Os três embustes, segundo Sócrates

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Na sua primeira entrevista, 21 meses após ter perdido as eleições para Pedro Passos Coelho e deixado a liderança do PS, José Sócrates não poupou Cavaco Silva, a quem disse não reconhecer “nenhuma autoridade moral” para lhe “dar lições de lealdade institucional”.

O ex-primeiro-ministro lembrou que partiu da Casa Civil do Presidente da República “uma conspiração organizada e inventada baseada na acusação de que o Governo estaria a espiar o Presidente. E recordou o discurso da segunda tomada de posse de Cavaco, “salientando todas as dificuldades do país sem fazer qualquer referência à crise internacional”.

“O problema do Presidente é que sempre usou dois pesos e duas medidas ao tratar com o Governo anterior e com o atual”, resumiu. Cavaco, afirmou, “esteve na origem da atual solução política, é o seu patrono”. No fim da entrevista um remoque mais ainda: o Presidente “não foi nada imparcial”.

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Os três embustes, segundo Sócrtaes

Mas a maior parte da entrevista Sócrates usou-a para contestar a que qualificou como “a narrativa da direita” sobre a sua governação. O ex-primeiro-ministro denunciou o que considera serem três “embustes” nesta narrativa:

1. A ideia de que em março de 2011 os problemas no país eram apenas responsabilidade do Governo e não de uma crise internacional;

2. A ideia de que foi a sua governação que levou ao pedido de ajuda externa;

3. A ideia de que o atual Governo se limitou a aplicar o memorando que tinha sido negociado pelo Governo anterior.

Uma narrativa “que não tem tido oposição”, disse, justificando assim o fim dos seus quase dois anos de silêncio. “Faço isto em primeiro lugar por mim próprio, para me defender”, afirmou, garantindo “compreender muito bem” que a atual liderança do PS tenha preferido “olhar para o futuro”, procurado “concentrar-se nas respostas a dar aos portugueses”. Foi, qualificou, “uma atitude muito nobre”. Que, contudo, reconheceu, “deixou que a narrativa feita pelos meus adversários políticos estivesse sozinha em campo”.

“Governo tem de parar com a austeridade”

Sócrates rebateu essa “narrativa”, insistindo que a crise política de 2011, provocada pela oposição e com o incentivo de Cavaco Silva, não serviu para nada. E que, porventura, se o PEC IV tivesse sido aprovado em março de 2011, tudo poderia ter sido diferente e Portugal poderia ter evitado a ajuda externa. Afirmou ainda que o atual Governo “aplicou o dobro da austeridade” que estava no memorando inicial, recordando que já foram feitas sete alterações à versão original do entendimento com a troika.

Sobre a saída para a crise defendeu que o Governo tem de parar com a austeridade. E defendeu a mudança de discurso político: “Um político que desiste de puxar pelas energias do seu futuro não está à altura das suas responsabilidades”. “Não há país que possa ser governado sem esperança”, concluiu.

Quanto a ele próprio, garantiu não ter nenhum plano para passar à vida política ativa, recusando ambições de ser candidato a Presidente da República ou novamente candidato a primeiro-ministro. E quanto às consequências do seu espaço semanal de comentário político, a partir de abril, assegurou: “Ninguém tem de ter medo”.

Cristina Figueiredo
JA|Rede Expresso
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