Especialistas oncológicos dizem que o cancro é a doença que mais vai atacar na próxima década e o país está cada vez menos preparado para se defender.
“Na oncologia falta fazer quase tudo: não existe um plano oncológico nacional, uma rede de referenciação ou normas orientadoras e muitas vezes os doentes são reencaminhados para outras unidades porque o hospital não estava preparado para os tratar ou tinha constrangimentos como o tempo de espera e os tipos de cirurgia e medicamentos disponíveis”, afirma o presidente da Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, António Araújo.
O especialista é um dos autores (ao lado do administrador hospitalar Adalberto Campos Fernandes e do oncologista Sérgio Barroso) do documento de reflexão sobre o cancro em Portugal, apresentado hoje em Lisboa para alertar o Governo.
“O cancro é a doença que mais vai crescer na próxima década e que usa medicamentos inovadores e muitos dispendiosos com maior frequência e é preciso manter a equidade no acesso e no tratamento dos doentes, sobretudo nesta fase de grandes constrangimentos”, afirma António Araújo. E deixa um alerta: “O ministro da Saúde tem de pôr em prática todos os planos falados nos últimos anos”. Por exemplo, programas nacionais de rastreio dos cancros da mama, do colo do útero e do colon-retal.
No documento – que reúne contributos de especialistas, dirigentes, associações de doentes e outros elementos do setor – , é proposta a concentração dos tratamentos nos hospitais mais diferenciados e com mais casos e um financiamento exclusivo para a oncologia, inclusive por tipo de cancro.
Os especialistas defendem ainda que é urgente informar claramente os doentes sobre os hospitais onde são feitos os vários tipos de tratamentos e assegurar que todas as unidades seguem as mesmas linhas de orientação terapêutica, que têm de ser auditadas. Tudo isto, com a necessária poupança em tempo de crise, “mas de forma racional”, salienta o especialista.
Ao Expresso, o oncologista afirmou ainda que a situação atual só “não é preocupante em termos de qualidade por que as falhas têm sido colmatas por cada médico a título individual”. Contudo, “é preciso que seja o sistema a cumprir esse papel e não os oncologistas”.
Sobre os sucessivos adiamentos, por exemplo, de um plano nacional para a oncologia e de uma rede de referenciação , o médico é claro: “Há duas décadas que essas medidas são faladas e ainda não avançaram, se calhar, por falta de vontade de política”.
Os organizadores do encontro querem ainda que esta ONCOAGENDA 2012 sirva de mote à criação de uma rede pluridisciplinar de elementos de todas as áreas relacionadas com o cancro, promova uma interpretação real das questões de saúde no país e ainda um debate sobre o cancro, mas também sobre todos os aspetos relevantes da saúde dos portugueses.
Os especialistas querem agora reunir-se com o ministro do Saúde.