SEM VÍDEO-ÁRBITRO: A estupeta é natural de Vila Real de Santo António nem sequer os vizinhos de Ayamonte a confecionaram

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Eu também não sabia; no entanto me foi ensinado por portuenses idóneos e cultos que as senhoras costumam dirigir-se às mercearias onde pedem ao merceeiro uma posta ou duas de um bom bacalhau para fazer Ponheta; o mesmo é desfiado, passado por água para perder sal, depois liberto de águas junta-se alho picado, pimenta branca, azeite e vinagre; para as pessoas que gostam ele não permanece na mesa por muito tempo.
Vila Real de Santo António viveu o êxito de variadas conservas de peixe dirigidas pelos nossos técnicos italianos, espanhóis e gregos, principais montadores do potencial industrial com eterna saudade, e mui respeitosamente o nome da excelente elite laboral especializada e de total entrega profissional, detentora obviamente de muitas medalhas premiadas à qualidade de Vila Real de Santo António no estrangeiro; seguiram-se industriais portugueses à mesma batuta.
Da actividade das salgas, os seus manuseadores utilizavam o atum pelo sal quando este atingia os meses necessários para ser retirado do Pio de Sal. O nome italiano de estupeta é ensinado aos manuseadores de salgas, em que somente eles confecionavam a estupeta para esta refrescar os seus copos de vinho tinto; esta comida não era usual em outro pessoal da actividade diferente, nem sequer as mulheres entravam naquele “baile de roda”.
Vila Real de Santo António viu nascer a estupeta e viu morrer.
Contando comigo; já há muito poucos homens em Vila Real de Santo António que sabem fazer uma Estupeta; nunca existiu em manuais de culinária universal, e nunca foi confecionado em restaurantes de Vila Real de Santo António.
Há poucos dias foi apresentado num canal televisivo; também já servem em Lisboa e em Vila Real como em outros lugares, apresentando ao cliente uma mistura de Picadilho com nome de Estupeta que mais serve para enlatar como alimentação de gatos, ou como ração de enfiar no anzol como amostra, para enganar o peixe; apresentando o galheteiro ao cliente o que é contraproducente; enfim! O que era bom se acabou!
Agora… Não assem mais carapaus fritos! Por favor não assem mais!
Importa também apresentar aos mais interessados da História da Estupeta, que em Vila Real de Santo António existiu uma unidade militar de artilheria de costa situada a poucos metros a sul do cais da fábrica Parody, exactamente umas Lages que ali se visualizavam, acusavam o local; desconhecendo-se a sua idade em relação à idade da fortaleza de Santo António cujas suas ruínas faziam de cais de espera e prática de mergulho aos meninos.
Na fotografia, em primeiro plano inferior mostra André Rocha preparado para receber a pequena embarcação que não demora a chegar àquele lugar com partida do cais da fábrica Tenório e carregado com garrafões de vinho, melancias, melões, muitos pães, alguidares de estupeta já confecionados desde manhã, e tachos com espinheta guisada com batatas quentinhas.
Para quem conhecer distingue-se no amuralhado o Henrique Santos conhecido por “Zé Petorra” com o saxofone nas mãos, e também o Asdrúbal Lourador com a sua viola para acompanhar as melodias espanholas que ali eram interpretadas durante o tempo de espera da chegada do Bote.
Os combinados donos da lancharada transportavam tudo para o monte onde estava instalada uma barraca da Ermelinda do Cego; salão onde se dava depois o concerto desconhecendo-se de que marca era o tinto.
Repetia-se a mesma festa todos os Domingos de Verão.

Alexandre Azul

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