Consiserando os eventos e gaffes que têm marcado a preparação das presidenciais pelo Partido Republicano, não se esperava outra coisa que não o circo ontem montado na cidade de Cleveland, no Ohio, na inauguração da Convenção Nacional do partido que deverá confirmar Donald Trump como o candidato do Grand Old Party (GOP) às presidenciais de novembro.
Mesmo assim, todos os media norte-americanos sublinharam “o espetáculo pouco comum de desunião e ira numa convenção moderna de um partido” que ontem marcou o primeiro dos quatro dias do encontro.
Para tentar travar a candidatura do magnata populista, um grupo de estados tentou forçar uma votação estado-a-estado sobre as regras da convenção, uma tentativa de rebelião que parece ter apanhado a campanha de Trump de surpresa e que, apesar disso, foi travada.
A tentativa de golpe contra o candidato com mais delegados angariados durante as primárias (que está sozinho na disputa pela nomeação republicana desde maio) demonstra, acima de tudo, que o senador Ted Cruz não está disposto a desistir das suas aspirações presidenciais, quanto mais não seja já com o olho posto nas eleições de 2020, nota a CNN — sobretudo pelo facto de terem sido os representantes daquela Estado, pelo qual o evangélico é senador, a mobilizar outros estados na rebelião.
Perante a recusa dos organizadores do evento e dos membros da campanha de Trump em atenderem às exigências do grupo de delegados, a Convenção ficou dominada por uma barafunda e zaragatas quase inéditas num encontro partidário de preparação das eleições.
Os apoiantes do esforço para afastar Trump prometeram que vão continuar a protestar esta terça-feira, dia em que os delegados eleitorais que foram sendo atribuídos aos candidatos republicanos durante as primárias deverão confirmar formalmente o magnata do imobiliário como o candidato presidencial do partido. “Esta corrida não acabou e eu vou correr até à meta”, garantiu Kendal Unruh, delegado do Colorado que lidera a campanha “Free the Delegates”.
O ambiente quase circense da tarde de segunda-feira pareceu apaziguar-se ao cair da noite para os discursos dos porta-vozes do partido, escolhidos a dedo para falarem em direto à hora dos telejornais. Entre eles destacou-se Rudolph Giuliani, ex-autarca de Nova Iorque, que deu o mote ao tema dominante da noite, a segurança, e que uniu todos os republicanos contra a candidata democrata, Hillary Clinton.
Esta parte do espetáculo, na única demonstração de união partidária, contou com a presença de dois sobreviventes do ataque de 2012 ao consulado norte-americano em Bengasi, na Líbia, que abriram o momento das intervenções com críticas à ex-secretária de Estado. Seguranças no anexo daquele consulado, Mark Geist e John Tiegen contaram como sobreviveram ao ataque de 11 de setembro desse ano, quando a atual candidata democrata à presidência era chefe de diplomacia na administração Obama — um ataque no qual morreu Chris Stevens, embaixador norte-americano na Líbia, o diplomata Sean Smith e dois funcionários da CIA.
Ainda assim, foi Melania Trump, possível futura primeira-dama dos Estados Unidos, quem mais marcou o primeiro dia da convenção. Conhecida pela falta de eloquência, a mulher de Trump proferiu um discurso básico defendendo que o seu marido — “patologicamente egocêntrico”, como definiu o seu ghostwriter esta semana num artigo-denúncia na “New Yorker” — é a melhor escolha para os americanos que querem alguém na Casa Branca que defenda os seus interesses.
Os media, com o “Huffington Post” à cabeça, e as redes sociais demoraram pouco a reparar que várias partes do discurso da modelo eslovena, incluindo a que publicamos abaixo, foram plagiadas do discurso que Michelle Obama fez na Convenção Nacional Democrata de 2008, que confirmaria a candidatura, e o eventual primeiro mandato presidencial, de Barack Obama.
Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)