Convém começar por lembrar que o SNS só teve possibilidade de ser elaborado e ser o que é (ou melhor o que já foi) graças ao anterior movimento médico das carreiras médicas anterior ao 25 de Abril no sentido e onde entre outros o prof Miller Guerra desempenhou um papel fundamental.
Convenhamos, as carreiras médicas são a pedra basilar do SNS e quem não entende isto não entende nada.
Perguntar-se-à então porque razão o governo/PS se recusa a definir de uma vez por todas contra a opinião do B.E., por exemplo, a implementação das fundamentais carreiras o que, em grande , foi claramente já responsável pela perda de centenas ou milhares de médicos e outros profissionais de saúde pelo o SNS. Mais …este desiderato condicionou o aparecimento, pasme-se, de “empresas“ de contratação de médicos????? por preços inconcebíveis e em cima da hora, sem formação específica; centenas de profissionais que inclusive auferiam vencimentos superiores aos directores de serviço. E assim se foi e se mantém a destruição do SNS… para além de muitos outros expedientes que iriam para além deste artigo.
Apenas me ocorrem duas ou três possíveis explicações.
A primeira será o medo do contágio a outras áreas da saúde nomeadamente à enfermagem o que evidentemente não colhe de forma alguma salvo numa perspetiva puramente economicista…
A segunda poderá ter a ver com um eventual conflito/interesse dos privados (leia-se grandes grupos) .
A terceira passará por uma definição política de manter uma mão de obra médica barata em sintonia com uma medicina privada menos custosa ao estado .
Ou ainda outra, talvez a mais significativa e que em última análise terá a ver com a necessidade/interesse em colocar e manter médicos da sua confiança partidária em lugares de chefia , no que aliás vem há largos anos a competir com o PPD/PSD.
Enfim. seja qual for a razão ou as razões, o facto é que com acordos ou sem acordos o PS aí não cede – isso de carreiras é que não!!!… nem mesmo para a líder Ana Catarina Mendes que na sua intensa formação política definiu de uma vez por todas “o que é ser de direita ou de esquerda “pressupondo que ELA é de esquerda (??!!). Para os digníssimos jurisconsultos ou para os militares tudo bem é natural e justamente Assim como o foi para os médicos do SNS até surgirem os novos “CEO’s”. dos Hospitais e, pior, das fundamentais(!?)ARS’s.
E hoje aqui, amanhã ali, os hospitais foram passando, inclusivé a nível clínico, para o controlo de personalidades completamente alheias a um conhecimento fundamental não só da verdadeira génese e implementação do SNS como de todo um conhecimento adquirido ao longo de anos e anos.
Não admirará a nenhum médico hoje já reformado como eu que os concursos abertos e nos moldes conhecidos fiquem desertos ou que outros procurem uma progressão no estrangeiro ou mesmo melhores condições de trabalho em hospitais privados e inclusivé melhores remunerações nomeadamente em determinadas especialidades.
Mas, infelizmente, foi o que aconteceu!!!
E, mesmo volvidos todos estes anos, as contradições internas do PS não permitem corrigir, de uma vez por todas , algo fundamental para o SNS como são as carreiras médicas.
Ainda bem que ainda há quem o entenda e coloque como não moeda de troca…
Trata-se de em tempo útil e já tardio de “reconquistar“ um verdadeiro SNS como Arnault e o meu colega e amigo João Semedo tão bem definiram e lutaram.
Eurico Gomes
Médico, Presidente da Direção e Diretor Clínico da A.E.D.M.A.D.A.
IPSS Área da Saúde Associação Diabéticosdo Algarve – Clínica de Diabetes