Presidente da Câmara de Albufeira defende “medidas excecionais” para a habitação

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A falta de casas é um problema cada vez mais grave no concelho de Albufeira. Por isso, está no topo da lista de prioridades da autarquia. Em entrevista ao JORNAL DO ALGARVE, o presidente da Câmara de Albufeira revela que o município encontra-se atualmente no mercado para adquirir habitações e comprar novos terrenos. Mas, nesta “fase excecional”, José Carlos Rolo defende que o governo também deveria lançar “medidas excecionais” para enfrentar o problema. O autarca fala ainda da ameaça do Brexit que paira sobre a “capital do turismo” e de outros projetos que quer concretizar até ao final do mandato

 

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> NUNO COUTO

 

Jornal do Algarve – O antigo presidente Carlos Silva e Sousa faleceu em fevereiro. Foi difícil assumir o cargo na presidência nestas circunstâncias?
José Carlos Rolo – Foi difícil, por um lado, mas também foi fácil, por outro. Passo a explicar: foi difícil, porque é sempre uma circunstância triste e inesperada. São sempre situações muito difíceis de encarar. Mas, passados os primeiros tempos, foi relativamente fácil, porque já era vice-presidente da câmara e tenho uma vida pública de 35 anos.

J.A. – Qual é o desafio ou a prioridade que está no topo da sua lista até ao final deste mandato?
J.C.R. – Um reforço verdadeiro no setor da habitação, a custos controlados, para melhor servir os cidadãos residentes. Esta tem sido uma carência ao longo dos últimos anos em Albufeira, porque não tem sido uma prioridade. Neste momento, a Câmara de Albufeira já está a adquirir alguns terrenos, porque o município tem muito poucos. Há muitos anos que não se faz investimento nesse sentido, por isso, agora, todos os terrenos que são postos à venda são avaliados com o objetivo da sua aquisição. Desta forma, a oferta não será apenas concentrada, mas será desconcentrada, com vários focos de 20 ou 30 casas, e não aqueles bairros com mais de 100 casas. Espero entregar até ao final do mandato cerca de uma centena de habitações novas. Entretanto, estamos também num processo de aquisição de vários apartamentos dispersos por todo o concelho, que sejam postos à venda e que se revelem importantes para reforçar a habitação em Albufeira. Ou seja, estamos à espreita de oportunidades nesta área.

J.A. – A falta de habitações a preços “normais” é uma das maiores carências do concelho. Considera que Albufeira está a pagar a fatura do seu sucesso turístico?
J.C.R. – É, realmente, um problema. No fundo, penso que é uma consequência da grande procura do turismo relativamente ao Algarve, que também acontece com Lisboa e Porto. E já não estamos a falar apenas de habitação social. Existe também muita carência de habitação para residentes em muitos locais do Algarve, assim como para gente que quer vir para cá trabalhar. Neste momento, o Algarve precisa de muita mão de obra e há muitos lugares vazios por causa deste problema. No entanto, também acho que o governo poderia, nestas fases excecionais, adotar medidas excecionais, no sentido, por exemplo, da agilização dos procedimentos e de alguns aspetos relacionados com a habitação. Terá de haver uma ação reflexiva sobre este tema, mas depois não se deve ficar apenas por aí. Temos de ir também para a ação. Muitas vezes, o que falta em Portugal é que discute-se muito, fala-se muito, mas não se faz tanto como se fala. Depois, as coisas não têm grande consequência como deveriam ter.

O autarca de Albufeira garante que vai haver “um reforço verdadeiro no setor da habitação para melhor servir os cidadãos residentes”

J.A. – Pode revelar outros investimentos importantes para incentivar o desenvolvimento do concelho?
J.C.R. – As obras de requalificações de arruamentos, estradas e caminhos. Estamos a desenvolver muitos projetos nesta área em todo o concelho. Quer pavimentações ou repavimentações de caminhos rurais, quer requalificações em termos das vias mais urbanas. Pretendo ainda iniciar, até ao final deste mandato, a construção de três lares para a terceira idade, com centro de dia, para fazer face à procura existente.

J.A. – Na sua opinião, a taxa turística faz sentido? Porquê?
J.C.R. – A taxa turística faz sentido de uma forma bem equacionada e bem estruturada. Ainda há poucos dias, estive num congresso, na Grécia, onde estive apenas uma noite em Atenas e paguei três euros de taxa turística. Ou seja, Portugal não é o único que cobra taxa turística, nem os portugueses se livram de pagar quando viajam para o estrangeiro. Considero que, se esta taxa tiver uma aplicação direta nas questões relacionadas com a atividade turística, então, está perfeitamente justificada… desde que não seja exagerada.

