Centenas de voluntários – com o apoio do município e de várias instituições – estão a servir de “porto de abrigo” às pessoas afetadas pelo incêndio de Monchique, numa onda de solidariedade que tem crescido a cada dia que passa. “Esta mobilização é impressionante e deve servir de exemplo”, referem os responsáveis que estão na linha da frente. As entregas de bens essenciais e as campanhas para recolher donativos multiplicam-se, com vista a acelerar a recuperação das vidas das pessoas e da floresta. Quem está a ajudar promete “eficácia e transparência” na identificação das necessidades e no alívio das carências imediatas das mais de 320 famílias afetadas. No entanto, por enquanto, ainda faltam apoios financeiros
Duas semanas depois do incêndio, viajar pela serra de Monchique é mergulhar numa desoladora paisagem pintada de negro. A população ainda faz contas à destruição provocada por um “mar de chamas” que levou oito dias a ser controlado. Há quem tenha perdido tudo, há quem não tenha perdido nada e há quem tenha perdido alguma coisa, mas no rescaldo do incêndio todos têm consciência de que os próximos anos não serão fáceis. A população da serra, envelhecida, já não tem muitas forças para voltar a reerguer a sua vida das cinzas.
O último balanço aponta para 74 casas atingidas pelo fogo no concelho, 32 das quais eram de primeira habitação. Alferce foi a aldeia mais afetada, com cerca de duas dezenas de habitações consumidas pelas chamas. E há ainda que contar com cerca de 400 explorações agrícolas afetadas, assim como centenas de apoios agrícolas e armazéns destruídos. Ou seja, à tragédia que começou no dia 3 de agosto e que se prolongou durante uma semana, até 10 de agosto, soma-se agora o drama do futuro, tanto a nível humano, como natural e económico.
Perante esta “situação de exceção”, a Câmara de Monchique anunciou na semana passada uma conta solidária oficial de apoio às vítimas dos incêndios, denominada “Renascer Monchique – Todos Unidos por Monchique”, com o número de Iban PT50 0045 7190 4030 1000 6742 6. No entanto, até agora, este fundo tinha apenas recolhido pouco mais de mil euros, lamenta o presidente da câmara, Rui André.
Além disso, dezenas de voluntários juntaram-se desde a primeira hora ao município e a várias instituições para servirem de “porto de abrigo” às populações.
323 famílias acompanhadas de perto
Esta onda de solidariedade para com as vítimas do incêndio que assolou os concelhos de Monchique, Silves e Portimão foi em crescendo e, volvidas duas semanas, parece mesmo um “tsunami”, com as entidades que no terreno coordenam e articulam a ajuda às pessoas a solicitarem até o abrandamento de algumas dádivas, como roupa e alguns produtos alimentares.
Toda a ajuda à população afetada pelos fogos está a ser orientada para o Centro de Apoio à População, localizado na Escola EB 2,3 de Monchique, onde é efetuado o registo de danos e a atribuição de ajuda de uma maneira eficiente.
É lá que está um movimento “100 por cento civil”, criado por um grupo de cidadãos de Monchique, em colaboração com a autarquia local, que está na linha da frente do apoio aos que sofreram mais perdas neste incêndio.
A ‘Plataforma de Coordenação da Ajuda para Monchique’ – que une desde os escuteiros e guias, a associações de empresários do Algarve, famílias solidárias, grupos de amigos, entidades religiosas e de boa vontade, assim como pessoas a título individual – recebe e distribui comida, bens essenciais, roupas e até voluntários.
“Temos cerca de 323 famílias registadas, das quais acompanhamos 160 famílias em alta vigilância e assistência, sendo que 40% destas estão desalojadas porque as suas casas estão totalmente destruídas ou gravemente danificadas”, conta ao JORNAL DO ALGARVE Joana Martins, de 32 anos, que foi a mentora desta plataforma de ajuda para Monchique, de onde é natural.
Joana Martins, que atualmente reside em Moçambique, refere ao nosso jornal que soube do incêndio quando estava a trabalhar na África do Sul. “Fiquei logo com o coração nas mãos, porque vivi o incêndio de 2003 e, tal como toda comunidade, tenho os meus traumas e memórias”, salienta, frisando que sentiu de imediato uma sensação de necessidade de “estar próxima da família e contribuir para uma gestão eficaz do pós-pânico”…
(NOTÍCIA COMPLETA NA ÚLTIMA EDIÇÃO DO JORNAL DO ALGARVE – NAS BANCAS A PARTIR DE 23 DE AGOSTO)
Nuno Couto|Jornal do Algarve