Os verbos que gostaríamos de usar

Pois que verbos? Os verbos que o Algarve civilizado, civilizante e civilizador gostaria de conjugar sem entraves, podem ser muitos, mesmo muitos, mas entre eles estão estes: conviver, coabitar, relacionar-se, lidar e todos os sinónimos que estejam relacionados. Parece, no entanto, que há factos, assuntos e jogos de mau porte que atropelam as conjugações do Algarve. Há outros mais, mas um desses assuntos é o da água.

Há um provérbio sueco que se justifica invocar – Não jogues fora o balde velho até que saibas se o novo balde segura a água. O provérbio caiu manifestamente em desuso porque hoje já ninguém se serve de baldes para tirar água e esta vem da rede pública ou de furos, pelo que será preferível reciclar o provérbio para esta forma – Não deites fora a água da chuva até que saibas se mais um furo não rouba água a quem ainda a tem.

Como chegou a ser divulgado como sinal de alerta, há no Algarve cerca de onze mil furos pela contagem oficial. Claro que haverá mais, não sendo possível ou provável que alguma vez sejam contabilizados os furos clandestinos e não licenciados, além dos furos licenciados, mas executados fora das disposições legais, sem verificação de conformidade ou inspeção.

Não há muito tempo, saudou-se o imperativo de suspensão da abertura de novos furos devido à seca extrema ou severa que se verificava. Pelo que pode ser observado, parece que a seca desapareceu, quando se agravou. Parece que choveu assim tanto que os lençóis freáticos e as albufeiras disponíveis dispensam poços e baldes porque a água estará à mão. E então, há livre arbítrio para usar licenças para furos já quase caducas ou mesmo se concedem novas licenças, sem que alguém entenda se estamos em seca severa e extrema perto da absoluta e se estamos em situação de continuar-se a encher piscinas e mais piscinas com o mar à vista, quando cada vez mais nem um copo de água se pode encher de furos com duzentos ou trezentos metros de profundidade, a meter inveja ao Sousa Cintra quando pensava obter petróleo em sondagem similar.

Quando se proibiu a abertura de novos furos, perdeu-se obviamente uma boa oportunidade para levar à partilha comunitária ou em pequenas redes de furos mais antigos, para colmatar deficiências ou mesmo impossibilidade de abastecimento público. Na presente situação, as circunstâncias agravaram-se e segundo parece, de forma irreversível e galopante devidos às inegáveis alterações climáticas que afetam o Algarve na globalidade.

Sabemos que muita gente com algumas ou muitas posses, aqui se instalam na região que entendem como paraíso. Devemos ficar gratos pelo elogio sem que tal gratidão nos impeça de alertar que até no paraíso se pode morrer à sede se o diabo licenciar furos e mais furos no inferno. Nunca o fogo deu água, e água do mar chega sempre salgada à língua

Flagrante aldrabice: As casas amovíveis importadas de França, por exemplo, com autorização caducada para utilização e habitabilidade. Quem verifica?

Carlos Albino

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