Remate certeiro: Faltou a coragem do PS Algarve

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Faltou a coragem do PS Algarve, quando em 1983, ficou ao lado de Guterres, dizendo não a Mário Soares, para que agora não tivessem isolado Jamila Madeira

De vez em quando era importante vivermos à sombra do passado e seguramente que se faria luz perante a forma como o PS Algarve, feito de silêncios e cumplicidades, reagiu em relação ao afastamento de Jamila Madeira, do Governo, por imposição da Senhora Ministra da Saúde.


Porque ao contrário do que muitos pensam, a história não é tão pastosa e lenta como se pensa, e o Partido Socialista ficou sempre mais forte, perante as suas próprias oposições, os seus debates, mas também ficou irremediavelmente estranho, perante os seus silêncios.

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Foi assim, com Mário Soares, Salgado Zenha, Almeida Santos, Tito Morais, António Guterres, Vítor Constâncio, Luís Filipe Madeira, Carlos Laje, António Reis, Arons de Carvalho, Sousa Gomes, António José Seguro, António Costa, Francisco Assis, Ana Gomes, e tantos outros e outras, que na hora de baterem com o peito e confrontarem certas posições, que colocavam em causa a matriz do PS, não ficaram na tentação do silêncio.


Foi assim, com Filipe Madeira, Almeida Carrapato, Joaquim Vairinhos, Fialho Anastácio, Martin Gracias, António Esteves, João Bonança, Arsénio Catuna, José Apolinário, Miguel Freitas, Isilda Gomes, Jamila Madeira, Jovita Ladeira, António Pina, Vítor Aleixo, António Murta, Sérgio Viana, Hugo Nunes, e de igual modo, tantos outros e outras, que em muitos combates internos, nunca deixaram de romper os silêncios e rumar ao que a democracia e a liberdade exigiam.


Mais uma vez lembramos que o tempo, que julgamos que possa mastigar a história, não é tão lento como se pensa, e hoje, as raízes do passado, as memórias guardadas, levam-nos a momentos, onde o PS nunca se encolheu nas grandes discórdias internas, e de enorme impacto nacional, e uma delas, tendo origem em Castelo Branco, e entre Mário Soares e António Guterres.


Portanto, é preciso recuarmos até 1983, porque repetimos, o tempo não é tão lento como se pensa, para compreendermos a coragem e a frontalidade dos socialistas algarvios, que se opuseram a Mário Soares e à estranha postura do PS, quando sob a liderança de Filipe Madeira (Jamila Madeira tinha pouco mais de oito anos), Almeida Carrapato, António Esteves, entre outros, renunciou em razão do Secretário-Geral do PS, Dr. Mário Soares, não permitir que o Eng.º António Guterres encabeçasse a lista por Castelo Branco, propondo-lhe o Distrito de Braga e ainda por cima em terceiro lugar na lista.


António Guterres, que era a grande alma da sensibilidade do grupo socialista do Secretariado, não se candidatou e os candidatos da lista de Faro solidarizaram-se com ele e não aceitaram ser candidatos.


A lista foi então refeita com outros elementos, sendo cabeça de lista a Dr.ª Maria de Jesus Soares, esposa do Dr. Mário Soares.
Na altura, apesar de ter abandonado a lista, obrigando o PS a refazer tudo de novo, Luís Filipe Madeira, não deixou todos de mão estendida acabando por ser o mandatário da Lista. Chama-se a isto ser solidário.


Foi uma atitude histórica do PS Algarve, explicando a Mário Soares, que não era ele que mandava no PS, porque o ADN do Partido, era de um partido onde imperava a democracia, e o que estava a ser feito a António Guterres, não merecia, por exemplo a concordância e a confiança do PS Algarve.


Agora com a saída de Jamila Madeira, faltou coragem, até de alguns «cartilheiros», que desejosos de estarem bem com Deus e com o Diabo, e sempre tão prontos nas suas informações, mas que agora se acobardaram, metendo a viola no saco e correndo pela estranha estrada da escuridão para que não fossem vistos.


E não foi apenas o PS Algarve que se escondeu, que teve falta de coragem, foram também alguns deputados do PS Algarve, gente que anda sempre a tomar medicamentos para o sorriso, mas que agora se esconderam no silêncio doentio, triste, penoso, cruel, com que isolaram Jamila Madeira.


E o grave, não é o isolamento com que foi agora votada Jamila Madeira, antes o perigo, de se anunciar na actual incubadora do PS, gente que vai ser sempre a voz do dono, e nunca da contestação de que se alimenta cultural e eticamente a democracia e que está intrínseco no próprio ADN do PS. E é preciso avisar os mais jovens, que afinal a história, não é tão lenta como se pensa.


Jamila Madeira tem um passado histórico na vida do Partido Socialista, desde os bancos da escola como se costuma dizer, e com inteligência e capacidade de liderança foi alicerçando e fortalecendo o seu próprio caminho, e o facto de ter sido a cabeça de lista pelo Algarve, claro que em democracia não existem intocáveis, devia ter existido mais respeito e solidariedade.


Ora o PS Algarve de hoje, não é o mesmo, longe disso, daquele que se batia por confrontos corajosos, onde a bandeira da democracia era outra e lembro por exemplo a forma como Helder Pires, proposto pelo PS venceu as eleições para a Região de Turismo do Algarve, com a frontal oposição de Joaquim Vairinhos (PS), mas que beneficiou do voto de José Valentim (PSD), para o socialista ganhar as eleições.


