Os custos de um suposto regresso à normalidade

Luísa Travassos
Luísa Travassos
Diretora do Jornal do Algarve Carteira Profissional - 588 A

Sedentos, como todos estão, de uma vida normal, após dois anos de restrições, os cidadãos parecem ter esquecido que os múltiplos problemas provocados pela pandemia não acabaram e que estão longe de serem resolvidos.
Como podemos verificar na peça ao lado, o número de casos, na nossa região, tem vindo a aumentar nos últimos tempos, coincidente com o levantamento de restrições. Mas, pior do que isso, são os números de óbitos que cresceram exponencialmente relativamente aos mesmos meses de 2021.
Parece que nada se passa, os números deixaram de ser divulgados, muitas pessoas olham com algum sarcasmo para quem continua a proteger-se e a proteger os outros com o uso de máscara, enfim, dá a sensação que somos como a avestruz que, perante um problema, mete a cabeça na areia.
Temos que voltar a ter uma vida normal mas não a qualquer custo! As nossas ações menos responsáveis podem fazer com que alguém mais “frágil” (e nunca sabemos quem fica frágil) perca a vida e são muitos os que estão a perdê-la. É muito difícil viver com esse peso, com essa responsabilidade!
A somar a esta realidade, temos o grave problema de que enferma o SNS, com falta de profissionais e de equipamentos para responder às necessidades da população algarvia que quintuplica na época estival. Urgências fechadas por falta de médicos, cirurgias urgentes que não se efetuam por falta de lugares disponíveis nos cuidados intensivos, o sotavento sem unidades de saúde suficientes, são a ponta do iceberg que só sentimos quando chega a nós ou a um familiar próximo!
Os cortes na saúde e a suposta má gestão de recursos, denunciada por alguns não menos responsáveis, tem contribuído para a degradação de serviços que deveriam ser acessíveis a todos e de excelência, tal como o seu mentor, profundamente humanista, António Arnaut o concebeu. Fez ontem quarenta e quatro anos que foi publicado o Despacho Arnaut, a 20 de julho de 1978, que mudaria para sempre o direito universal à Saúde, em Portugal.
No entanto, este direito parece começar a desvanecer-se e são muitos os portugueses que a ele não têm o devido acesso.
Temos que mudar comportamentos. Devemos ser responsáveis, cuidar de nós e também dos outros. Mas, paralelamente, precisamos de ser mais interventivos e mais reivindicativos… os algarvios não parecem dispostos a lutar por uma saúde melhor, aceitando tudo o que se lhes é “servido” ou retirado. Não podemos permitir que as nossas crianças não tenham um pediatra que as trate; não podemos aceitar que as futuras mães vivam na ansiedade de saber se terão, ou não, médico para quando chegar a hora de dar à luz; não podemos aceitar que grande parte de sintomas sejam considerados uma consequência da pandemia e não se procure diagnosticar os problemas de saúde que vão surgindo verificando-se, depois, que é tarde demais e já nada há a fazer…
Sem ter nada a ver com o assunto atrás referido ou talvez (quem sabe?) faleceu Maria Margarida, mulher de Mário Centeno, um algarvio ilustre. Os serviços de Saúde não conseguiram salvá-la.
Gosto do Mário, sempre gostei… desde que nasceu. Depois passei a admirá-lo!
Estou triste pela sua perda, vai faltar-lhe quem estaria, incondicionalmente, com ele.
Quem fica, como nós, fica sem rede!

Luísa Travassos

Deixe um comentário

Exclusivos

Realidade algarvia afeta saúde mental dos jovens

Atualmente, a incerteza sobre o futuro académico e profissional preocupa cada vez mais os...

Autarca de Tavira garante que Plano de mobilidade tem “as melhores soluções”

O estudo do Plano de Mobilidade Sustentável da cidade de Tavira, encomendado em 2019...

Extrema-direita é primeira força política na região

A vitória do Chega no distrito de Faro, com 27,19% dos votos, foi a...

Água lançada ao mar pelo Alqueva daria para encher barragens algarvias

A Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), com sede em Beja, anunciava...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.