O matemático britânico Robin Wilson defendeu hoje, em Leiria, a necessidade de os professores de matemática conquistarem a capacidade de comunicar para ajudar o público a tirar prazer daquela ciência.
“Para a maioria das pessoas, matemática significa algo que tentaram aprender na escola há 30 ou 40 anos e que não perceberam, porque tiveram um mau professor ou porque o método não era o melhor. Mas há muitas coisas excitantes que envolvem matemática”, disse o investigador e divulgador, que nos últimos anos fez milhares de comunicações sobre o assunto.
Robin Wilson participou hoje numa sessão do Encontro Nacional da Sociedade Portuguesa de Matemática, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria.
Perante uma plateia constituída sobretudo por professores, o autor de livros que falam da matemática presente em “Alice no País das Maravilhas” ou “Sherlock Holmes”, deu sugestões para levar as pessoas a interessarem-se “por um assunto que para a maioria é enfadonho”.
“Há muita gente a jogar Sudoku que não sabe que aquilo é matemática; a segurança dos nossos cartões de crédito está dependente dos números primos; a teoria dos números está presente sempre que ligamos um computador, arrancamos um carro ou usamos um interruptor; quando enchemos o porta bagagens para ir de férias, estamos a resolver um problema de geometria”.
O recurso a outras ciências, como a música ou a história, é também sugerido por Robin Wilson.
O investigador lembra que Newton e a maçã ou um episódio em que Arquimedes correu nu pela rua “são boas formas de tornar a matemática interessante. Podem nem ser verdade – não temos provas -, mas temos de as contar porque nos ajudam”.
Do mesmo modo, os órgãos de comunicação e a arte são trunfos a que a matemática pode recorrer para deixar de ser aborrecida.
“A BBC tem um programa de rádio sobre matemática que é ouvido por 2 milhões de pessoas”. E Robin Wilson lembra que há “peças de teatro e os filmes que envolvem matemática”.
“Há muitas formas de tornar a matemática atraente. É um jogo que temos mesmo de jogar: comunicar matemática”, sublinhou.
O matemático referiu que, tal como nas suas palestras que se dirigem desde a físicos a coleccionadores de selos ou fãs da Alice no País das Maravilhas, “temos de ver com quem estamos a comunicar para lhes dizer a coisa certa e mudarem de atitude perante a matemática”.
Também o poder político pode ajudar a dar uma nova visão da matemática. “Os governos têm de perceber que a comunicação é tão importante quanto a investigação. A investigação tem de continuar e quem a faz tem de ter condições. Mas também por aí pode haver uma mudança de atitude”.
Em Leiria, Wilson realçou ainda o lado emocional da matemática:
“Podemos comover-nos a resolver um problema. Quando se joga xadrez, estamos a trabalhar com matemática e tiramos prazer disso. Temos de conseguir que as pessoas usem a matemática para tirar prazer dela. O lado artístico da matemática é muito importante e temos de o explorar. Pode demorar um par de semanas, meses ou anos, mas creio que conseguimos mudar a atitude”.