Quilómetros de cercas com arame farpado não travam migrantes em Calais

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São muitos quilómetros de altas cercas, duplas, metálicas e todas com grandes rolos de arame farpado no topo e na base, sempre nas imediações das linhas do comboio Eurostar, que liga a França à Grã-Bretanha.

O Expresso percorreu, nesta quinta-feira, meia dúzia de quilómetros entre a Cité Europe, nas imediações da pequena vila de Coquelles, onde está instalado o edifício da sede da empresa que gere o Eurotúnel, e a entrada do túnel sob o mar da Mancha. Toda a zona de campos agrícolas da região tem idênticas vedações duplas com cerca de três metros de altura e grosso arame farpado, para impedir os migrantes de chegarem à ferrovia.

A sede do Eurostar também está protegida da mesma forma, bem como o centro de socorro médico instalado a algumas centenas de metros da entrada do túnel.

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Todas as vedações foram inspecionadas e reforçadas nos últimos dias e semanas. Junto às antigas, com grades e arame farpado enferrujado, foram construídas novas, mais altas e mais seguras. Nota-se bem a diferença entre ambas porque as novas cercas metálicas são novinhas: cintilam ao sol e não apresentam qualquer sinal de ferrugem. As antigas vedações também foram reparadas com rolos de duro arame farpado nos locais onde existiam furos e por onde passavam os migrantes.

A construção de todas estas cercas – há novas atualmente em construção entre as localidades de Frethun e Coquelles, designadamente à volta da estação onde os camiões embarcam nos comboios para a travessia do canal da Mancha – foi financiada pela Grã-Bretanha. Com a imensa e intransponível vedação, igualmente dupla, construída à volta do porto de Calais, Londres gastou já pelo menos 20 milhões de euros.

Apesar destes autênticos muros metálicos, que dão a toda a a vasta zona um vago ar de imenso campo de concentração, os migrantes continuam a conseguir entrar todos os dias e noites para os camiões e a penetrar no túnel.

Um deles, um nigeriano, foi detido na terça-feira já perto de Follkestone (fronteira britânica), depois de ter percorrido 50 km a pé, o que é muito perigoso devido à intensidade do tráfego ferroviário nas linhas.

Ninguém consegue explicar como ele e outros conseguem chegar à ferrovia e ao túnel. Por exemplo, para entrar na boca do Eurotúnel, o nigeriano precisou de galgar pelo menos quatro altas vedações, escapar às frequentes rondas policiais franco-britânicas, que foram reforçadas nos últimos dias, e evitar a vigilância de 400 câmaras que foram instaladas no local.

Estimativas apontam para a existência em Calais de cerca de cinco mil migrantes, todos com o objetivo de atingirem a Grã-Bretanha, onde pensam ter mais facilidades para trabalhar e conseguir a legalização.

Para conseguirem entrar no túnel ou esconderem-se nos camiões, recorrem geralmente a uma estratégia simples de diversão: algumas centenas simulam uma tentativa de invasão em massa num determinado local enquanto pequenos grupos aproveitam a confusão para ludribiarem, noutra zona, a apertada vigilância das forças de segurança.

Os migrantes vivem em condições de extrema precariedade em bairros da lata, por vezes imensos, em baldios da zona de Calais.

Nesta quinta-feira, foram sobressaltados pelas notícias sobre o naufrágio de mais um barco de refugiados no Mediterrâneo. “Estamos dispostos a tudo, mesmo a morrer, para escapar à vida que tínhamos nos nossos países, à fome e às guerras; queremos ir para a Inglaterra, onde eu e o meu irmão que está aqui comigo até temos familiares à nossa espera”, diz ao Expresso um sudanês que garante ter demorado cerca de um ano na espantosa e perigosa viagem que efetuou entre o seu país e Calais.

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