O final do processo de discussão e aprovação do Orçamento deixou o PS e o PSD de costas ainda mais voltadas. No encerramento do debate orçamental, que se prolongou por todo o mês de novembro, António José Seguro considerou que o debate “fez cair a máscara do consenso” do lado da maioria, lembrando que nenhuma das principais propostas do PS foi aceite.
Na resposta, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, avisou que o consenso “não se faz na base da demagogia e na base da fuga ao diálogo democrático”. E considerou que o PS só terá “verdadeira vontade” de dialogar “quando se libertar de uma liderança ensombrada pelo ex-líder e pelo fundador, alternadamente”.
“Afinal, quem faz hoje a agenda do PS?”, perguntou Montenegro, bastante aplaudido pelas bancadas da coligação. “O seu secretário-geral? Ou essa aula magna que instiga a quebra da urbanidade e do respeito democrático e que exige, de uma assentada e cumulativamente, a queda do Governo, a queda do Parlamento e a queda do Presidente da República?”
O dirigente social-democrata lembrou “o silêncio da direção do PS” perante as palavras de Mário Soares na sessão da Aula Magna e questionou “que valor devem os portugueses atribuir-lhe”. “De concordância encampotada? Ou de discordância envergonhada?”
Foi o ataque mais duro de Luís Montenegro a António José Seguro, que nomeou explicitamente e que acusou de ter uma atitude de “ou aceitam as coisas como queremos ou não há diálogo!”
“Instrumentalizar” o PS
Antes, o líder socialista tinha arrasado a proposta de Orçamento do Estado, considerando que tem cinco marcas principais: “A marca do empobrecimento e da desigualdade social”, “a marca da provocação constitucional, a marca da farsa dos consensos, a marca do preconceito contra tudo o que é ‘público’ e a marca da hipoteca do nosso futuro”.
Sublinhando o divórcio entre o maior partido da oposição e a maioria, Seguro elencou as principais propostas do PS, chumbadas pela coligação. E concluiu que “quem verdadeiramente chumbou foi o Governo neste primeiro teste ao consenso”.
“Tanta conversa, tantos apelos, tantas cartas e 25 dias depois, perante propostas concretas, que não aumentariam o défice, o Governo revelou que nunca esteve interessado nas propostas do PS, apenas queria aprisionar o PS à sua governação desastrosa”, acusou o líder socialista, garantindo: “O PS jamais se deixar instrumentalizar, e não assina de cruz”.
Filipe Santos Costa (Rede Expresso)