Se o sexo fosse um campeonato, ganhava o Porto

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O que é que o Grande Porto tem? Tem os portugueses mais ativos sexualmente, os que mais tempo dedicam a cada relação sexual e os que têm um desejo mais elevado. Mas, a acreditar nos números, não tem nem gays, nem bissexuais. O que vale a estatística?

Sabia que, em regra, são os algarvios que se iniciam sexualmente mais cedo, que melhor avaliam o seu desempenho sexual e do(a) parceiro(a), e que mais frequentemente atingem o orgasmo? Que os residentes da Grande Lisboa estão entre os que mais se queixam da sua vida sexual, mas são os que mais sexo têm com colegas de trabalho? Que os alentejanos são os que menos praticam sexo oral? E que no interior do país é onde há menos adeptos da posição de missionário?

Estas são apenas algumas leituras do inquérito à sexualidade dos portugueses encomendado pelo Expresso, cujos resultados começam a ser divulgados este sábado. As respostas surpreendem em alguns casos, preocupam noutros, mas denunciam, muitas vezes, significativas diferenças regionais. Se houvesse um campeonato para a atividade sexual, o Grande Porto seria um sério candidato ao título. Senão vejamos: é onde estão os portugueses mais ativos (30% dizem ter sexo mais de 3 vezes por semana, bem acima da média nacional, que é de 18%); os que mais tempo dedicam a cada relação sexual (mais de meia hora em 22% dos casos); e os que mais admitem ter um desejo sexual “muito elevado”. Apesar disso, não estão satisfeitos: estão entre os que pior avaliam a sua satisfação sexual (3,5 de média, numa escala de 1 a 5), um pouco acima da Grande Lisboa (3,4), a região mais insatisfeita sexualmente do país. Curiosamente, é no Norte Litoral que estão os portugueses mais satisfeitos com a sua vida sexual.

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Porto: ilha hetero ou um grande armário?

É um dos dados mais curiosos do inquérito que o Expresso encomendou sobre a vida sexual dos portugueses: apesar de 12% dos inquiridos preferirem não dizer qual é a sua orientação sexual – o que prova que este é, ainda, em muitos casos, um grande tabu – há pelo menos uma zona do país onde ninguém tem dúvidas: o Porto. Todos os participantes disseram ser “exclusivamente heterossexuais”. Nem uma excepção à regra. 100%. Número redondo.

A percentagem destaca-se da média da população nacional (78% elegeram essa resposta), mas não pode ser vista como mais do que uma mera curiosidade, alertam os especialistas, já que a amostra relativa à cidade nortenha é demasiado reduzida para se tirarem conclusões. “Se responderam 100, não há nada de estranho nisso, mas se fosse numa amostra de 10.000, teria havido muitos que não disseram a verdade”, garante a psicóloga Ana Carvalheira.

O sociólogo Pedro Moura Ferreira, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, alerta que, mais do que olhar os resultados isoladamente, estes têm que ser vistos no contexto da região. E ainda que o Grande Porto, uma região tradicionalmente mais conservadora do que as regiões do sul (à exceção do Alentejo), tenha uma percentagem de população exclusivamente heterossexual superior à média nacional (84%), fica, por exemplo, atrás da Grande Lisboa (88%).

Um inquérito inédito

Para a elaboração das 100 perguntas do inquérito foi pedida a colaboração de quatro especialistas: o psiquiatra Júlio Machado Vaz, a psicóloga Ana Carvalheira, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, e os sociólogos Pedro Moura Ferreira e Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Socais (ICS) da Universidade de Lisboa – estes dois últimos participaram em 2007 num grande inquérito sobre o comportamento sexual dos portugueses. Cada um dos quatro consultores reviu o esboço inicial do questionário, preparado pela equipa da Revista e pela empresa de estudos de mercado GfK, sugeriu retificações, propôs a inclusão de novas perguntas e colaborou na interpretação dos resultados.

O inquérito foi estruturado em quatro grandes áreas. A primeira, que dissecamos nesta edição, mais centrada na prática sexual, em termos de frequência, iniciação, número de parceiros, satisfação, desempenho e orientação sexual, etc. A segunda (dia 22) relaciona a sexualidade com a saúde e o bem-estar do indivíduo, e propõe uma incursão no mundo das fantasias eróticas. A terceira parte aborda o fenómeno da infidelidade (dia 29) e a quarta as intrincadas relações entre o sexo e a internet (dia 5 de outubro).

O inquérito foi realizado pela GfK a uma amostra representativa da população portuguesa. Foram inquiridos 1220 indivíduos com 18 anos ou mais, residentes em Portugal continental. Além das 100 questões sobre a vida sexual, foram colocadas outras que permitiram traçar o perfil dos inquiridos segundo diversos indicadores demográficos (sexo, idade, região, estatuto social); elementos de caracterização como a orientação sexual; e outros elementos como o consumo de bebidas alcoólicas, hábitos tabágicos ou orientação política. A informação foi recolhida através de um questionário de autopreenchimento, depositado numa urna fechada. Os trabalhos de campo decorreram entre os dias 10 e 21 de agosto, com recolha entre as 18 e as 21h durante a semana, e durante todo o dia nos fins de semana. A taxa de participação foi de 56,2%.

Nelson Marques (Rede Expresso)
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