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As tecnologias evoluíram, a rádio mudou e entrou na era digital, mas a amizade e a companhia para os ouvintes, muitas vezes quebrando a solidão, mantêm-se inalteradas
DOMINGOS VIEGAS
A Rádio Guadiana, de Vila Real de Santo António, celebrou 27 anos na passada quinta-feira, 10 de março, com um programa especial, ao longo de todo o dia, que incluiu entrevistas a responsáveis de diversas entidades do concelho, telefonemas de ouvintes e intervenções de diversas figuras da rádio, entre as quais o humorista Nilton ou o radialista Nuno Soares.
Estes 27 anos são contabilizados a partir do registo oficial da emissora, efetuado depois da publicação, em Diário da República, da chamada Lei da Rádio (no ano anterior, ou seja, 1988), que permitiu abrir o setor a operadores privados locais e regionais, embora a Rádio Guadiana já emitisse desde há vários anos, tal como muitas outras espalhadas pelo país.
Os últimos 16 anos da história da Rádio Guadiana decorreram sob a direção de José Mendes, que adquiriu a estação em 2000 ao atual diretor do Jornal do Algarve, Fernando Reis. E foi precisamente nestes últimos anos que a Rádio Guadiana mudou completamente a sua componente técnica, por força dos avanços tecnológicos que foram surgindo.
Aliás, a tecnologia é mesmo a grande diferença em relação ao passado. Os discos em vinil, as antigas cassetes e até os ‘compact disc’ (CD) há muito que fazem parte da história. Hoje, vivemos na era digital e, numa rádio, já passa tudo por estas novas tecnologias.
“Já nem sequer a música está em CD. Há muito tempo que isso faz parte do passado. Recebemos as músicas por e-mail, descarregamos os ficheiros e guardamos nos discos rígidos dos computadores que, agora, são o nosso suporte de armazenamento”, conta José Mendes que, tal como a restante equipa, teve que se adaptar aos novos tempos.
E este é apenas um exemplo das grandes diferenças entre o dia a dia de trabalho na rádio de hoje e de há cerca de três décadas. “Até o funcionamento do emissor principal, que está na freguesia de Vila Nova de Cacela, é controlado remotamente com as novas tecnologias. Posso ver a potência a que está a emitir, posso ver se está tudo bem e posso liga-lo ou desliga-lo, a partir daqui. Tenho aqui toda a informação na mão”, acrescenta o outro José Mendes da família, filho do diretor da estação, enquanto nos mostra o telemóvel e a aplicação que permite realizar toda aquela panóplia de funções.
Para os mais curiosos, os responsáveis daquela rádio revelam ainda que a enorme antena localizada no teto do edifício que alberga os estúdios, na Avenida da República e em pleno centro histórico, ao contrário do que se possa pensar, não está a emitir diretamente para os aparelhos recetores da população. Aquela estrutura emite para uma outra antena, de maiores dimensões, que está localizada no Sítio da Carvoeira (freguesia de Vila Nova de Cacela), e é a partir daí que é feita a “distribuição” do sinal de rádio para todos os ouvintes.
Mas, hoje em dia, a rádio não se transmite apenas pelas ondas hertzianas. No caso da Rádio Guadiana, estas levam as emissões diárias a praticamente todo o sotavento algarvio e a grande parte da província espanhola de Huelva. Porém, a internet veio permitir que a rádio possa ser ouvida em qualquer parte do mundo. “Já recebemos telefonemas de ouvintes que residem, por exemplo, na Austrália. Este foi o mais distante, mas é habitual contactarem-nos de muitos outros países”, revela Paula Mendes, gerente da emissora, explicando que, além da internet (www.radioguadiana.pt), a rádio vila-realense também pode ser ouvida através do canal 502 do MEO.
Há coisas que nunca mudam
No entanto, e apesar de todas as alterações técnicas, há coisas que nunca mudam. A amizade e a companhia que a rádio continua a transmitir às pessoas ou a informação localizada da sua terra mantém-se e, certamente, continuará por muitos anos.
“Através do retorno que temos, sabemos perfeitamente que a Guadiana continua a ser uma grande companheira para muita gente. E, por muito que a tecnologia avance em todos os meios de comunicação, a rádio continua a ser o primeiro órgão a informar e o primeiro a estar em cima do acontecimento. Por exemplo, basta um telemóvel para que um repórter entre em direto e conte aos ouvintes o que está a suceder, em cima do acontecimento”, sublinha José Mendes.
Atualmente, trabalham na Rádio Guadiana onze pessoas, entre radialistas, jornalistas, técnicos e administração. Aquela emissora local, e generalista, tem uma programação variada, que vai desde os programas musicais (do fado ao rock, passando pelos mais diversos estilos) até à informação, com especial destaque para o âmbito local e regional, e também programas de atualidade e entrevistas.
Mas como é que a Rádio Guadiana tem sentido a crise económica, geral, dos últimos anos? “Temos passado pela crise recorrendo a outros serviços da empresa, como a produção de espetáculos, a organização de festas, a gestão de artistas, os serviços de som em diversos eventos e festas, entre outros. Graças a isso, não temos, e nunca tivemos, ordenados em atraso. Aqui, toda a gente recebe, a pronto, no final de cada mês. É o que diz a lei e é assim que tem de ser. Só com o serviço de rádio era completamente impossível dar emprego a estas pessoas. Por isso, apostámos nesses outros serviços que nos permitem ter a liquidez necessária no final de cada mês”, explica José Mendes.
Aliás, a situação económica do país faz com que o diretor da estação não se aventure, para já, em grandes projetos de futuro: “Devido à situação do mercado, não podemos pensar em ir muito mais além do que manter os atuais postos de trabalho. Porém, vamos tentar investir um pouco mais em equipamento, porque é fundamental para acompanhar a evolução. E, claro, nunca vamos deixar de lutar, todos os dias, para aumentar a qualidade”, conclui o diretor da Rádio Guadiana.
(Reportagem publicada na edição impressa do Jornal do Algarve de 17/03/2016)
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