Remate certeiro: “Maré, amor e fé” e os Padres da Minha Vida

“Maré, amor e fé”, que a SIC nos mostrou, é em todos os instantes, ainda que em poucos lugares do Algarve, uma clara imagem da Região, com todos os seus contrastes, beleza, pavores, e de gente desafiante, que ama o Algarve, que vê “nesta nossa terra”, um local de pausa, um local para viver, para casar, para rezar, para amar.


E a reportagem da SIC entra por outros lugares do sofrimento, como a crise na hotelaria, na restauração e de forma clara, de sobrevivermos, apesar das rezas, aos desejos do governo britânico e nem vale a pena, António Costa, soltar um desejo, que é velho, como a nossa falsa aliança de agora, com o Governo de Sua Majestade, ao afirmar, no dia seguir, mas a correr e não muito virado para a resposta: Que o Algarve tem que pensar noutras opções em relação ao turismo inglês.


Quais?


Mas quantas vezes, ainda ao senhor primeiro-ministro era aluno da Faculdade de Direito, já os empresários e os responsáveis algarvios faziam isso. Esse combate. Essa viragem.


E como?


Ir buscá-los à Alemanha?


Aos países baixos?


Olhemos de frente ao bicho que agora nos caiu nas mãos, mas não temos opções, porque Portugal e o Algarve sempre foram a paixão inglesa.

E o resto do mundo? da África que nos está perto?, a Turquia, a Grécia, a Itália, a Espanha, que tem condições fantásticas e negócios comuns bem antigos, que não existe outra abertura, isto é, mesmo com os males mais recentes da nossa diplomacia, é de Inglaterra e em força, que esperamos por uma boia de salvação, e o mais, é fazermos como Salazar fez, quando da visita de Isabel II, escondendo os pobres e internando os que viviam na rua como doentes mentais…


Sim! A nossa diplomacia voltou a falhar, e não foi apenas o senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, por quem temos enorme respeito, mas também a diplomacia aqui da nossa terra, do Turismo Algarvio e de outros representantes do Governo na Região, das Associações patronais, que devem ter uma estreita ligação com os agentes de viagens britânicos, que também estão a pão e água, quando se lhes fecham as portas do Algarve.

Mas regressemos à SIC e ao maravilhoso Maré, amor e fé, onde se misturam alegrias, paixões e dores.


Alegria dos reformados estrangeiros e portugueses, que adoram a Fuseta. Nós também.


As misérias dos mariscadores algarvios, que se não apanham, não ganham, não comem, não vivem.


Diz-se às vezes, se calhar com razão, que a prostituição é a mais antiga profissão do mundo. Mas a mais miserável profissão do mundo, sobretudo no Algarve, pois é sobre a nossa terra, que estamos a escrever, é dos pescadores e mariscadores. Sempre foi assim, isto é, se não pescas ou não apanhas, não ganhas, mas existe sempre alguém que ganha o triplo, do pouco que os outros ganham. E ganham sem sair de casa, ainda deitados no leito dos prazeres e os desgraçados a trabalhar, quando a Polícia Marítima não lhe cai em cima por culpa de meia dúzia de conquilhas, ou de trinta sardinhas, e por culpa dessa ganância, nem reparam que nasce, até no nosso mais seco deserto, floridos Novas Bancos, que nos chupam até ao tutano.

Traineira Marlene, em Quarteira, embandeirada na Procissão de Nossa Senhora da Conceição

Vamos vivendo, era o nome de um dos barcos filmados pela reportagem da SIC, isto é, feliz reencontro com a realidade.


Mas voltemos à SIC e a Maré, amor e fé. E debruemo-nos sobre a Fé, a fé que é mais que um estranho consumismo da religiosidade cristã, como se ter fé, fosse apenas o dia da procissão, ir ao baú buscar a melhor farpela ainda cheirando a naftalina, e aos gritos da nossa mãe.


Neste momento, em que tanto se fala na falta de Sacerdotes, permitam-me que traga à superfície da minha memória nomes de homens e padres, que foram e têm sido os padres da minha vida, isto sem qualquer ordem cronológica, mas que existiu ou existe ainda, com cada um deles, uma aliança de fé e humanidade. António Freitas, Nelson Henrique Varela, Rosa (Albufeira), Leiria, Passos, Sesinando Rosa, Galhardo, Elias, Carlos Patrício (aí, que saudades, ai, ai), Mário Sousa, Carlos Aquino e João Cabanita.

