei neste evento, representando a Escola Secundária José Belchior Viegas de São Brás de Alportel e acompanhando dois alunos da mesma.
Confesso que o meu interesse pelo certame nunca foi muito grande por razões que vão desde o desinteresse pela Filosofia revelado por grande parte dos alunos, à falta de qualidade que muitos deles lhe atribuem, ao meu envolvimento pessoal noutras atividades, entre outros. E tudo era assim, até ao momento em que dois alunos da minha escola que frequentam o 12.º ano, e que não são nem nunca foram meus alunos, me contactaram no sentido de eu os acompanhar, uma vez que já tinham participado no ano passado, acompanhados pela sua professora, e queriam repetir a experiência. Não esperava mesmo que alguma vez houvesse alunos com tanto interesse pela Filosofia ao ponto de, não tendo já a disciplina, quisessem participar, pela segunda vez, nas suas olimpíadas, mesmo acompanhados por um professor que não conheciam. Como poderia não apoiá-los? Como poderia dizer-lhes que não? Só se houvesse um motivo de força maior que me impedisse. Mas não era o caso. E se, no meu entendimento, todo o interesse dos alunos por esta disciplina tantas vezes mal amada tem de ser o mais apoiado possível, eu não lhes poderia dizer que não.
Além da muito boa organização a cargo da PROSOFOS, Associação para a Promoção da Filosofia, e do pessoal da Escola Secundária António Damásio (gestão, docentes, não docentes e alunos), o que encontrei no evento foi uma autêntica bolha à prova do desvalor da Filosofia, tão latente e por vezes até socialmente presente de forma bem visível. Ali, todos os envolvidos não só gostam de Filosofia como a celebram e praticam. Os alunos discutiam assuntos filosóficos enquanto almoçavam e conviviam, os docentes trocavam experiências e pontos de vista e todo o ambiente era de verdadeira celebração da Filosofia. Foi muito bom tomar consciência do quanto a Filosofia está viva em Portugal.
Mas o melhor ficou para o final. Um dos alunos da minha escola, Duarte Amaro, foi selecionado para realizar a prova em língua estrangeira, o que significava que iria ficar classificado entre os 10 primeiros. Não fosse já isto um motivo de enorme satisfação, a sua posição final foi o 2.º lugar, medalha de prata, tendo sido um dos representantes portugueses nas Olimpíadas Internacionais da Filosofia juntamente com a 1.ª classificada, que tiveram lugar em Roma entre 16 e 19 de maio e onde obteve uma medalha de bronze. Foi absolutamente fantástico! O Algarve, São Brás de Alportel e a escola pública estiveram representados nas Olimpíadas Internacionais da Filosofia, onde conseguiram o bronze.
Mencionar aqui a escola pública faz todo o sentido, pois são quase sempre alunos do ensino privado que ganham as medalhas. Entre os dez primeiros, sete são da escola pública, da qual são também os medalhados com prata e bronze. Não haverá também aqui algum mérito do trabalho da escola pública? Parece evidente que sim, no que concerne ao desenvolvimento do gosto dos alunos pela disciplina e na oferta de condições para tal.
Esperemos que os alunos participantes continuem a gostar da Filosofia e que consigam futuramente torná-la mais presente na vida pública. Um grande bem haja para o Duarte Amaro, assim como para todos os outros alunos do Algarve, de onde estiveram 5 escolas públicas, e do país, assim como aos colegas de todas as escolas participantes, da escola anfitriã e à PROSOFOS. No próximo ano lá estarei por minha iniciativa, a menos que não tenha alunos interessados.
Para terminar, resta sublinhar dois factos demonstrativos de que estas olimpíadas estão a produzir efeitos positivos. O primeiro é o facto de o número de alunos participantes ter vindo a aumentar de ano para ano. O segundo é a realização, em Lisboa, das Olimpíadas Internacionais da Filosofia, no próximo ano.
António Macedo
*Professor de Filosofia e Dirigente Sindical do SPZS