Quarteira: Triatletas da Ucrânia querem mostrar que país segue em frente

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“Estou de alma e coração com o meu país. Como atleta, estou preparada para mostrar o melhor possível. Queremos mostrar que o desporto continua e que, mesmo em situação de guerra, a Ucrânia funciona, existe, é um país independente e que deve e vai seguir em frente”, disse Maryna, de 24 anos, aos jornalistas.

A atleta volta a Quarteira apenas quatro meses depois de ali ter sido 16.ª classificada, também numa etapa da Taça da Europa, mas desde novembro o mundo mudou e o seu país está agora em guerra.

“Foi a minha irmã, que está em Brovary, perto de Kiev, que me ligou às cinco da manhã, no dia 24 [de fevereiro], a dizer que as bombas tinham começado a cair. Foi assim que soube. Foi um choque, sentimos todos um grande choque”, recordou Maryna, que na altura estava a milhares de quilómetros, a cumprir estágio na Turquia, e hoje tem alguns amigos, também atletas profissionais, “a combater o inimigo na linha da frente”.

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Sergiy Kurochkin, que também estava a estagiar na Turquia aquando do início da invasão russa, quer “tentar pôr os sentimentos de lado” assim que, no sábado, entrar na água, no primeiro setor da prova de triatlo, reconhecendo que vai ser complicado.

“Quero tentar mostrar a qualidade e os resultados da preparação que fizemos. Sou um atleta profissional, mas sei que, como estou a representar o meu país e o povo ucraniano, será muito difícil”, afirmou.

O triatleta de 33 anos é natural de Zaporijia, uma das zonas mais afetadas pelos bombardeamentos da Rússia e onde estão atualmente os pais, que ainda não pensam em sair da Ucrânia.

“Após um mês de bombardeamentos, eles já quase aceitaram a situação como normal. As sirenes estão sempre a tocar, mísseis a cair. Para já, ninguém da minha família quer sair. Queremos defender a nossa terra. Só se a situação piorar, ou ficar impossível de viver, como acontece em Mariupol, é que poderão sair. A minha mãe nasceu em Volnovakha. É uma cidade que, simplesmente, já não existe”, contou, emocionado, Sergiy.

Com os seus pais na região de Rivne, numa zona “mais segura” no oeste do país, Maryna Kyryk, antiga nadadora profissional, confessou, por seu lado, que “tem sido muito difícil treinar” e abstrair-se do conflito, estando sempre ‘de olho’ no telemóvel.

“Eles estão numa zona calma e temos conseguido comunicar. Mas, durante os treinos, tenho o telemóvel comigo, sempre a olhar para as mensagens. Os meus pais avisam-me sempre que vão para o ‘bunker’ e ficam sem comunicações. Depois há sempre a ansiedade de saber quando saem, quando me dizem algo. Estou sempre a treinar com muito, muito, muito ‘stress’”, confessa.

Os dois atletas estão em Quarteira com o apoio da federação portuguesa, que assegurou isenção do custo de inscrições e apoio logístico na estadia e alimentação.

“Tivemos imensa ajuda da federação portuguesa e da federação internacional para estar aqui. Estamos surpreendidos com o apoio e a solidariedade enorme que o mundo tem demonstrado, estou muito grata que o mundo acredite na Ucrânia e não na Rússia. É um apoio muito importante para nós”, sublinhou Maryna Kyryk.

Depois de Portugal, a triatleta segue para Espanha, onde tem presença confirmada noutra prova, mas tem “esperança de que a guerra, a ocupação liderada por [Vladimir] Putin, acabe rapidamente”, porque quer voltar à Ucrânia natal.

“No dia 24 de fevereiro, estava a treinar na Turquia, integrado num estágio com mais atletas ucranianos. Era um dia normal e, quando recebemos as notícias da invasão, não queríamos acreditar. Tem sido um pesadelo. Com o passar dos dias, e tudo a piorar, ninguém quer acreditar no que se está a passar. Parece um filme”, concluiu Sergiy Kurochkin sobre a situação na Ucrânia.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.035 mortos, incluindo 90 crianças, e 1.650 feridos, dos quais 118 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,70 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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