Remate certeiro: Alfredo Graça

Alfredo Graça. Bancário, músico e homem de Abril

2021 estava às portas da morte, quando a 27 de Dezembro, perto das 10.08 da manhã, assombrado pela morte de Desmond Tuto vejo este terrível ano a rir para mim. A rir às gargalhadas com cara de gozo, aquele gozo matreiro e falso, com que uma mão gigante de portuguesas e portugueses, diariamente nos entram por casa ao colo de cada canal de televisão, pela voz das rádios ou pela leitura dos jornais, como se o País, fosse um programa denominado: O mundo esquisito em que vivemos.


Mas também ficámos marcados pelo falecimento de Alfredo Graça, a quem deixamos as nossas homenagens e o nosso agradecimento como vila-realenses.


Alfredo José Zarcos Graça nasceu em Vila Real de Santo António no dia 6 de agosto de 1937 e foi membro do PCP, da Comissão Concelhia local e da Direção da Organização Regional do Algarve.


O seu mandato como presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António decorreu entre janeiro de 1980 e janeiro de 1986, eleito pela coligação APU – Aliança Povo Unido, entre o Partido Comunista Português, de quem foi militante até ao fim da vida, e o MDP/CDE.


O Município de Vila Real de Santo António, que decretou dois dias de luto municipal, colocando a bandeira a meia haste, recorda Alfredo Graça:


“Foram anos intensos de dedicação ao trabalho nos seis anos em que desempenhou o mandato autárquico, aplicando um pensamento de vanguarda numa época em que as autarquias locais não tinham praticamente autonomia política e financeira”.


Durante a sua presidência, foi responsável pela construção de um Plano Diretor Municipal (PDM), o oitavo a ser levado à prática em Portugal, e desenvolveu importantes iniciativas ao nível do planeamento urbanístico, valorizando não só a qualidade dos edifícios, mas também do urbanismo.

Agosto de 2018, almoço PicNic, Alfredo Graça, Francisco Ramires e João Tenório dando voz e som a momentos memoráveis


Alfredo Graça desempenhou o seu mandato em condições difíceis. Tinha acabado de ser aprovada uma lei de finanças locais e as autarquias ainda não tinham meios financeiros suficientes para as grandes carências das populações, designadamente no abastecimento de água, na construção de redes de esgotos e na construção de estradas e caminhos.


Nos seus anos de governação, a Câmara de VRSA ainda destaca “iniciativas ligadas à habitação social e ao apoio às famílias, tendo liderado processos como a mudança do mercado municipal para uma área estratégica de desenvolvimento ou a criação das linhas gerais do PDM e do Complexo Desportivo”.


Foi igualmente responsável pelo estreitamento dos laços com a vizinha Espanha, através da geminação com Ayamonte.


Também o Partido Comunista Português, que manifestou o seu mais profundo pesar sobre o falecimento de Alfredo Graça, deixou outros sinais do trabalho realizado pelo homem, pelo político e pelo antifascista:


“Alfredo Graça destacou-se ainda por estar ao lado das lutas operárias das conserveiras contra o encerramento das fábricas, além de estar envolvido na ‘Operação Sertão’, que evitou que a metade poente de Monte Gordo se tornasse numa zona degradada.


Bancário, músico e homem de Abril, Alfredo Graça participou ainda na União dos Resistentes Antifascistas Portugueses e um dos fundadores da Associação de Reformados Pensionistas e Idosos de Vila Real de Santo António”.


Portanto, hoje neste fecho do ano, também tangemos na nossa memória sobre o desaparecimento de Alfredo Graça, que de igual modo, apostado em combater as injustiças que tinham calcinado a vida de Vila Real de Santo António e do seu concelho, no que se refere às questões sociais e ao aumento da fragilidade humana, chega à presidência da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, com os ventos de esperança soprando as bandeiras da APU – Aliança Povo Unido.


Conhecemos Alfredo Graça ainda garotos. Tínhamos uma relação família por parte de meu pai…coisas distantes, que não evitavam que nos tratássemos por primaços. Aliás, naqueles tempos, eramos todos primaços.


Alfredo Graça, foi colaborado do Dr. Cavaco, conservador do Registo Predial, cujo cartório, estava entalado entre a porta da Câmara e o Posto da Polícia.


Como músico, correu La vizinha Andaluzia e o Algarve, mas foi com Oropesa e Su quarteto, como por vezes se anunciava, que percorreu o começo, o futuro e o destino do turismo em Monte Gordo, fazendo do Hotel Vasco da Gama, a sua sala maior de espectáculos.

Dia 29 de Junho de 1963, já lá vão 57 anos, actuação do conjunto Oropesa, na Esplanada dos Bombeiros


E as noites sem fim no palco do Lusitano, no Velho Parque de S. José, ali bem encostado ao Hospital Marques de Pombal, que logo à entrada tinha uma placa que dizia Posto de Socorros Luigi Parodi – BANCO – Instituído em 1924 pelo Exmo. Commendador Mário Parodi.


Alfredo Graça foi o primeiro Presidente do Grupo Desportivo PICNIC, que normalmente acolhia outros dois grandes músicos e cantantes que por lá andava nessa altura, casos dos bons amigos Francisco Ramires e João da Bita, (João Tenório)…


Vivemos juntos, grandes e longos serões no PICNIC… depois, quando chegou o 25 de Abril de 1974, já eu tinha dobrado a barra do Guadiana e arribado a outros portos.


Todavia, cruzamo-nos muitas outras vezes, noutras vidas, sempre no respeito pelos valores que defendíamos e pelo humanismo que nos caracterizava.


