Remate certeiro: Temos que arranjar uns pingos de lixívia para limpar algumas nódoas

Às vezes damos por nós a divagar por coisa nenhuma. São restos de uma memória muita antiga, que nos leva para lugares distantes, nunca por nós inventados, mas lugares nossos. Lugares que nos trazem afectos, desilusões, medos. Mas lugares que também reacendem em nós, luzes, que julgávamos definitivamente apagadas.


Há muito tempo que não visitávamos aquele lugar que agora nos apareceu. Que marcou encontro connosco. A humidade é a mesma, porque o que compete aos homens tem sempre um tempo muito dilatado para ser mudado, tratado, reparado, alterado. Por isso a humidade é a mesma…


Também estranhei não ouvir o comboio e o erguer do fumo cansado, que às vezes nos surpreendia com o seu ruido, cujo som, que nos alegrava, também dependia do vento. Da força do vento.


Contudo, o que acontece agora, e quem sabe se é por isso, que o comboio já não passa. Não se ouve. Já nem deita fumo, é que a linha foi desactivada.

Diz o letreiro escrito à porta da Estação, cuja antiga bilheteira está coberto de colchões. Ao menos, aqui nesta região húmida do País, que fui desencantar à minha memória, a CP trata bem dos sem abrigo…


Diz ainda o letreiro: Que os comboios que comprámos em Espanha precisam de carris mais largos.


E estes carris, na Estação onde me encontro para viajar pela memória, são mais estreitos. Mais preguiçosos. Fazem lembrar os carris de um comboio que um dia ofereci aos meus filhos pelo Natal.


Depois sai da Estação e dei comigo a aguardar a chegada do elevador. Não me recordo bem para onde é que ia.

Dia do Exército, em Coimbra. Exemplo de organização


Sei que estava no piso três e a grande velocidade a máquina descia do quinto andar. Num repente saiu uma jovem. Nem reparei se estava penteada…


Ela vinha desorientada desde o 5.º piso. Pelo menos era aí que esta a indicação onde se encontrava o elevador, quando o «chamei»…


E no terceiro andar onde me encontrava, sem adivinhar que o elevador vinha com gente dentro, espantando-me que tenha parado no «meu andar».


Mal as portar se abriram e em velocidade acelerada, a jovem quase que me derrubava. E quando me preparava para levar o elevador para o piso zero, ela travou a marcha do fechar das portas com o bico do sapato. Um salto com quase um palmo e começou a gritar:

-O senhor enganou-me. Não era aqui que eu queria sair. Isto não se faz. Quem pensa o senhor que é?


Fiquei atónito, mas também com vontade de a abraçar. Mas num instante respirei fundo, contei até dez, e perguntei:

-Menina. Se a minha mulher ouve esta conversa o que é que irá pensar…


Ela vinha muito bonita. Saia curta, travada, apertada ao corpo, toda vestida de preto, e com uma etiqueta bem encostada ao peito, diga-se um peito bem desenhado e onde se lia: “Alzira Afonso – Organização”


E sem que ela tivesse tempo para responder, procurando acalmá-la, acrescentei: “Menina o seu nome para mim é uma gargalhada, isto é Alzira Afonso, ou seja AA, é um gargalhada”


Acalme-se menina. Mas para que piso é que ia.

Para o zero e estou atrasada.

E estará ainda mais atrasada se não tirar o sapato da porta do elevador. Seja breve menina, ainda lhe vai dar alguma coisinha má…
Na curta viagem em conjunto. Ela sorriu e sobreviveram dois lábios lindos. Bem pintados, ao mesmo tempo que começou a mastigar uma pastilha elástica.

Fumei muito sabe. Tenho a boca a saber a papel…


Depois ela foi para o pequeno-almoço, e eu regressei ao meu tempo, às minhas memórias, ficando com a sensação que já tinha visto aquela mulher noutro qualquer lugar.


Um lugar que não tinha elevador. Não sei. Não consigo perceber. Só tenho como memória os seus traços de uma menina linda, elegante. O mais sinto que estou baralhado.


Mas que era muito bonita: Ó se era!…


Será que tinha sido na praia da Manta Rota?


Ou em Monte Gordo?


Se calhar foi em Quarteira.


Não sei. Uma forte neblina cobre tudo o que fica para lá desse tempo. Já nem as velhas luzes me reanimam a memória.


Mas não escondo que existem sinais. Sei lá o eco da sua voz. A sua gargalhada, quando lhe disse que o nome dela parecia uma gargalhada.


Sei já, já foi tudo há tanto tempo, ainda havia comboios que deitavam fumo, e quando o vento soprava a meu favor, eu ouvia o matracar das rodas sobre os carris…


Depois, acordei, só a memória existia.

Queima das fitas em Coimbra. Está nas nossas mãos impedir a pandemia (https://observador.pt 2021/10/20)

Está, nas nossas mãos


“A pandemia vai acabar quando o mundo decidir acabar com ela. Está nas nossas mãos, temos todas as ferramentas de que precisamos”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus na abertura da Cimeira Mundial da Saúde, que reúne anualmente políticos e profissionais do sector em Berlim.


No entanto, na semana que acabou assistimos a dois momentos que contradizem esta opinião de que “Está nas nossas mãos”.


Por um lado, as comemorações do Dia do Exército, que teve lugar na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra. Numa organização plena, rigorosa, assente nos valores da disciplina. Poderá dizer-se que eram meia dúzia. Mas se fossem outras tantas vezes não sei quantas meias dúzias, seria igual. Não encontraria desvios.


No outro lado, o regresso à Queima das Fitas, na mesma cidade. É verdade que existiam um leque de restrições, mas o que vimos foi um amontoado de milhares e milhares de jovens, vivendo um encantamento então interdito por razões pandémicas.


Vivendo um tempo único, para um dia poderem contar aos filhos e aos netos.


Mas também é preciso sentir, que a vida exige cada vez mais limitações, mesmo quando a Maré, de Sérgio Godinho, no canta e nos encanta: “[…] …que a maré se vai levantar. Que a liberdade está a passar por qui… Que a liberdade está a passar por aqui. Que a liberdade está a passar por aqui […]”.


Portanto, que é preciso que tínhamos mais solidariedade uns pelos outros, para que não culpem de irresponsáveis o sector saúde, pois como se ouviu em Berlim: “Está nas nossas mãos”.

400 mil não podem decidir por 12 milhões


Temos que desinfectar o País e para isso bastam algumas gotas de lixívia para limpar algumas nódoas, para que termine este sobe e desce que nos vai torturando, porque o País está a ser comandado de fora para dentro, e tudo se agrava, como diria Marçal Grilo, quando não podem 400 mil votantes ou coisa parecida, mandar em 12 milhões de portugueses. Resta-nos António Costa, que semana a semana procuramos defender, mesmo sabendo que ele não precisa de nós para nada.


Finalmente lê-se no Expresso: O que tenho que fazer para conseguir o desconto de 10 cêntimos no combustível? É simples…
Pensávamos que o Expresso iri perguntar o que é que temos que fazer para conseguirmos um aumento nas reformas, que nos liberte dos chamados aumentos misericordiosos. De pena, com que sobrevive uma mancha enorme de portugueses.

Neto Gomes

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