Os segredos do melhor cozinheiro do ano 2011

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Nem futebolista, nem astronauta. Tiago Bonito sempre sonhou ser um grande chef cozinheiro. Com apenas 25 anos, o jovem comanda dois restaurantes numa unidade de cinco estrelas, em Armação de Pêra, e acaba de vencer o concurso Chefe Cozinheiro do Ano 2011. O prémio inclui um estágio num restaurante de Chicago (EUA), classificado em sétimo lugar entre os melhores do mundo. Para o júri do prestigiado concurso, Tiago Bonito é a prova de que é possível não fugir às raízes e à tradição na alta gastronomia. Muito menos numa região que tem “o melhor peixe do mundo”. Em entrevista exclusiva ao JA, Tiago Bonito revela a sua história de sucesso e alguns dos seus segredos no mundo das panelas e dos tachos

Jornal do Algarve – Sempre ambicionou ser cozinheiro?
Tiago Bonito – Sim, foi a profissão que sempre pensei em seguir e nunca me passou pela cabeça enveredar por outra qualquer. Sempre quis ser cozinheiro!

J.A. – E alcançou cedo o seu objetivo. O que a cozinha representa para si?
T.B. – Um mundo a ser descoberto todos os dias…

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J.A. – E como definiria o estilo dos seus cozinhados?
T.B. – Uma emoção de sabores na boca, em cada garfada, não fugindo às raízes, à tradição, ao respeito pelos produtos. Também conto muito com o “fator x”, que é o meu amor pela cozinha e pelo que faço todos os dias. Adoro cozinhar para os meus clientes.

J.A. – Em que se inspira para os seus pratos?
T.B. – Na infância, nas memórias, nas tradições e costumes regionais, no produto da terra e do mar. Não é preciso realçar que temos, nem mais nem menos, que o melhor peixe do mundo. E a riqueza que ele nos dá a explorar é extraordinária.

J.A. – Qual é a sua receita e ingredientes favoritos?
T.B. – É difícil responder, porque não tenho uma receita favorita. Há sempre algo que gostamos mais e gostamos menos. Por outro lado, na minha profissão temos de gostar de tudo um pouco para conhecer os produtos, a origem e a que se destina e como se elabora. Agora, em relação aos ingredientes, não podem faltar o azeite, alho e coentros…!

J.A. – Este prémio (Chefe Cozinheiro do Ano 2011) é muito importante para si?
T.B. – O CCA 2011 é muito importante para mim, porque é a realização de objetivos, o triunfo na carreira profissional, a valorização do percurso profissional e a chegada de novos desafios. Trata-se de um concurso de referência a nível nacional e é o mais importante para qualquer cozinheiro.

J.A. – O prémio inclui um estágio num dos melhores restaurantes do mundo, em Chicago (EUA). O que espera desta experiência?
T.B. – No estágio espero aprender muito durante aquele mês, para aperfeiçoar novas técnicas, conhecer outro mundo de cozinha e abrir novos horizontes.

J.A. – O que é preciso para se ser um bom chefe cozinheiro?
T.B. – É sem duvida ter uma boa equipa, pois um chef nunca é ninguém sem uma boa equipa. Os ingredientes para essa receita é espírito de equipa, abertura de ideias, respeito, liderança e comunicação.

J.A. – O que é que nunca pode faltar na cozinha?
T.B. – Amor, paixão, respeito e dedicação.

J.A. – Os próximos prémios a conquistar serão?
T.B. – Os prémios a conquistar neste momento são consolidar o prémio CCA 11, conquistar e satisfazer os meus clientes todos os dias sem que haja altos e baixos, mas sim uma satisfação total e repleta de boas sensações e lembranças.

J.A. – É possível ser-se um bom chef em Portugal?
T.B. – Claro que sim, temos muitos e bons produtos para trabalhar, bons profissionais e boas condições. O que por vezes acontece é a falta de reconhecimento dos profissionais de cozinha em Portugal e ajudas para podermos ir além fronteiras.

J.A. – Planos para o futuro?
T.B. – Não gosto de pensar no futuro mas sim no presente, no que está a decorrer no momento. Mas tenho algum planos e desafios futuros.

