Primárias dos EUA. Ted Cruz passa a perna a Trump

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Ted Cruz

Houve quem se tentasse adiantar aos resultados do primeiro evento formal que precede a eleição do sucessor de Barack Obama a 8 de novembro. Durante a tarde desta segunda-feira, os media norte-americanos centraram-se nas últimas sondagens antes do caucus do Iowa, que anteviam a liderança da corrida republicana pelo magnata Donald Trump, com entre 28% e 36% dos votos, seguido do senador pelo Texas Ted Cruz e do senador pela Florida Marco Rubio.

Ao cair da noite, enquanto espaços públicos do estado, como escolas, igrejas e até quartéis de bombeiros, abriam as suas portas pelas 19h para os caucuses, alguns analistas viravam-se para a volatilidade dos eleitores e sobretudo desta corrida presidencial, a mais renhida e incerta em décadas. E poucas horas antes dos primeiros resultados à boca de urna era Jack Shaffer, da revista “Politico”, quem avisava: “Os especialistas estão prestes a estar errados. É garantido.”

Estavam mesmo. Afinal, ganhou Ted Cruz. De acordo com a Associated Press esta manhã, o evangélico que se destacou no movimento ultraconservador Tea Party foi quem mais se aproximou do eleitorado republicano do Iowa — o estado norte-americano que, de quatro em quatros anos, inaugura as primárias dos dois grandes partidos que culminam nas convenções do verão, de onde saem os dois candidatos finais. Se fosse o Iowa a decidir tudo, era Ted Cruz quem avançava para a disputa presidencial, tendo angariado os 28% de votos inicialmente apontados a Trump. Um total superior ao que, há quatro anos, foi alcançado por Rick Santorum numa corrida contra menos rivais do que os 12 que este ano disputam a nomeação do Grand Old Party (GOP).

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Parece que o multimilionário não é conservador suficiente para muitos republicanos do Iowa. De acordo com uma sondagem levada a cabo junto de 1794 republicanos dos 99 condados do estado à entrada para os seus caucuses, 44% disseram ser “muito conservadores” e rever-se mais em Cruz, por oposição a Trump (21%) e a Marco Rubio (15%) — que terá alcançado um terceiro lugar com mais votos do que inicialmente antecipado, 22%, e com tendência para subir.

A outra lição oferecida pela sondagem é que, de facto, era mais fácil prever que ia nevar na noite das primárias do Iowa do que adivinhar quem ia ganhar: 35% do total de inquiridos (entre os 1794 republicanos e 1660 eleitores registados como democratas) disseram só ter decidido em quem iam votar “nos últimos dias”.

Surpreendente, dirão alguns, foi também a forma como Trump concedeu a derrota, dando de imediato os parabéns ao rival e voltando ao discurso “nós vs. eles”. “Vamos prosseguir na conquista da nomeação pelo Partido Republicano e vamos derrotar Hillary ou Bernie”, prometeu aos seus apoiantes em Des Moines, a capital do Iowa.

Os jovens estão com Sanders

Ainda que os resultados definitivos da primeira etapa das primárias só sejam conhecidos durante a tarde desta terça-feira, é quase certo que os dois grandes da corrida democrata fiquem empatados no Iowa. Na primeira contagem, a Associated Press prevê um empate técnico entre Bernie Sanders, o senador pelo estado de Vermont, e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton. E é na corrida democrata que se regista a primeira baixa, com o ex-governador do Maryland Martin O’Malley a assumir (bem antes de terminados os caucuses do estado) a sua derrota junto do eleitorado e a anunciar a saída da corrida.

Aqui, as surpresas foram menores e o Iowa serviu para confirmar o que muitos analistas apontaram nas últimas semanas: se Clinton gera mais sucesso entre os eleitores mais velhos e as mulheres, Sanders é o campeão da juventude. Há dois dias, a revista “Politico”, num título algo provocador, referia que o autodeclarado democrata socialista está “obcecado com jovens de 17 anos (e com os seus telemóveis)”. E a jogada parece ser de mestre.

A corrida à Casa Branca é sempre ditada pelo dinheiro que cada candidato angaria, mas num ano de profunda incerteza política a forma como esse dinheiro é investido ganha redobrada importância. Hillary tem recebido somas astronómicas de investidores e apoiantes, da Planned Parenthood a Wall Street, alavancada numa espécie de certeza de que tem a nomeação democrata no papo. Cruz tem investido muito mais dinheiro em anúncios de televisão do que Trump (fonte da “Politico” dizia há alguns dias ao Expresso que o magnata incendiário não gastou um único cêntimo em publicidade direta desde o início da campanha presidencial em 2015).

É um campeonato em que Sanders sairia a perder, não fosse o facto de concentrar os fundos de campanha nos que mais se aproximam dos seus ideais. No caso, adolescentes que completarão 18 anos antes de 8 de novembro, o dia da eleição do próximo Presidente dos EUA, e jovens adultos liberais de esquerda que se reveem no seu discurso antissistema. A estratégia parece estar a resultar, pelo menos a julgar pelo Iowa.

(Se fosse americano e democrata, qual seria o seu candidato?)

Próxima paragem: New Hampshire

Ainda os caucuses do Iowa não tinham terminado e vários candidatos já estavam a assentar arraiais no New Hampshire, um estado swing (de maioria indecisa, que pende para um partido ou outro consoante o ano eleitorail) na costa Leste, onde republicanos como o governador do Ohio John Kasich e o ex-governador da Florida Jeb Bush aparecem mais bem colocados nas sondagens de intenção de voto.

Se durante segunda-feira os cidadãos do Iowa (um estado do Midwest pouco representativo da diversidade populacional americana) escolheram os seus candidatos favoritos e os delegados que os representarão nas convenções nacionais dos partidos através do sistema de caucus, no New Hampshire a votação vai decorrer de forma mais simples — com cada eleitor a depositar um voto por candidato, redefinindo ou confirmando os primeiros resultados da corrida.

Os casos de Kasich e Bush mostram bem que, apesar da importância que o Iowa sempre tem em ano de eleições, está longe de definir os resultados finais; ambos abdicaram da primeira etapa para se concentrarem na segunda, o New Hampshire, que vai a votos já daqui a uma semana, a 9 de fevereiro. Mais do que definir quem sairá vencedor, as duas primeiras paragens eleitorais servem sobretudo para ditar derrotados, para forçar os menos populares a abandonar a corrida. O democrata O’Malley e o republicano Mike Huckabee ficaram-se pelo Iowa. Quem ficará pelo caminho no New Hampshire?

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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