Rumores enervam o mercado da dívida

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Depois do anúncio da recompra de dívida grega ter animado, segunda-feira, os investidores, ontem um simples rumor de que as agências de rating poderão cortar a notação de mais países da zona euro com triplo A foi o suficiente para inverter a trajetória descendente no risco dos “periféricos”.

O Ecofin (reunião dos ministros das Finanças e dos banqueiros centrais da União Europeia) mostrou-se dividido e decidiu adiar decisões sobre a união bancária para nova reunião a 12 de dezembro, mas essas fraturas entre países com estratégias bem distintas e o adiamento não tiveram efeito no mercado da dívida. Os investidores já estão habituados a essa desunião e aos arrastamentos – esperando que, no limite, se entendam.

Também, os “mal entendidos” sobre a extensão a Portugal e à Irlanda de alterações acordadas para o segundo plano de resgate à Grécia não provocaram qualquer abalo, apesar das cenas patéticas ocorridas. O próprio chefe do Eurogrupo (reunião dos ministros das Finanças e banqueiros centrais da zona euro), Jean-Claude Juncker, viu-se obrigado a dar o dito por não dito alegando ter respondido aos jornalistas sob pressão num “canto escuro”, depois dos ministros das Finanças da Alemanha e da França se terem pronunciado sobre o assunto, aparentando que o tema não seria, por ora, oportuno. Juncker está, aliás, de saída da presidência do Eurogrupo no final do ano e, segundo o jornal alemão “Der Spiegel”, fala-se da sua substituição precisamente pelo ministro das Finanças francês, Pierre Moscovici. O luxemburguês preside o Eurogrupo desde 2005, antes do rebentar da Grande Recessão e da crise das dívidas soberanas na Europa.

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Rumor de cortes nas notações triplo A

O mercado da dívida foi afetado ontem por um rumor, dizem os analistas. Segundo a agência financeira Markit, “rumores sem fundamento sobre cortes de notação para os restantes países da zona euro com rating triplo A” levaram a que se invertesse a trajetória descendente no risco de incumprimento das dívidas soberanas dos países “periféricos” que se verificara ontem na sequência das notícias sobre o lançamento da operação de recompra da dívida pública e do rascunho sobre o memorando de entendimento entre a troika e Chipre para um resgate.

Recorde-se que a Moody’s cortou a 19 de novembro a notação de triplo A da França depois da Standard & Poor’s o ter feito em janeiro, ainda no tempo da presidência de Sarkozy. A Moody’s retirou anteontem a notação de triplo A ao Mecanismo Europeu de Estabilidade e ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, os dois principais mecanismos europeus de resgate. Em ambas as situações, os mercados da dívida não se enervaram. Mas, ontem, com um simples rumor falando de uma revoada de novos cortes de notação no que resta dos triplo A da zona euro (Alemanha, Finlândia, Holanda e Luxemburgo), os investidores já reagiram.

O risco de incumprimento da dívida soberana num horizonte de cinco anos subiu ontem para a Grécia (apesar de, formalmente, o Ecofim ter confirmado a extensão do programa de ajustamento por mais dois anos, até 2016), Chipre, Portugal, Espanha e Irlanda. Apenas escapou a Itália.

Risco da dívida portuguesa sobe

Segundo dados da CMA DataVision, a probabilidade de default no caso português subiu de 31,93% no fecho de anteontem para 32,21% no fecho de ontem. Portugal manteve o 7º lugar no “clube” dos 10 países com risco de incumprimento mais elevado e afastou-se da possibilidade de descer para o 8º lugar. No caso de Chipre a volatilidade foi muito grande durante o dia, com o risco a dançar de um mínimo de 44,32% para um máximo de 49,91%, valor com que fechou o dia. Ontem havia fechado em 47,67%, fruto de uma descida de mais de 5 pontos percentuais em relação a sexta-feira passada.

No mercado secundário da dívida, a situação foi “mista”, com subidas e descidas nas rentabilidades nas diversas maturidades das obrigações soberanas dos “periféricos”. No caso português, segundo dados da Bloomberg, as yields fecharam a subir para as obrigações do Tesouro nos prazos a dois e a dez anos, e a descer nos prazos a três, a cinco e a sete anos (este último é o prazo médio residual da dívida).

O prémio de risco subiu para a Grécia, Portugal, Espanha e Itália. No caso português fechou em 6,15 pontos percentuais. Esse prémio mede o diferencial entre o custo de financiamento da dívida alemã a dez anos, que serve de referencia na zona euro, e o custo para os “periféricos” naquele prazo.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)
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