J.A. – Por estes dias só se fala do Brexit. Sendo que os britânicos têm um peso tremendo na “capital do turismo”, o que pensa que poderá acontecer depois da oficialização da saída do Reino Unido da União Europeia?
J.C.R. – O mercado britânico tem efetivamente muito peso na atividade turística de toda a região, com destaque para Albufeira. Não só pela quantidade de turistas que nos visitam e que residem aqui, mas também pelo seu estilo de vida, porque consomem e criam muita riqueza. No entanto, acho que as verdadeiras consequências do Brexit ainda estão por avaliar. Mas isso não nos deve impedir de começar a refletir sobre o tema desde já, porque já se sente uma quebra do mercado britânico este ano e, segundo os hoteleiros, também há menos reservas para 2019. Se está relacionado com o Brexit? Aparentemente, sim.

J.A. – Como é que a câmara poderá lidar com esta ameaça do Brexit, cujas consequências já anunciadas passam pela redução do poder de compra e diminuição de viagens dos britânicos?
J.C.R. – O que terá de acontecer é que a câmara e as agências de promoção têm de atacar outros mercados, nomeadamente da Escandinávia, China, Japão, Canadá e EUA, entre outros, mas não será fácil criar incentivos nesse sentido. Por isso, é necessário um reforço da promoção nestes mercados e, ao mesmo tempo, um reforço das ligações aéreas com esses países.

J.A. – A oposição socialista denuncia que a freguesia de Paderne tem 50% das suas habitações sem ligação à rede de saneamento público? Existe algum plano para resolver essa situação?
J.C.R. – Não será 50%, mas é verdade que ainda existem algumas zonas, nomeadamente algumas aldeias a norte da freguesia de Paderne, que têm este problema. Há alguns anos que existe um projeto adiantado, mas não tem sido possível a implementação dessa empreitada. Mas posso adiantar que vai ser lançada dentro de muito pouco tempo.

J.A. – Vai recandidatar-se nas próximas eleições à Câmara de Albufeira (2021). Já tomou essa decisão?
J.C.R. – Ainda estamos a três anos das eleições. No entanto, se o partido convidar-me e eu estiver em condições físicas e mentais, estarei disponível.

 

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Plano de drenagem para evitar inundações

“Obra do século” avança em 2020

O inverno de 2015 foi marcado por grandes inundações no centro de Albufeira, que provocaram milhões de euros em prejuízos e só por “milagre” não causaram mortes. E o pior é que a tragédia pode repetir-se a qualquer momento. Por isso, a Câmara de Albufeira quer avançar rapidamente com o plano de drenagem, que prevê a construção de um novo túnel para evitar os efeitos devastadores das cheias na baixa da cidade.
“Vai ser um investimento de fundo – o investimento do século em Albufeira”, disse o antigo presidente da autarquia, Carlos Silva e Sousa, durante a apresentação do projeto, há dois anos.
A ideia passa por construir um novo túnel entre a zona do Rossio e o porto de abrigo, que terá uma saída acima das marés mais altas e, também, acima das previsões da subida do nível do mar até ao final do século (70 centímetros). A obra vai custar cerca de 15 milhões de euros só na fase inicial.
“Vai ser uma obra extremamente importante, não só pela sua dimensão financeira, mas também porque vai servir para melhorar as condições de vida dos habitantes de Albufeira, nomeadamente na zona baixa da cidade. Esta obra vai evitar as inundações que possam causar catástrofes, porque é uma realidade que estamos cada vez mais sujeitos a fenómenos graves relacionados com o clima”, refere o atual presidente, José Carlos Rolo.
O autarca revelou ao JORNAL DO ALGARVE o ponto de situação do plano de drenagem: “Neste momento, já foram feitas as prospeções dos terrenos e estamos atualmente a aguardar os relatórios desses trabalhos. Em janeiro do próximo ano, será então realizada uma reunião de avaliação para estabelecer calendários, sendo que o túnel só deverá começar a ser construído em 2020”.

Albufeira vai ter um túnel para desviar o caudal da ribeira que atravessa a cidade diretamente para o mar, obra que visa minimizar as consequências de grandes cheias, como as que aconteceram em novembro de 2015

 

(ENTREVISTA PUBLICADA NA EDIÇÃO DO JORNAL DO ALGARVE DE 6 DE DEZEMBRO)

Nuno Couto|Jornal do Algarve

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