Rio pode ir para o Governo

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Rui Rio aguarda uma conversa com Pedro Passos Coelho para fechar decisões, mas a sua candidatura presidencial perdeu gás. O líder do PSD prefere-o a Marcelo Rebelo de Sousa (que considera pouco fiável para o lugar cimeiro do Estado) mas sabe que as estruturas do partido estão maioritariamente com o professor e poderá não se atravessar pelo ex-presidente da Câmara do Porto. Não será, aliás, por acaso, que o nome de Rio começou a correr nos bastidores da maioria para ocupar um lugar de ministro no próximo Governo. O Ministério da Administração Interna (MAI) é a hipótese mais falada.

“O sonho presidencial dele acabou”, ouviu o Expresso a um dos mais próximos apoiantes da candidatura presidencial do ex-autarca, que no rescaldo da noite eleitoral admite que Rui Rio “possa ter no novo xadrez um outro papel”. Qual? “O de ministro”, seja no MAI, nas Finanças, ou numa pasta institucional.

A sondagem que a TVI lançou na noite deste domingo não é indiferente a este estado de espírito, bem como as posições que Miguel Relvas e António Pires de Lima ali assumiram, considerando que Marcelo é “o melhor”. A desmobilização nas hostes de Rio é indisfarçável. Depois de ter perdido o timing antes das legislativas, quando o núcleo de colaboradores mais próximos do ex-autarca gostaria de o ter visto avançar, Rui Rio surge agora em clara desvantagem relativamente a Marcelo no que toca a apoios partidários. E, de duas, uma: ou o próprio Passos Coelho puxa por ele e convence-o a avançar (há quem garanta que Passos preferia ver Maria de Belém na Presidência do que Marcelo Rebelo de Sousa e dividir as hostes à direita poderia dar-lhe jeito); ou, sem esse apoio explícito, Rio pode mesmo reservar-se para outras guerras.

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O próprio sempre disse que só voltaria à vida pública se entendesse haver sinais claros de que uma maioria achava isso útil. E se não sentir um apelo claro (a começar pelo seu partido) nesse sentido, Rio pode arrumar de vez a candidatura às próximas presidenciais. Ele concorda com Passos Coelho que o próximo Governo, por não ter maioria, vai precisar como de pão para a boca de um Presidente da República “leal, previsível e estável” e, tal como Passos, não encontra essas garantias em Marcelo. Mas sem um apoio claro do partido não estará disponível para “meter o ombro na porta para entrar”.

A decisão final estará por dias: “Ele não quererá ser um fator de divisão e vai ter que medir isto muito rapidamente”, confirma fonte próxima. Se não nesta, na próxima semana, o assunto deverá ficar arrumado. Um lugar no Governo é, neste momento, uma saída que o núcleo de apoiantes de Rui Rio não vê com maus olhos.

Ministros que entram, ministros que saem

Na reta final da campanha, Passos disse ao Expresso ter o elenco de um próximo Governo “razoavelmente decidido”, mas ninguém sabe nada para além da certeza de que Paulo Portas continuará vice-primeiro-ministro.

Saídas garantidas, há seis: as de Paula Teixeira da Cruz, António Pires de Lima, Nuno Crato, Anabela Rodrigues, Poiares Maduro, e Rui Machete. Em dúvida estão Maria Luís Albuquerque e Paulo Macedo, curiosamente a ministra das Finanças e o colega da Saúde cujo nome o CDS chegou a sonhar ver na pasta até agora ocupada por Maria Luís.

Confrontada, na noite eleitoral, com a questão de uma possível continuidade na pasta, a ministra das Finanças garantiu que entre ela e Passos ainda “não houve nenhuma conversa sobre isso”. “O que ele tem na cabeça só ele poderá saber”, afirmou, deixando escapar um sinal de que, se for chamada, pode não ter margem para recusar: “O ponto de vista pessoal aqui releva pouco. O que realmente interessa é o país e a continuidade nas políticas”, afirmou.

Namorar o PS. E governar a prazo?

Sem maioria absoluta e depois de assumir, na noite das eleições, uma postura aberta ao diálogo com o Partido Socialista, Passos e Portas poderão aproveitar a formação do Governo para valorizar algumas áreas que, sob emergência financeira, foram claramente descuradas, e que agora ajudariam a fazer pontes com o PS.

Casos, por exemplo, da Cultura e da Ciência, que poderiam ganhar estatuto de ministério, não são de afastar. Bem como a escolha de um ou dois nomes mais próximos dos socialistas para virem a integrar o Executivo.

A convicção nos bastidores da coligação é que as relações com o líder do PS não vão ser fáceis e que terão que estar preparados para muito provavelmente irem governar a prazo. Mas a palavra de ordem com que tencionam agarrar o arranque da legislatura é espírito de compromisso, até por saberem que quem em algum momento partir a corda, precipitando eleições antecipadas, será penalizado por isso. Se, a acontecer, PSD e CDS conseguirem passar as culpas para o líder da oposição, sempre poderiam lutar pela maioria absoluta que agora falharam.

“António Costa, para já, deixa-nos sossegados. É óbvio que está a ganhar tempo e não está em condições de fazer combate ao Governo. Não é por acaso que afastou a hipótese de uma ‘maioria negativa’. Ou que apresentou um ‘caderno de encargos’ com quatro áreas em que as suas reivindicações encaixam no que o Governo planeia fazer”, afirma um dirigente da coligação.

“Teremos de negociar, mostrar abertura, e dar a António Costa alguns ganhos de causa, mesmo que depois seja para os pormos a render a nosso favor”, conclui a mesma fonte. E assim a direita conta viabilizar o programa de Governo e o primeiro Orçamento de Estado.

Passos Coelho tentará um acordo mais global, que inclua a reforma da Segurança Social e que vá mais longe do que negociações pontuais, conforme a legislatura se vai desenrolando.

O importante para PSD e CDS é posicionarem-se sempre como promotores de diálogo – se em algum momento a corda partir, a coligação sabe que nunca poderá surgir como tendo sido sua a responsabilidade de provocar uma crise. Mas se puderem assacá-la ao maior partido da oposição e daí partirem para eleições antecipadas, nem PSD nem CDS desdenhariam poder tentar, numa antecipada ida a votos, a maioria absoluta que agora não alcançaram.

A escolha do próximo presidente da Assembleia da República deverá fazer parte da negociação com o PS. À esquerda fala-se de Ferro Rodrigues e no PSD de Paula Teixeira da Cruz ou Fernando Negrão. Um acordo para este lugar poderá ser usado (pela direita) como moeda de troca para outras frentes negociais.

RE

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