Entrevista com Saul Neves de Jesus, investigador da UALG na área da psicologia positiva
Nas últimas semanas foram divulgados os resultados de um estudo que revela que os portugueses são dos povos mais infelizes do mundo. A Universidade do Algarve (UALG) tem vindo a realizar investigações na área da psicologia positiva no âmbito dos mestrados em Psicologia da Educação, Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Social e das Organizações. O JA falou com um dos especialistas algarvios nesta área, Saul Neves de Jesus, que admite que se os portugueses adoptarem uma atitude positiva e realista poderá ser mais fácil de sair da crise.
[A entrevista foi publicada na íntegra na edição papel do Jornal do Algarve de 3 de novembro de 2011]
JA – Uma atitude mais positiva perante a realidade pode ajudar o país a ultrapassar a crise mais rapidamente?
SNJ – Sim, na medida em que será uma atitude mais positiva permite suportar expectativas positivas em relação ao futuro e aumentar os índices de confiança, gerando um comportamento de maior empreendedorismo e investimento.
No entanto, as atitudes e as expectativas devem ser positivas, mas também realistas. Aliás, parece que o excesso de otimismo, traduzido em expectativas irrealistas, foi um dos fatores para a situação em que nos encontramos atualmente, pois as pessoas estavam a consumir e a assumir compromissos financeiros acima das suas reais possibilidades.
Em todo o caso, neste momento podemos estar a começar a ser excessivamente pessimistas, sendo importante inverter esta tendência e começar a evoluir para um otimismo realista.
JA – Pode dar exemplos?
SNJ – Uma atitude mais positiva pode permitir identificar soluções, onde o pessimismo só permite ver problemas. Há que evidenciar, por exemplo, que em épocas de crise é quando surgem as grandes oportunidades de negócio.
JA – De que forma se pode espalhar um modo de encarar a vida mais otimista na população em geral?
SNJ – Tudo deve começar na educação, em que deve ser desenvolvida uma atitude mais positiva, otimista e empreendedora. É fundamental que as condições facultadas aos jovens permitam a concretização de uma atitude mais otimista e empreendedora, pois um dos grandes problemas da nova geração é que foram induzidas expectativas de elevada confiança, tendo muitos deles investido e criado negócios, assumindo níveis de risco muito elevado, mas depois não foram bem-sucedidos na sua implementação. O excesso de burocracia era habitualmente o primeiro entrave, depois a dificuldade de financiamento, mas o mais grave tem sido a situação real de falta de liquidez que “derruba” qualquer atitude empreendedora.
Assim, parece-me que o empreendedorismo não deve ser apenas emocional, através de atitudes mais positivas e otimistas, mas deve ser também cognitivo, através de uma rigorosa análise dos prós e dos contras associados a ideias de negócio.
JA – A forma como as políticas nacionais são anunciadas podem influenciar o otimismo das pessoas?
SNJ – Sim. Aconteceu com o anterior governo haver um excesso de otimismo, criando-se alguma ilusão associada ao investimento, vendo-se agora muitas pessoas defraudadas com as expectativas que construíram e os investimentos que fizeram. Já o atual governo está a “passar do 8 para o 80”, ao acentuar tanto a crise. Isto é, as (…)