A falta de vacinas conduz a reações, justificadas muitas delas, a proporções que nos conduzem a colocar tudo em causa. A eficácia das mesmas alimentando movimentos negacionistas que nos conduziriam ao abismo na saúde pública, a soluções de procura fora do quadro das negociações efetuados pela União Europeia, o que nos poderia conduzir a vacinar pessoas sem o aval das entidades europeias do medicamento, à depreciação do seu valor na defesa da saúde pública.
Todo este panorama conduz, somado ao cansaço provocado por este longo inverno de pandemia, do qual resultam isolamentos cada vez mais insuportáveis, somados a um sentimento de insegurança, incerteza, quanto ao que nos espera, tudo acumulado pelos níveis de desemprego que disparam, pelo encerramento de empresas, ou pela redução abrupta de efetivos que o teletrabalho não compensa.
Em todo este quadro quanto às razões do atraso da vacinação existem responsáveis e em primeiro lugar a UE, que não se mostrou capaz de enfrentar como lhe era devido, os interesses das grandes empresas farmacêuticas que viradas para o lucro pouco se importaram para cumprir contratos perante a passividade que os responsáveis da Presidência da União Europeia demonstraram em tal contexto. Exemplo singular deste quadro e que aqui vos trago como retrato, é o facto de um familiar muito próximo, bem mais novo do que eu, a viver à décadas em Marrocos, já ter sido vacinado em doze dupla, assim como toda a comunidade estrangeira ali residente, na maioria composta por franceses que ali decidiram viver o resto das suas vidas, vacinação suportada pelos serviços públicos de saúde vigente no País.
E então interrogo-me? Eu que desde a primeira hora, e aqui o traduzi, me preocupava sobre as consequências de toda esta pandemia iria provocar quanto ao acesso à vacinação de países mais pobres eventualmente acentuando maiores diferenças sociais e fatores de pobreza, dou por mim a interrogar-me o que se está a passar na EU. Bem sei que o exemplo vale por si mesmo e não corresponderá ao quadro geral em que a África e países chamados do terceiro mundo se encontram face à pandemia, mas não deixa de nos interrogar do porque de tais atrasos que nos batem à porta e quais as medidas que estão a ser tomadas para que tal não persista com prejuízos para uma parte importante da população tendo em vista a sua idade ativa. As últimas notícias dão-nos alguma esperança, suportada por maior contingente de vacinas recebidas que teve como consequência a vacinação em massa de professores e pessoal auxiliar. Operação de facto notável há que reconhecê-lo. Oxalá continue para que os anúncios de tempos melhores se confirmem.
Para além da pandemia o País político enfrenta, até ver, a primeira colisão entre Governo e Presidência a propósito da chamada ”Lei Travão“ que não permite alterações de despesa orçamental que possam distorcer a sua execução em matéria de dívida. Aprovados diplomas nesse sentido pela maioria dos grupos parlamentares, com exceção do PS, cabia a última palavra ao Presidente que pelo que as notícias de hoje dão conta, resolveu promulgar tais diplomas. Em tal situação cabe ao governo aceitar ou enviar para o Tribunal Constitucional para sua apreciação abrindo um fosso na sua aplicação. Creio que ninguém estará interessado na abertura de uma crise política em tais circunstâncias e que as posições assumidas se destinam sobretudo a provocar algum desgaste ao poder por uma direita ansiosa de lá chegar e uma esquerda que ainda não encontrou o seu posicionamento no quadro político em que o País se encontra.
Carlos Figueira