Reestruturação da dívida portuguesa no horizonte

ouvir notícia

Se uma depressão profunda varrer o país em 2012 e a crise da dívida se agravar em Itália e Espanha, Portugal poderá ter de reestruturar a sua dívida soberana, dizem economistas portugueses radicados no estrangeiro

Depois da crise política grega ter chegado a um novo pico, da “entrada” do Fundo Monetário Internacional na Itália se ter concretizado, do Banco Central Europeu, pela boca do seu novo presidente Mario Draghi, ter admitido que uma “recessão suave” vai espreitar a zona euro “pelo final do ano”e da mão cheia de nada do G20 de Cannes, o quadro de evolução da economia portuguesa moveu-se.

Como o Expresso divulga no caderno de Economia da sua edição deste sábado (5 de novembro), vários estudos de cenários realizados por grupos de académicos portugueses já apontam para uma depressão séria em Portugal em 2012, derrapando muito para além da previsão oficial de recessão de 2,8%.

- Publicidade -

Uma das consequências de um agravamento do quadro económico pode ser a necessidade de uma reestruturação da dívida portuguesa, tema a que voltamos ouvindo três economistas radicados no estrangeiro.

Ainda que as situações grega, portuguesa e irlandesa sejam distintas, o processo de negociação com os credores privados da dívida soberana grega (que poderá implicar um corte de 1/3 no seu valor facial) bem como a possibilidade de uma revisão na Irlanda dos termos das promissórias aos bancos, a que nos referimos noutro artigo, são processos a ser seguidos com atenção.

Recessão interna e fator exógeno

“Se o produto interno bruto (real) cair 10% no próximo ano será quase impossível não haver uma reestruturação da dívida. Se cair apenas 5% provavelmente não. A meu ver, tudo depende de quão grave possa ser a recessão no próximo ano”, diz Daniel Dias, professor de Economia na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign.

No fundo, Daniel Dias considera como fator decisivo da precipitação de uma reestruturação da dívida uma depressão profunda no país em 2012 que supere as próprias previsões oficiais de uma contração de 2,8% ou mesmo os cenários mais pessimistas de vários economistas portugueses que apontam para um intervalo recessivo entre 3% e 5%, como se refere na edição do Expresso de amanhã.

No entanto, para Nuno Monteiro, professor de Ciência Política na Universidade de Yale, perto de Nova Iorque, “algures em 2012 ou 2013”, o país terá de renegociar a dívida com os credores. “Como já escrevi no Expresso e no The Guardian há mais de seis meses, a dívida pública portuguesa é demasiado grande para ser reembolsável. Mais tarde ou mais cedo, teremos de acordar com os credores – e com as grandes potências do euro – uma tal reestruturação, renegociando prazos de reembolso, taxas de juro, ou mesmo muito provavelmente um ‘corte de cabelo’ (hair cut). É uma questão de tempo”.

Para Rui Esteves, professor de Economia na Universidade de Oxford, no Reino Unido, o atual processo em curso na Grécia de negociação de uma reestruturação parcial da dívida detida por credores privados, não é “necessariamente” um laboratório do que terá de acontecer com outros países da zona euro já com planos de resgate, como são o caso da Irlanda e de Portugal. “Se o problema grego for circunscrito ainda será possível aos outros países com planos de resgate evitarem uma reestruturação da dívida, mas para isso a União Europeia terá de se mover mais rapidamente para evitar os efeitos de contágio”. Ora o balanço desta semana de crise na Grécia e em Itália e os resultados da cimeira do G20 em Cannes são pouco tranquilizadores.

JA/Rede Expresso
- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.