J.A. – Os restaurantes gourmet têm tendência a servir uma dose mais pequena, porquê?
T.B. – Nos restaurantes gourmet não há tendências de servir doses mais pequenas, mas sim doses calibradas e doseadas a peso, porque tudo o que se coloca no prato é comestível. O peixe ou a carne é doseada sem desperdícios (espinhas ou ossos), a guarnição é um equilíbrio da dose da proteína, composta por hidrato de carbono e leguminosos, e dai a composição de calorias necessárias ao nosso organismo. E isto sem falar nos produtos que se usa, a origem, a composição e a função que cada um tem no prato em si, e na elaboração da receita. No restaurantes tradicionais não há este tipo de cuidados e dedicação, porque estão mais ligados a raízes de tradição e aos costumes.

J.A. – O que pensa da gastronomia algarvia? Quais as suas virtudes e defeitos?
T.B. – A gastronomia algarvia é muito rica em peixe, bivalves e moluscos, ou seja, é um cozinha baseada na riqueza do mar. As virtudes é saber usar o melhor que o mar nos dá, o fabuloso peixe fresco todos os dias.

J.A. – Depois de vencer o concurso, as suas responsabilidades vão aumentar. Como vai continuar a surpreender os clientes diariamente? É um grande desafio?
T.B. – Sim. Vou continuar a criar, a desenvolver o meu trabalho, pois sinto mais força, motivação e orgulho para construir um percurso de sucesso. O desafio é manter sempre o mesmo padrão de qualidade e a satisfação em tudo o que faço.

J.A. – Não é possível escapar do assunto… Com a crise que atravessa o país, nomeadamente o turismo algarvio, que perspetivas alimenta em relação ao futuro da região e do país?
T.B. – Para ser sincero eu não sou nenhum especialista em política. Mas sei que está instalada uma crise financeira mundial que nos afeta a todos nós, por isso, temos que nos unir para fazer reviver o turismo algarvio.

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Tiago Bonito brilha em concurso nacional

O chef que trouxe para o Algarve o título de melhor cozinheiro do ano 2011 vai estagiar nos Estados Unidos, mas promete voltar para “surpreender os clientes todos os dias”.

O Chefe Cozinheiro do Ano (CCA) é o maior concurso nacional de cozinha para profissionais e o seu objetivo é o apuramento do chefe cozinheiro do ano, a par da valorização profissional da classe em Portugal. Os participantes são todos profissionais de cozinha residentes em Portugal, com mais de cinco anos de experiência comprovada.

A grande estrela do concurso, cujas provas arrancaram em maio e só terminaram com a realização da final, no dia 30 de novembro, foi Tiago Bonito, duplamente premiado com o “prémio inovação” e “melhor cozinheiro do ano 2011”, que lhe vão valer um cheque e um estágio no restaurante Aliena, em Chicago, nos Estados Unidos. Mas promete regressar com mais força e conhecimentos para “surpreender os clientes todos os dias”.

Tiago Bonito trouxe assim para o Algarve o título na 22ª edição do concurso, tendo apresentado na categoria inovação doces conventuais reinventados: um mil-folhas de sericaia e um gelado de azeite. Na vertente do melhor do ano, a receita foi o trabalho e a dedicação com que se entrega todos os dias nos dois restaurantes do Vilalara Thalassa Resort, onde é atualmente chefe de cozinha.

Tiago Bonito, 25 anos, natural de Coimbra, começou há 10 anos a sua formação com um curso de cozinha/pastelaria. Seguiram-se vários cursos e experiências em alguns dos melhores hotéis do país, entre os quais o Hotel Sheraton Algarve, o Grande Real Santa Eulalia Hotel & Spa e o São Rafael Suite Hotel (todos em Albufeira), o Vip Grand Hotel & Spa (Lisboa), Troia Design Hotel e Casino de Troia e, neste momento, é chefe de cozinha do Vilalara Thalassa Resort & Hotel (Armação de Pêra).

Nuno Couto/Jornal do Algarve
(Créditos fotográficos: Edições do Gosto/Humberto Mouco)
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