Português que lutava na Síria contra o EI regressou à Europa

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Mário Nunes, de 19 anos, saiu do YPG, onde lutava desde fevereiro

Seis meses foi o tempo que Mário Nunes, de 21 anos, esteve a combater pelas forças curdas do YPG (Unidades de Proteção popular). O militar desertou em fevereiro da base aérea n.º 11 de Beja, viajando incógnito até ao norte da Síria. Juntou-se então às milícias peshmergas que lutam contra o autodenominado Estado Islâmico (Daesh). Há poucos dias decidiu sair daquele grupo armado. Uma informação confirmada por várias fontes portuguesas da área militar.

As razões da saída do português do YPG devem-se ao facto de estar a passar por algumas dificuldades económicas: “Se decidir regressar ao YPG será bem-vindo. Gostamos muito dele”, garante ao Expresso um responsável próximo desta força curda.

Mário Nunes estará neste momento algures na Europa “junto de pessoas amigas” e “em breve” poderá regressar a Portugal. Tem familiares no Alentejo e no Algarve, que ficaram em choque quando descobriram que o rapaz se tinha alistado no YPG. Nenhum deles quis prestar declarações.

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Na Síria é visto como um herói que apenas se foi embora da guerra com o objetivo “de voltar a juntar alguns dólares para uma nova missão naquele país”. Em Portugal é considerado um desertor. Durante os meses em que combatia pelo YPG, a Força Aérea Portuguesa rescindiu o contrato que o unia àquela instituição, despedindo-o com justa causa. “Tentámos notificá-lo do processo disciplinar mas foi impossível pois está em parte incerta”, revela o major Paulo Mineiro, porta voz da FAP. Neste momento, a Polícia Judiciária Militar investiga o seu caso.

O Expresso contactou Mário Nunes através da sua página no Facebook mas o jovem soldado optou por não fazer muitos comentários.

Uma equipa do canal britânico Channel 4 que se encontra há várias semanas no Curdistão sírio decidiu entrevistar o português, filmando-o em treinos militares com uma AK-47 nas mãos. As suas declarações serão incluídas num documentário sobre voluntários britânicos que lutam no YPG, intitulada ‘Fighting ISIS’ (‘Combatendo o Estado Islâmico’), e que deverá ser exibido no Reino Unido no próximo dia 14. Esta grande reportagem foi realizada por ex-soldados britânicos que acompanharam algumas operações do YPG nas montanhas do norte da Síria.

O militar alentejano foi o primeiro voluntário português a juntar-se ao exército peshmerga, que combate o exército do Daesh no terreno. O segundo partiu há poucas semanas para o Curdistão iraquiano: chama-se Miguel e até há poucos dias tinha uma vida considerada normal em Portugal, no norte do país.

A 19 de agosto alistou-se nos Liberty Lions, um outro grupo armado curdo que se opõe ao exército terrorista liderado por Abu Bakr Al-Baghdadi. Tem feito sobretudo treino militar diário com tiro mas já fez parte de uma missão no norte do Iraque, na última quarta-feira, que capturou e aniquilou cerca de uma dezena de jiadistas e “libertou” algumas aldeias do domínio dos fundamentalistas islâmicos.

Miguel revelou, na última edição de sábado do jornal Expresso, as razões que o levaram ao norte do Iraque para lutar contra o Daesh: “Aquilo não são pessoas mas demónios, que decapitam mulheres e crianças. Tinha de fazer qualquer coisa.”

Se regressarem a Portugal, tanto Miguel como Mário Nunes serão investigados pelas autoridades. Ao que o Expresso apurou, não serão no entanto considerados terroristas, ao contrário do que acontecerá com um dos quinze jiadistas portugueses do EI que decida voltar para casa. “Não há comparação possível entre o tipo de crimes bárbaros praticados pelo Estado Islâmico com os excessos cometidos nesta guerra pelas forças curdas”, relativiza uma fonte ligada à Segurança Interna.

Os serviços de informações ocidentais suspeitam que o YPG tenha ligações ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o PKK, que faz parte da lista de organizações terroristas dos Estados Unidos e da União Europeia. Mas o Departamento de Estado dos EUA têm colaborado com as forças curdas no terreno. Já o Liberty Lions não tem qualquer tipo de cadastro internacional.

Além dos voluntários portugueses que se aliaram aos grupos peshmerga, existem cerca de vinte mercenários, ou ‘contractors’, a operar na região entre Síria, Iraque, Turquia e Iémen. Na base “Gran Capitan”, em Besmayah, localidade a 60 quilómetros de Bagdade, no Iraque, há ainda trinta militares do exército português inseridos num contingente espanhol. A sua missão é a de reerguer o Iraque das cinzas e a de dar formação a soldados iraquianos.

RE

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