Ser Solidário

Luísa Travassos
Luísa Travassos
Diretora do Jornal do Algarve Carteira Profissional - 588 A

Passados cinco meses de direção do JORNAL do ALGARVE, convém clarificar o nome desta coluna.
Apesar de, como diretora deste semanário, ser responsável por tudo o que aqui se publica, o trabalho que a nossa equipa realiza é pensado, discutido e orientado tendo sempre como principal preocupação cumprir as boas regras do jornalismo, sem perdermos de vista a verdade informativa isenta mas continuando a pugnar por um jornalismo de causas. Com toda a certeza, nem sempre conseguimos cumprir aquilo que está previamente estabelecido e, apesar de alguma crítica à forma como hoje em dia se faz jornalismo, não temos a veleidade de nos julgarmos perfeitos. Também erramos.
Essa constante preocupação de isenção não significa que, cada um e qualquer de nós, não tenha uma opinião formada sobre aquilo que noticiamos.
É neste sentido que esta coluna não pretende ser porta voz, editorial, deste semanário, só me vincula a mim. Tenho a minha própria opinião, escrevo em meu nome!
Vivemos tempos muito difíceis.
O crescimento económico que se verifica no nosso país, não se traduz numa melhoria da qualidade de vida, dado que a inflação decorrente do aumento dos combustíveis, diga-se guerra, diminui dia a dia o poder de compra dos portugueses, as pequenas e micro empresas deixaram de ter os poucos apoios que tinham, consequentemente vão definhando, mal conseguem sobreviver, quanto mais aumentar os salários. É preciso ser solidário.
A pandemia parece não dar tréguas, os números são cada vez mais altos (31 mil por dia) e as mortes teimam em não diminuir (281 só na passada semana). Parece que nos tornámos autistas e, ansiosos por uma vida normal, não nos compenetramos que não podemos baixar a guarda e o Estado (esse sim, autista) teima em não divulgar os verdadeiros números, em não conter as cadeias de transmissão, aumentando assim as infeções e impedindo muita gente de ir trabalhar. Está a pôr-se em causa a laboração de várias empresas, com o consequente reflexo na economia do país. Para além do mais, recusa-se a financiar testes sem burocracias, no entanto, encaminha os casos positivos para as clínicas privadas, a quem tem que pagar, num ato de “solidariedade”.
Esse serviço era feito por equipas no SNS. Mas parece que Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, está preocupado com o aumento da dívida decorrente do crescimento do emprego público que, segundo ele “duplicou no período pandémico face aos anos anteriores. Em média, de 2015 a 2020, tinha crescido 9500 trabalhadores e este número passou para próximo de 19 mil nos anos da crise pandémica, ou seja, houve um aumento em termos médios anuais de 95%” . Se essa apreensão tiver eco no Executivo, diminuirá o pessoal no já tão debilitado SNS!
Apesar da preocupação do nosso conterrâneo especialista em finanças públicas, apesar de termos os nossos hospitais a romper pelas costuras e, no caso do Algarve até nos faltar o tão prometido hospital central, apesar do Estado Social não ser solidário, com idosos a terem que escolher entre comida e medicamentos, com famílias de acolhimento que nada recebem da Segurança Social, para além de inúmeros problemas que afetam a sociedade portuguesa, vemos o primeiro ministro de Portugal, António Costa, oferecer 250 milhões de euros à Ucrânia, dando continuidade ao apoio de equipamento militar, tal como Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, defende que, ainda que fiquem a faltar verbas para outras áreas, é urgente dotar as nossas forças militarizadas com mais armamento. Tudo isto, quando acabamos de comemorar os 48 anos do 25 de Abril, em que o lema era o desarmamento, a liberdade e a democracia.
Temos consciência que a realidade hoje é outra! Mas a democracia parece estar cada vez mais em perigo, branqueando forças nazis, quer de um quer do outro lado do conflito. E numa guerra não há verdades absolutas. Todos mentem, todos matam, todos massacram…
É bem certo que Portugal, como membro da UE, tem que marcar a agenda e mostrar ao mundo que existe, é solidário e está presente! Mas cuidado Senhor Primeiro Ministro: não é só na Ucrânia, tal como referiu em Irpin, que esta “guerra visa a pura destruição da vida das pessoas”. Todas elas e, só nos últimos cem anos, têm matado milhões de civis que não podem ser esquecidos. Basta recordar o que estudou e estar atento ao que continua a acontecer por esse mundo fora.
É verdade que a solidariedade é necessária e urgente!
Mas eu – que não sou especialista em coisa nenhuma – considero que há outras formas mais eficazes de se ser solidário! Não com dinheiro que não temos, não com armas que enriquecem, desmesuradamente, quem as fabrica e matam quem deve permanecer vivo.

Luísa Travassos

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