Pressão máxima sobre a cimeira Merkel/Sarkozy no domingo

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O G2 que manda na zona euro reúne no domingo. Os banqueiros centrais e o secretário do Tesouro americano dizem que fizeram a sua parte. Obama, o FMI e os chineses avisaram que não toleram o contágio por incapacidade política dos líderes europeus.

Os mercados financeiros vão reagir na segunda-feira a mais uma cimeira entre a chanceler Ângela Merkel e a o presidente Nicolas Sarkozy. A Alemanha e a França formam, hoje, uma espécie de G2 que comanda a zona euro e condiciona inclusive os movimentos do Reino Unido, apesar dos discursos grandiloquentes antieuro do seu primeiro-ministro em Londres.

Em cima da mesa, em Berlim, no domingo, vão estar os dossiês europeus quentes que terão de ter soluções claras a apresentar na cimeira dos ministros das Finanças do G20 (grupo das 20 economias mais poderosas do mundo, incluindo desenvolvidas e emergentes) que decorrerá em Cannes, em França, na quinta e sexta-feira da próxima semana (13 e 14 de outubro). Agenda que prossegue com a cimeira europeia de 17 e 18 de outubro.

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Os dossiês são já espessos – risco de default na ponta final do ano da Grécia com um corte de cabelo nos valores dos credores que poderá chegar a 60% (segundo a Moody’s); necessidade de recapitalização dos bancos europeus face a esse risco grego e ao contágio para os outros títulos soberanos que têm nos seus portefólios – com um número “tentativo” num intervalo entre 100 a 200 mil milhões de euros avançado por António Borges, chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Europa; concretização das funções e alcance do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e eventuais medidas adicionais por parte da Autoridade Bancária Europeia e do próprio FMI (Borges adiantou uma “ideia”, ainda não discutida, de um veículo financeiro para fins especiais e fala-se que o G20 poderá ter um “Plano B” na manga através do FMI com envolvimento forte por parte das potências emergentes); e implementação do pacote de medidas legislativas de aplicação imediata e de uma nova lei-quadro (conhecida por six pack), aprovadas na última reunião do Ecofin (reunião dos Ministros das Finanças dos 27 membros da União Europeia).

Banqueiros centrais fizeram a sua parte

Os banqueiros centrais, cada um com o seu estilo e estratégia, dizem aos dois líderes europeus, que a sua parte está feita.

Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal (Fed), continua a deixar em suspenso a possibilidade de um futuro terceiro programa de “alívio quantitativo” (quantitative easing, na designação em inglês), e entretanto entretém os investidores com uma operação “twist” no portefólio da Fed.

O secretário do Tesouro norte-americano, Tim Geithner, fez uma “adenda” importante. Disse ontem perante congressistas norte-americanos que um Lehman Brothers não se repetirá: “Não há absolutamente nenhuma hipótese” de voltar a ocorrer uma decisão de deixar cair um banco como aconteceu em final de 2008 com o famoso Lehman Brothers. Estas palavras aliviaram de imediato a pressão no mercado da dívida sobre os bancos americanos. Na terça-feira, o preço dos credit default swaps (cds, seguros contra o risco de incumprimento) da Goldman Sachs dispararam 12,3%, do Wells Fargo mais de 6% e do JPMorgan mais de 5%. Foi um dia negro para 13 dos mais importantes bancos mundiais (excetuando os chineses) em termos de subida do preço dos cds, envolvendo na onda bancos franceses, ingleses, italianos, alemães, japoneses e australianos.

Por seu lado, o Banco de Inglaterra não esteve com pruridos em imprimir mais moeda fiduciária, e face ao agravamento da estagnação económica no Reino Unido, avançou ontem com um segundo programa de “alívio quantitativo”, injetando nos próximos quatro meses mais 75 mil milhões de libras (cerca de €86,4 mil milhões) na economia e finança britânicas.

Depois de Trichet ter glosado o tema da crise com cores negras, e a revista britânica The Economist ter colocado na capa um título assustador – “Tenham medo” – engolido por um buraco negro, o governador do Banco de Inglaterra, Mervyn King, disse ontem mais uma frase marcante, de choque: “Esta é a crise financeira mais séria que vimos, pelo menos desde os anos 1930, se não mesmo desde sempre. Temos de lidar com circunstâncias pouco habituais, mas com calma e fazendo o que é certo”.

O próprio tema da fragilidade da situação da banca não poupa a Ilha de Sua Majestade. Na terça-feira negra desta semana, o custo dos cds do Barclays, Bank of Scotland, Royal Bank of Scotland (RBS) e Lloyds subiu mais de 5%. Hoje, a agência de notação de risco Moody’s procedeu ao corte de rating da dívida de 12 instituições financeiras britânicas, com particular destaque para o RBS e o Lloyds. Não mexeu, no entanto, nas notações do Barclays e do HBSC.

O Banco Central Europeu (BCE) conseguiu ontem o “consenso” em Berlim no seu conselho de governadores para ampliar o arsenal de medidas “não convencionais”, aumentando os instrumentos para disponibilizar liquidez ilimitada ao sistema financeiro europeu que poderá enfrentar um choque de um default na Grécia e uma bola de neve de contágio para os títulos soberanos de Portugal, Irlanda, Itália, Espanha, Bélgica e mesmo França. O BCE retomou duas medidas que tomara em 2009. Relançou um programa de operações de refinanciamento adicionais a 12 e 13 meses (que tem o acrónimo de LTRO – Long-Term Refinancing Operations) e vai avançar a partir de novembro com um novo programa de compra de obrigações hipotecárias (que tem o acrónimo de CBPP2 – Covered Bond Purchase Programe). Este CBPP2 disporá de um teto de €40 mil milhões até final de Outubro de 2012, um valor inferior aos €60 mil milhões do primeiro programa prosseguido em 2009 e 2010. Para alguns analistas, este CBPP2 funciona como um quantitative easing disfarçado.

Urso das bolsas acalmou uns dias

As bolsas mundiais gostaram destes movimentos dos banqueiros centrais. Depois de dois dias com quebras acumuladas de mais de 3%, o índice mundial bolsista, o MSCI World Index, recuperou cerca de 5% na quarta, quinta e sexta-feiras. O primeiro sinal de mudança de comportamento dos investidores em bolsa foi dado nos últimos 50 minutos de negociação em Wall Street na terça-feira, apesar do ruído dos “ocupas” de Wall Street. Os índices bolsistas Dow Jones e S&P 500 fecharam no positivo nesse dia, invertendo a tendência negativa na Europa e na Ásia.

O “urso” das bolsas foi, temporariamente, acalmado, mas continua à espreita, basta que seja espevitado com uma má notícia de dados económicos ou ratings (como acabou por acontecer na sexta-feira à tarde com o anúncio pela agência Fitch do corte de notação de Itália e Espanha), um rumor, uma surpresa ou um deslize dos políticos.

Segundo os estudos do analista norte-americano Mark Lundeen, desde o início de agosto que as bolsas estão a viver dias de volatilidade extrema e a 3 de outubro, na segunda feira, o índice Dow Jones deu um sinal – pela primeira vez, desde 9 de março de 2009 (quando terminou o crash iniciado em 2008), fechou em valores abaixo do mínimo das últimas 52 semanas. O que costuma ser, historicamente, uma confirmação, diz Lundeen, de uma tendência de fundo, neste caso pessimista.

JA/Rede Expresso
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