Gouveia e Melo foi o grande berço da Nação. Estávamos a ver que o enrolavam em meia folha de papel selado…
«Vou voltar ao anonimato das minhas funções militares», afirmou o Vice-Almirante Gouveia e Melo, na hora de deixar a coordenação da Task Force, onde escreveu uma das páginas mais brilhantes da nossa história, pois foi sob a sua liderança, que colocou Portugal entre os países mais vacinados em todo o mundo.
Saiu como entrou, simples, profissional, solidário, com um elevado capital de liderança, e para que não existisse dúvidas, andou sempre com o fardamento de combate. Porque vacinar o País era de facto um combate, perante um inimigo invisível…
Ao longo da sua função de coordenador da Task Force, Gouveia e Melo, ainda teve que enfrentar algumas críticas vindas de gente sem escrúpulos, dos muitos que contam apenas para a estatística de quantos somos.
Mas este herói confiável deu lições sobre lições, fazendo da sua postura calma e serena, e de um enorme respeito pelos outros, a humildade que tantas vezes não habita nos carreiristas de política deste País.
E o pior, é que nos dias mais recentes, para espanto do mundo, estávamos a ver que pegavam em Gouveia e Melo e o enrolavam em meia folha de papel selado, na severidade de um castigo, por ausência de se reconhecer, que em política não vale tudo.
António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, felizmente que se reuniram na tasca ao canto do Palácio de Belém e após um incrível jogo de matraquilhos, lá chegaram à conclusão, que nestas coisas de mudar de postos/chefias militares, quem decide não é nenhum dos habitantes de S. Bento, mas apenas o Presidente da República.
A espécie de bronca, que estava a perturbar ainda mais, as roupas da cama das autarquias, escandalizou o mundo, numa espécie de estranha traição ou então a decisão de alguém que nunca leu o antigo Manuel do Oficial Miliciano, igual ao da Marinha, só não pergunta é se sabem nadar…
A tempo, como é costume, António Costa, mandou abrir fileiras e com a capacidade, que o torna num dos nossos políticos mais hábeis, deu conta que tudo não passara de uma das velhas engenharias, que mais uma vez queria construir a casa pelo telhado.
Diz-se, e é verdade, que Gouveia e Melo, não merecia tamanha insensatez.
Diz e é verdade que demos uma grande Casa, que nada tem a ver com a Casa da Sorte, a Casa dos Segredos, a Casa de Irene (uma velha canção), a Casa Aberta e muito menos a Casa de Papel. Antes com a falta de rigor, de competência, de disciplina mental, porque quando se chega ao estado que trouxe à ribalta a confusão criada em torno do Vice-Almirante Gouveia e Mela, e da fuga de João Rendeiro, que até teve como um dos seus advogados um moralista comentador da SIC, será de admitir que um dia a CASA VENHA ABAIXO…
António Costa também sabe, que tem gente, que se não fizer nada, já não atrapalha…
Vitor Aleixo levou Mário Cesariny a Loulé
Mário Cesariny, poeta, autor dramático, crítico, ensaísta, tradutor e artista plástico português, nasceu a 9 de agosto de 1923, em Lisboa, e morreu a 26 de novembro de 2006 e o poema You Are Welcom to, é um dos seus mais emblemáticos, publicado em 1957 (já lá vão sessenta e quatro anos) em Pena Capital.
Quando uma manifestação política, a quem antigamente chamávamos de Comício (eu fui formatado por outras filosofias de comícios), nos mostra num romper dos holofotes, um corpo e forma de dança, e uma voz brilhante levando até onde o som se pode esticar, um poema incrível, sem fantasias, nem fendas por onde se escapasse o momento que se estava a vive, então a poesia está a passar por nós.
Um poema com cheiro, paladar, encantamento, que nos trava em casa passo. Que nos faz cair e num repente nos alevanta.
Onde não existem nem muralhas, nem barcos, nem cais. Mas ao mesmo tempo existe tudo, menos a soberba, a arrogância, o ciúme, o maldizer.
E quando pouco a pouco, na voz artística e bela de João Pedro, o famoso Tápê, dos palcos. Da arte de representar e desta vez também de apresentar, nos trouxe Mário Cesariny, em You Are Welcom to, isto é dando as boas-vindas a quantos esgotaram o espaço, para escutar Vítor Aleixo, no encerramento da sua campanha eleitoral, tínhamos a certeza que o neto de António Aleixo tinha convidado Mário Cesariny a visitar Loulé.
Num tempo em que a política, parece estar de pernas cruzadas para com a cultura, esta subida ao palco, de Mário Cesariny, foi um momento fascinante.
Seja bem-vindo, encheu os pulmões de Tápê e os nossos corações de alegria. De respeito, numa noite em que Vítor Aleixo convidou Mário Cesariny a visitar Loulé.
You are welcome to Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Neto Gomes