Jamila Madeira ficou isolada pela falta de ética e de medos. De medos de nos tirarem da linha de sucessão, sem que tivéssemos feito mais alguma coisa, que darmos o salto que demos no escuro, para conseguirmos o melhor posicionamento, sem sabemos nem ler, nem escrever, os próprios sinais da democracia.


Trazemos aqui, à tona da memória, um artigo sobre Jamila Madeira, editado na Revista Magazine, do Jornal de Notícias, assinado por Alexandra Tavares-Teles, a 15 de Setembro de 2020, que não crermos que tivesse influenciado a sua saída do governo. Aliás, não estamos aqui para criticar a saída, mas antes, para lamentarmos o silêncio dos socialistas algarvios.

Jamila Madeira intervindo em nome do PS e do País,
afinal o que vai continuar
a fazer

«Jamila Madeira: determinada, por Alexandra Tavares-Teles»


“Ainda de menor idade, combateu Cavaco Silva e a famosa PGA. Raramente se irrita, mas protagonizou a maior cisão de sempre na Juventude Socialista. Detesta ar condicionado no verão e nunca anda sem relógio.


Jamila Madeira é secretária de Estado da Saúde (Ilustração: Mafalda Neves) Determinada e com muita vontade de fazer política desde miúda, afirma quem a conheceu com 18 anos. Estava-se em 1993 e as maiorias do PSD destinavam ao PS o caminho das pedras. “Parecia que o partido nunca mais seria governo”, lembra Rui Pedro Soares. “Porém, nada que desmotivasse a Jamila”, acrescenta de imediato. Filha de Luís Filipe Madeira, dirigente socialista com peso à época, ainda de menor idade, mas já presidente da associação de estudantes da escola secundária, em Loulé, combatera Cavaco Silva, juntando-se à revolta estudantil contra a Prova Geral de Acesso (PGA). E, “porque já concordava com a ideologia socialista”, filiara-se na JS, depressa se fazendo notar. De tal modo que em 2000, no congresso destinado a escolher o sucessor de Sérgio Sousa Pinto, joga a grande cartada numa candidatura, protagonizando com a adversária Ana Catarina Mendes a maior cisão de sempre na jota socialista, com repercussão no partido. A guerra fratricida assenta já em duas linhas antagonistas. Ana Catarina Mendes segue a de António Costa; Jamila Madeira a de António José Seguro. A algarvia ganha por um voto. Ana Catarina considera o resultado suspeito e pede novo congresso. “Por um voto se ganha e por um voto se perde”, responde Jamila, demonstrando a tal natureza determinada, mas não só. Marcos Perestrello, que pertencia ao secretariado nacional de Sérgio Sousa Pinto, explica: “A Jamila tinha apoios muito fortes, de gente mais velha e experiente. Não aguentou aquilo tudo sozinha. Houve um grupo de dirigentes mais velhos que vendo nela potencial deram músculo político à candidatura”. Fala de Luís Pedro Martins, Afonso Candal, António Galamba e Ricardo Castanheira.


Entre as duas candidatas esteve Rui Pedro Soares, que acabaria por desistir a favor de Jamila. Hoje, recorda: “A Jamila não é pessoa de pressionar para ter apoios. Quem quer estar com ela, está, quem não quer, não está”. De resto, acrescenta, “sendo o pai influente no PS, a filha nunca misturou as coisas”. Descreve uma mulher de “centro-esquerda, sempre muito determinada, resiliente, das poucas pessoas que conseguia conciliar a atividade política com as obrigações académicas”. Em que medida a contenda lhe traçou o destino dentro do partido? “Creio que esse episódio foi ultrapassado. Basta dizer que ela foi reeleita”. A verdade, porém, é que não foi possível obter declarações de figuras próximas da atual secretária-geral adjunta, sobre Jamila ou sobre o famoso congresso.


Miguel Rodrigues, braço direito da secretária de Estado, conheceu a economista apenas no governo. “Uma mulher simpática e determinada, alguém que assume os objetivos do governo, com grande preocupação quanto aos recursos que estão a ser postos à disposição da população que utiliza o Serviço Nacional de Saúde.” Para o técnico, “nos meses de emergência, foi sempre uma parte na resolução de contrariedades”, recordando os dias piores, “aqueles em que se temeu que a pandemia tivesse em Portugal uma evolução semelhante à de Espanha ou de Itália”.


Miguel Rodrigues afirma que nunca a viu irritada. Nem sem relógio. Lamenta que não ligue o ar condicionado no verão. Talvez não saiba que o nome é a homenagem paterna a Djamila Boupacha, a estudante argelina nascida em 1938, militante da Frente de Libertação Nacional, presa e torturada pelos franceses em 1960.que a pandemia tivesse em Portugal uma evolução semelhante à de Espanha ou de Itália”.


Miguel Rodrigues afirma que nunca a viu irritada. Nem sem relógio. Lamenta que não ligue o ar condicionado no verão. Talvez não saiba que o nome é a homenagem paterna a Djamila Boupacha, a estudante argelina nascida em 1938, militante da Frente de Libertação Nacional, presa e torturada pelos franceses em 1960.

Jamila Bárbara Madeira e Madeira

Cargo: secretária de Estado da Saúde
Nascimento: 17/07/1975 (45 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Loulé)

Na hora de sair, Jamila Madeira, disse à comunicação social: “Fiquei muito surpreendida com a opção da senhora ministra da Saúde! Mas saio de consciência tranquila da missão cumprida, com a certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance num ano particularmente inédito!”

Neto Gomes

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