Primeira baixa no governo do Brasil: Romero Jucá, o ministro que planeava obstruir o Lava Jato

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Um aliado próximo do Presidente interino do Brasil, Michel Temer, apresentou a sua demissão num novo escândalo político, naquela que é a primeira baixa do governo em funções desde que Dilma Rousseff foi afastada do cargo pelo Senado, por suspeitas de ter manipulado as contas do Orçamento de 2014.

Escolhido por Temer para ministro do Planeamento, Romero Jucá anunciou ao final do dia desta segunda-feira que abandona o governo interino após o jornal “Folha de São Paulo” ter divulgado gravações ocultas em que surge a conspirar para obstruir a maior investigação de corrupção da história do Brasil, o Lava Jato, que investiga crimes de desvio e lavagem de dinheiro através da estatal petrolífera Petrobras por dezenas de empresários e políticos de todos os partidos com assento parlamentar.

Nas gravações, captadas de forma oculta em março, o ex-deputado do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o mesmo de Michel Temer, discute com o ex-presidente da empresa Transpetro, Sérgio Machado, formas de obstruir a investigação – ou “estancar a sangria” – para ficarem ambos a salvo dela.

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Os diálogos ocorreram semanas antes da votação na Câmara dos Deputados pela destituição da Presidente que abriu caminho à sua suspensão por 180 dias, decidida pelo Senado a 12 de maio. No total, as conversas gravadas somam 1h15 e já estão na posse da Procuradoria-Geral da República.

Numa das conversas, Machado diz a Jucá: “[Rodrigo] Janot [o procurador-geral] está a fim de pegar você e acha que eu sou o caminho. […] Ele acha que eu sou o caixa de vocês”, leia-se, dos deputados do PMDB investigados no caso Lava Jato. No diálogo, os dois homens discutem como evitar que as apurações contra eles sejam enviadas do Supremo Tribunal em Brasília para as mãos do juiz Sério Moro, responsável pela investigação, em Curitiba.

Machado alega nessas conversas com Jucá que o envio do processo de Brasília para Curitiba levaria a que o obrigassem a denunciar os crimes de corrupção cometidos por líderes do PMDB. A dada altura, faz uma “ameaça velada”, aponta a “Folha”, e pede a Jucá que seja montada uma “estrutura” que o proteja: “Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer’… Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída.”

Jucá responde que seria necessário dar uma resposta política para evitar que o processo chegasse às mãos de Sérgio Moro. “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz o agora ex-ministro, que foi um dos articuladores da destituição de Dilma. Machado responde que seria necessária “uma coisa política e rápida”. Jucá concorda, dizendo achar que “a gente precisa articular uma ação política”.

Numa das conversas, o ministro demissionário diz a Machado que está “conversando com os generais, comandantes militares” e que “está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir”, no que os apoiantes de Dilma dizem ser mais uma prova de que o seu afastamento foi um golpe de Estado, algo que ela própria alega.

Em conferência de imprensa esta segunda-feira à noite, Jucá não desmentiu a autenticidade das gravações mas sublinhou que as suas declarações nesses diálogos foram “mal-interpretadas” e “tiradas de contexto”. O seu advogado António Carlos de Almeida Castro garantiu aos jornalistas que o seu cliente “jamais pensaria em fazer qualquer interferência” no Lava Jato e que as conversas não contêm quaisquer ilegalidades.

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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