O que têm em comum polícias e presos? Uma elevada ocorrência de suicídios. De tal forma que são umas das preocupações do Plano Nacional de Prevenção.
O Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, hoje divulgado, sugere a realização de ações prioritárias nas Forças de Segurança e na população prisional. Desde 2000, 96 polícias puseram termo à vida. Em 2011 e 2012 suicidaram-se 18 presos.
O documento sugere-se, entre outras coisas, a criação de um “programa regular de reavaliação psicológica dos profissionais”, o “controlo regular do consumo de álcool e de outras substâncias psicoativas” bem como a “restrição do uso e porte de armas, sempre que se identifiquem fatores de vulnerabilidade”.
“A restrição de uso e porte de arma a elementos que apresentem sinais ou sintomas de perturbação mental, nomeadamente ideação suicida, é um dos aspetos relevantes na especificidade de um programa de prevenção do suicídio dirigido às forças de segurança”. Já que a “esmagadora maioria” dos suicídios são “consumados com recurso a arma de fogo de serviço”, pode ler-se no documento.
Em jeito de prevenção o plano aconselha maiores cuidados na seleção dos candidatos: “É fundamental o estabelecimento de critérios de seleção dos candidatos às Forças de Segurança com especial ênfase para a avaliação dos traços da personalidade e da motivação para o tipo de atividade a que se candidatam, implementando-se ainda uma avaliação psicológica durante o curso e uma reavaliação no final do mesmo.”
É também sugerida a “avaliação médica e psicológica, periódica e aleatória, do abuso e dependência de substâncias psicoativas, sobretudo o álcool”.
“O consumo de bebidas alcoólicas aumenta consideravelmente o risco de suicídio, designadamente quando associado a depressões e a algumas características de personalidade, como a impulsividade e a agressividade, razão pela qual se impõe uma atenção muito especial neste domínio”, esclarece o documento.
Entre 2000 e 2012, de acordo com os dados da Direção Nacional da PSP e Comando Geral da GNR, suicidaram-se 96 agentes da autoridade. 43 pertenciam à Polícia de Segurança Pública e 53 à Guarda Nacional Republicana.
18 suicídios nas prisões em dois anos
Já nas prisões, registaram-se em 2011 e 2012, 8 e 10 casos de suicídio, respetivamente, “o que representa uma taxa da ordem dos 74 por 100.000, ou seja, cerca de 7,5 vezes superior à taxa da população em geral”, explicam os autores do plano que estará em consulta pública durante 30 dias.
“O suicídio entre reclusos não é significativamente diferente do suicídio de outros cidadãos, ainda que os métodos utilizados para a sua consumação sejam bastante mais limitados – quase sempre o enforcamento”, pode ler-se no documento.
Para prevenir eventuais suicídios, sugere-se diversas medidas específicas, como por exemplo que “todos os reclusos admitidos devem ser avaliados nas primeiras 48 horas, mantendo-se a monitorização durante pelo menos sete dias”, a “elaboração de fichas de avaliação padronizadas e de procedimentos, visando o acompanhamento e a recolha sistemática de informação” e a criação de “uma base de dados centralizada, relativa aos suicídios e comportamentos suicidários registados”.