Paul McCartney: Quando o Algarve seduziu os Beatles

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Apesar de os The Beatles nunca terem atuado em Portugal, a região algarvia atraiu as atenções de dois dos seus membros:
Paul McCartney e George Harrison. Entre as muitas histórias que existem da passagem dos dois artistas por terras algarvias,
há uma que se destaca e ficará para sempre na história. Trata-se de uma atuação única e inesperada de Paul, no hotel Penina, que acabou com a composição de um tema com o mesmo nome

Paul McCartney de visita a Monchique em 1968

Em 1957, no ano do nascimento do JA, o seu fundador, colaboradores e colunistas avançavam com uma intensa campanha intitulada “Operação Algarve Turismo”, onde se destacavam as potencialidades da região, como o clima, a temperatura da água e a paisagem para o turismo internacional. Através de vários artigos publicados, começaram a ser dados os primeiros passos para a construção do primeiro hotel algarvio da era moderna, em 1960: Vasco da Gama, em Monte Gordo. A partir daí, o turismo algarvio começa a ganhar asas e a região fica na moda, principalmente para os britânicos, atraindo até grandes estrelas internacionais. Paul McCartney e George Harrison não foram exceção.

“Yesterday” tem costela algarvia

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A primeira viagem de Paul McCartney ao Algarve – tinha ele ainda uns juvenis 22 anos – aconteceu em 1965, de 27 de maio a 11 de junho, juntamente com a sua namorada da altura, Jane Asher. Passaram férias em Albufeira.


Esta oportunidade surgiu através de um convite feito por Bruce Welch, que estava na casa de férias de Cliff Richard.


Ainda sem aeroporto em Faro, o casal apanhou voo em Londres e desembarcou em Lisboa, tendo posteriormente alugado um carro, contou ao JA o jornalista Luís Pinheiro de Almeida, um dos autores do livro “Beatles em Portugal”, de 74 anos.


“Vieram de avião até Lisboa, alugaram um carro e foram até Faro. Foram cinco horas de carro, não havia autoestrada sequer”, conta.
A caminho do Algarve, enquanto atravessavam estradas de pouca qualidade, surge uma letra na cabeça de Paul, que viria posteriormente a ser o êxito “Yesterday”.


“Veio-lhe a letra à cabeça, escreveu num papel e quando chegou a casa do Bruce, a primeira coisa que pediu foi uma guitarra. O Bruce até costuma dizer que foi a primeira pessoa a ouvir a ‘Yesterday’ completa, com música e letra”, refere Luís Pinheiro de Almeida ao JA.


Já em Albufeira, Paul e Jane ficaram hospedados no hotel Boa Vista e o membro dos The Beatles “queria mesmo férias, sem fotografias”.


“Nessa altura o Algarve já era uma colónia inglesa e estava muito na moda. Era a primeira viagem ao estrangeiro que Paul fazia com a namorada”, conta Luís.


Portugal vivia tempos de ditadura e, por essa razão, “havia pouca informação”, tornando-se essa, curiosamente, numa das razões da escolha do Algarve para as férias de McCartney. Assim, segundo disse Luís Pinheiro de Almeida ao JA, Paul foi aconselhado por um amigo a escolher o destino a sul de Portugal pois “era um país calmo, sossegado, onde as pessoas andavam sem ser reconhecidas”.


O autor considera que “para os portugueses era difícil reconhecerem” Paul McCartney por terras algarvias, pois “viam uma pessoa de cabelos compridos, mas não associavam aos The Beatles, até porque havia pouca informação”.


No entanto, as primeiras férias de Paul no Algarve foram encurtadas em um ou dois dias: os The Beatles tinham recebido um convite da rainha de Inglaterra, Isabel II, para serem condecorados e o artista teve de partir para Londres.

“Paul gostou de ter cá estado, prometeu voltar e voltou”, acrescenta.

As segundas férias, com atuação surpresa

A 10 de dezembro de 1968, Paul McCartney acompanhado da sua mulher, Linda Eastman, e da sua filha, Heather, aparecem de surpresa à porta de casa de Hunter Davies, o autor da biografia oficial dos The Beatles, na Praia da Luz.

Na segunda viagem ao Algarve, o artista passou por Lagos


“Naquela altura, Paul tinha uma folga, arranjou um avião para Faro e foi bater à porta do Hunter Davies, que nem sabia que ele estava ali. Apareceu de surpresa”, conta Luís ao JA.

Esta viagem teve um maior impacto na Imprensa, que acompanhou todos os passos do artista inglês, que deu algumas entrevistas, divulgando ainda mais o Algarve pelo mundo.


“A repercussão em 1968 foi maior porque os The Beatles em Portugal, nessa altura, já eram muito mais conhecidos”, explica o autor.


No entanto, destes dias de descanso, nasceu uma nova música. Numa das noites, Paul McCartney dirigia-se para a boate “Sobe e Desce”, no Carvoeiro, mas parou no hotel Penina, em Portimão, porque precisava de trocar libras por escudos.


Quando chegou à receção, foi reconhecido pelos membros da banda portuense Jota Herre, que estavam a atuar no bar.


“O Aníbal Cunha dos Jota Herre reconheceu-o logo. O Paul até brincou com a situação, dizendo que nem ali o deixavam em paz. No entanto acabou por ir para o bar, houve empatia entre todos e acabou por tocar bateria, piano e cantar até às quatro horas da manhã”.

Capa do tema escrito por Paul e oferecido
à banda Jotta Herre


Além de tocar “Yesterday”, Paul ainda teve tempo de compor uma música inédita, que batizou de “Penina” e ofereceu à banda portuguesa, que veio a editá-la pouco tempo depois.


“As pessoas acham que é uma canção menor, mas eu acho-lhe piada. Ele simplesmente escreveu aquilo e deu-lhes. Uma das razões pelo que o Penina é conhecido, em certos nichos de mercado, é pela canção que ali foi escrita pelo Paul”, destaca.


Para a banda, a canção composta por Paul “era uma mais valia” e deixou os artistas “contentes”. Hoje em dia, o disco, em termos de colecionismo “ainda tem algum valor”.


Luís Pinheiro de Almeida refere que “fez-se uma grande festa” no bar do hotel. Os hóspedes começaram a reclamar do barulho que estava a ser feito, “mas quando souberam que era o Paul, vieram todos para baixo e o bar encheu”, incluindo funcionários.


No entanto, não existe uma fotografia deste momento e a atual administração está à procura, oferecendo uma recompensa.

“Do Paul a tocar no Penina não há uma única fotografia. Se houver é de pessoas que estavam hospedadas no hotel. Talvez uma dessas pessoas possa ter, provavelmente estrangeiros. Era giro essa fotografia ver a luz do dia”, refere.

Teresa Lage, Paul McCartney e Luís Pinheiro de Almeida


Segundo a administração do hotel, “falta a fotografia para eternizar este momento”, lançando o desafio: quem tiver uma fotografia deste momento e enviar para o email [email protected] recebe uma estadia de três noites.


Durante esta viagem, Paul McCartney também visitou o interior algarvio, em Monchique, onde almoçou no restaurante “Rampa”, andou de burro e comprou xailes algarvios.


“Para eles, andar de burro em 1968 era como estar em Marte. Era uma coisa completamente ao lado”, salienta Luís ao JA.

Gonçalo Dourado

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