O tempo passou e o Alfredo Graça, viu em nós um sentimento de desacordo em relação à política que ele orgulhosamente defendeu, mas nunca levámos a mal por isso, porque ambos, ele até ontem, e eu ainda agora, continuamos a ser a mesma voz na luta pelos valores da democracia…


E por isso mesmo senti alguma vezes, quando nos cruzávamos, que ele ficava no silêncio… Nunca fiquei aborrecido… antes com o coração magoado, porque ele era para mim o meu primaço e um velho amigo, agora distante…


Muitos anos depois, numa sessão publica nos Paços do Concelho de Vila Real de Santo António descobri que o seu retrato não constava na galeria dos Presidente de Câmara. Acreditem, que nunca quis saber as motivações, mas creio, que nenhuma delas, valia tamanha decisão, mais que não fosse pela gratidão devida, a quantas e quantos tinham votado nele, no antifascista Alfredo Graça. e que em vida sempre o amaram… e mesmo agora, os que têm a memória menos fresca e retalhada pela idade, sempre viram em Alfredo Graça, um grande homem, um grande político, um grande músico, um grande e feliz contador de história, e um grande amigo da sua terra…


Mais tarde, cruzamo-nos, num baile de Carnaval, em Loulé, que teve lugar no salão de festas, e que se fazia acompanhar pelo meu saudoso amigo Barão.


Sem máscaras, olhamos uns para os outros, sorrisos, demos dois dedos de conversa e um abraço e cada casal, eu incluindo, foi dançar para o seu lado…


Pelo tempo fora, apesar do distanciamento de então, lá nos íamos encontrando. A última foi no grande almoço do PICNIC… mas antes, muito antes, em meados de dois mil e dezassete estando a fazer investigação no Arquivo Municipal de Loulé encontrei um postal, datado de 1964, cujo texto era assinado por Alfredo Graça, que em nome da Oropesa solicitava à Câmara Municipal de Loulé o envio urgente das carteiras profissionais de músicos, que estavam na posse da Câmara devido a uma actuação que tinham realizado em Loulé.


De imediato, liguei para a minha sobrinha Sara Brito, para que se informasse da morada do Alfredo Graça, e dias depois uma cópia do postal, chegava à rua D. Pedro V, residência do Alfredo.


Vimo-nos e conversámos no verão de 2018 por ocasião do almoço anual do PICNIC, durante o qual, ele, o Chico Ramirez e João Tenório deram assinais de três grandes almas de músicos e todos agradecemos.


Descansa em paz Alfredo. Descansa em paz primaço…

Desmond Tutu, A voz dos sem voz

Morreu Desmond Tutu. Prémio Nobel da Paz, que também era a voz dos sem voz


Entretanto, lá longe, na África do Sul, onde Rendeiro se rendeu à força, desta vez sem as televisões portugueses a mostraram directos sobre o leito da morte, apenas a noticia do falecimento do Arcebispo Desmond Tutu, Prémio Novel da Paz, em 1984, já passaram 37 anos.


Morreu Desmond Tutu, o rosto da luta contra o apartheid «é um novo capítulo de luto na despedida da nossa nação a uma geração de sul-africanos excepcionais que nos legaram uma África do Sul liberta» declarou o presidente da Áfricas do Sul Cyril Ramaphosa.


Desmond Tutu, que há 37 anos, escutou com o coração a tremer, mas em festa, no centro do grande Palácio, em Oslo, na Noruega, o seu nome ser anunciado com o Prémio Nobel da Paz, passava a integrar o testamento de Nobel, que o distinguia pelo seu activismo contra o regime de segregação racista do Apartheid e pela luta constante sem violência para a libertação do seu povo.


Mais tarde, dez anos depois, quando o mundo já ia perdendo a memória dessa luta, de um tempo em lágrima, o seu coração reacende todas as esperanças, quando nas primeiras eleições multirraciais da África do Sul que foram realizadas em 1994, Nelson Mandela é eleito como o primeiro presidente negro da nação. Pouco tempo depois, Tutu é nomeado por Mandela, como residente da Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR). Aliás, Mandela ecoava constantemente, que Tutu era a voz dos sem voz.


Porém, esta é uma das frases mais marcantes, dos grandes ecos da Desmond Tutu pela liberdade: SE FICARMOS NEUTROS PERANTE UMA INJUSTIÇA ESCOLHEREMOS O LADO DO OPRESSOR.


Por favor, acreditem, nesta noite de 27 de Dezembro sonhei com o meu Mano Velho, Fernando Reis…Um sonho igual à vida. Com risos e abraços. Ele em tronco nu e calções e eu com a mesma farpela. Ao fundo o mar esperava por nós…


Malvado 2021, que mesmo a caíres de pobre, trazes-me à memória a maior dor vivida por mim em 2021. Carrasco uma vez, carrasco o tempo todo…


Viva 2022, com menos promessas e mais realizações.


Com menos gatunos e mais gente séria.


Com uma justiça igual para pobres e para ricos, que funcione de igual modo para todos e não se eternize tendo o verbo prescrição como fonte maior.


Que os idosos não sejam abandonados pela terra, pela serra, pelas ruas …e a GNR sabe bem quantos estão nesta solidão e medo…


Que a Vacina não seja apenas um acto da ciência, seja também a resposta às malandrices da ciência.


Viva 2022.


Usem Máscara. Protejam-se. Tenham medo do covid19. Não tenham vergonha da vacina. Também Christopher Reeve, actor norte-americano mais conhecido pelo papel de ‘Super-Homem’ caiu do cavalo e ficou paralisado…


Viva 2022.

Neto Gomes

Deixe um comentário

Exclusivos

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.