Para Fernando Reis

Homens e mulheres dos anos 70, deem as mãos – Dia após dia, estamos partindo, e connosco parte um modo de vida e de pensar. Fomos optimistas, acreditámos que o poder da vontade era mais forte do que o poder da finança, julgámos que o poder da Cultura era mais impressivo do que a prisão à ignorância, fomos aventureiros, idealistas e muitos de nós entregámos a camisa aos outros sem esperar nada em troca. Em suma, e numa só palavra, românticos. Fernando Reis, que acaba de nos deixar, foi um romântico.


A forma como segurou este jornal, acreditando que a força das palavras contribuía para a inteligência viva, para o benefício da notícia justa e a independência do pensamento, fez dele uma personalidade marcante. Foi diligente numa região de indolência, foi pronto numa sociedade de adiamento, foi atento e prático, no meio de uma cultura de inércia. Para quem acredita na capacidade de resistência num meio hostil à comunicação social, Fernando Reis foi um exemplo de crença no jornalismo de proximidade. Manteve a sua equipa ligeira, hábil, versátil, dando conta dos acontecimentos locais para que nos sentíssemos reconfortados em vizinhança e deu respaldo aos acontecimentos regionais que mereceriam ser notícia nacional, mas a que a indiferença dos meios nacionais vota ao apagamento.


Quanto o Algarve lhe deve? Quanto devemos a Fernando Reis? Não podemos dizer quanto por que o seu legado não pode ser avaliado em números.

Sabemos sim, que adaptou o Jornal do Algarve aos desafios que se levantaram à imprensa regional na passagem do milénio, e que soube resistir à grande vassoura digital, que leva para o mesmo local do evanescente, quer o bom, quer o mau. A chegada, semanalmente, à nossa mesa, do jornal do Fernando Reis, envolto numa cinta de papel usado, aproveitado dos restos, comovia. E comoverá. É preciso ser esperançoso. A sombra benigna de Fernando Reis inspirará quem se lhe segue. Todos desapareceremos, mas o sulco que fazemos na terra onde vivemos será mais forte do que a nossa fotografia. Fixem a fotografia de Fernando Reis, a sua causa tem muito para contar.

Lídia Jorge

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