O que a SIC nos mostrou foi a ténue superfície doa problemas que afligem a Igreja, que por vezes não parece capaz de sobreviver às sementes de contradições que a rodeiam, desde aqueles que precisam dela e depois de realizados, a esquecem, e de forma igual, pelo modo de vida de uma juventude, que se aglomera em torno de determinadas manifestações religiosas, seja onde for, desde que apareça Sua Santidade, mas depois no regresso ao País, fazem outro tipo de sacramentos.

O vila-realense Padre Carlos Aquino, celebrando na Igreja da Misericórdia, em Loulé

A Igreja tem que se renovar, mas como vimos, a sua juventude, está mais interessada na sua valorização pessoal, do que corresponder aos anseios e aos pedidos quase piedosos da Igreja.


Raro, a não ser a Catequese nos leve para um grande acontecimento, onde é preciso dar nas vistas, a Igreja está repleta de jovens, mas que até na hora de encontrar uns quantos jovens que queram intervir como o coro, a situação é quase invisível. Louvemos, por exemplo, Quarteira, com um coro de meninas e meninos, que são um sinal de vida e de esperança.

Os Sacerdotes fazem o que podem, perante um poder político, de igual modo mais virado para o lucro da sua imagem, do que para a disponibilidade de reforçar todas as necessidades da Igreja. Mas a Igreja vive um tempo desafiante e não pode parar neste estranho semáforo.


No caso concreto de Loulé, inegável o importante apoio que o Executivo de Vítor Aleixo vem fazendo em importantes obras de restauro não apenas na Matriz, mas de igual modo na Igreja de Francisco, e já se anunciam obras para o Santuário da Mãe Soberana.

Mas a crise da Igreja não está na erosão da sua monumentalidade, mas sim, no distanciamento dos jovens, e na sua vontade, consciência e motivação para enriquecerem humanamente a Instituição como Sacerdotes, e este reflexo, trouxe-nos à tona da verdade, a reportagem da SIC, perante o vazio enorme que hoje ocorre no Seminário de Faro, que vive o drama de nesta hora não ter alunos.


É preciso exaltar este momento, este claro sofrimento de que padece, neste caso concreto a igreja do Algarve, e o Reitor, o nosso amigo Padre António Freitas, que têm triplicado os contactos, para que a nossa igreja encontre a necessária paz e sabedoria, despertando nos jovens esse anúncio de fé e humanismo, que é encontrar na teologia a grande exaltação para que os corredores do Seminário de Faro, não se tornem espaços vazios e perdidos.

António Freitas é um homem inteligente, de vocações humanistas extraordinárias, e o Seminário de Faro, reencontrou neste jovem sacerdote, uma inteligência lutadora, contra as inquietudes, que assaltam a igreja, que exige a realização de um grande encontro entre o passado que nos trouxe até aqui e um futuro, que não exige apenas que a Igreja abra de par em par as suas portas às necessidades morais e intelectuais do ser humano, mas que compreenda que tudo no mundo está a mudar, e ainda que não se exija uma revolução, pede-se uma liberdade maior a cada homem e cada mulher que a querem servir na fé e nos valores do cristianismo.

Começa a existir um sentimento que quase que roça a angústia, o sofrimento, que se solta do ser humano, para se prender as pedras da Igreja evitando que as mesmas deslizem encosta abaixo.

Padre António Freitas, o meu amigo, não nega, que ser padre – tem a dificuldade de um compromisso a longo prazo – mas é desta fé que se edifica a Igreja, agora tão frágil pela ausência de novos padres, onde no Algarve esta falta é tão notória.

Dizia ainda o Reitor do Seminário: É preciso redescobrir novas formas de estar em sociedade…


O nossos bom Reitor conhece bem, também pela sua juventude, pela forma como se entrega à Igreja, que é preciso combater as actuais dores de ela sofre, pois sendo verdade, que a crise actual, em relação à falta de alunos no Seminário não é de agora e a mesma já foi sentida em 2018, importa renovar esta esperança, criar um novo debate em torno, daquilo que o Reitor chama de um compromisso de longo prazo, abrindo-lhe outros horizontes, e se tal não acontecer, este vai ser seguramente o terrível e estranho confinamento da Igreja, o par da sua urgente modernidade e do olhar franzido do Estado, como se ai ainda resistissem no ar os tempos da implantação da República.


A Igreja é mais que a nossa fé, é um sinal de amor, só que não sabemos como amá-la e este sinal tem que vir de dentro da Igreja.


Maré, amor e fé. E agora voltam a aumentar os combustíveis, porque não existe bazuca, que obrigue os homens a parar contra o restaurar constante da pobreza.

Afinal que podem fazer a Maré, o Amor e Fé, quando o Poder não quer.

Neto Gomes

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