Setor primário algarvio luta para exportar a preços competitivos

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Exportar e chegar aos mercados estrangeiros com um preço competitivo está a ser cada vez mais complicado: impostos, custo do transporte e, principalmente, concorrência de países onde a mão de obra chega a ser paga a um terço dos valores praticados no nosso país são alguns dos constrangimentos

DOMINGOS VIEGAS

O setor primário algarvio, nomeadamente a agricultura e a produção com origem na economia do mar, dispõe das melhores tecnologias existentes a nível internacional, coloca no mercado produtos de grande qualidade, mas continua a debater-se com muitos constrangimentos e desvantagens, principalmente, no que toca à exportação.

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Entre estes, destaca-se a burocracia e o valor dos impostos no nosso país, bem como o facto de Portugal estar na periferia da Europa, o que implica ter que pagar um alto preço em transportes para colocar estes produtos nos mercados europeus, e a concorrência com produtos provenientes de países com mão de obra muito barata.


Estas foram algumas das dificuldades apontadas pelos empresários, proprietários de empresas consideradas como casos de sucesso na região, que participaram no fórum “Conversas de Agricultura”, dedicado ao tema “Sustentabilidade e Valor Acrescentado”, organizado pela sociedade de garantia mútua Agrogarante e que decorreu na última semana no Hotel Faro, na capital algarvia.


“Ainda temos uma legislação muito desadequada à realidade, com demasiada burocracia e impostos muito pesados, inclusivamente, para quem quer iniciar a atividade”, lamentou João Bento, sócio-gerente da Madre Fruta, que se dedica à produção de frutos vermelhos.


Este empresário recordou a “grande pressão” que é feita por países concorrentes, nos quais o custo de produção chega a ser “cerca de um terço menos” do que no nosso país. E aqui ganha maior expressão o custo da mão de obra, que levou João Bento a considerar como “uma concorrência que não é muito legal”.


Por tudo isto, este empresário considera que “um dos grandes desafios é conseguir diminuir os custos de produção”, ainda mais numa altura em que cada vez há menos fundos comunitário para o nosso país, enquanto outros países concorrentes “por terem entrado mais recentemente na União Europeia, ainda têm muito dinheiro à disposição”.


A falta de profissionais de outras áreas, muitas vezes fundamentais para a manutenção das atividades do setor primário ou da indústria, foi outro dos problemas apontados, neste caso por Inácio Valle, da Necton, empresa de produção de sal marinho e microalgas. “Por exemplo, encontramos facilmente um eletricista especializado em construção civil, mas é mais difícil quando precisamos de um eletricista para a nossa atividade ou para a indústria”, lamentou.


O mesmo empresário levantou outro dos constrangimentos que acabaria por ser, posteriormente, reforçado por todos os intervenientes: a questão do transporte e o facto de Portugal e o Algarve estarem na periferia da Europa.

“O Algarve ainda está muito longe de tudo”, considerou. Além da questão do custo do transporte, que se reflete no preço final do produto quando este é exportado, Inácio Valle deu outro exemplo: “Em Sevilha há ligações a Madrid, em comboio de alta velocidade, durante todo o dia e a qualquer hora. Não quero dizer que é preciso alta velocidade de Faro para Lisboa, mas se eu precisar de me deslocar, por exemplo, para uma reunião tenho que me sujeitar aos escassos horários de comboios que existem”.


A questão do transporte dos produtos acabaria por ser mais desenvolvida por Didier Mercier, diretor financeiro da Frupor, empresa que se dedica à produção hortícola, floricultura e, em menor escala, à produção de vinhos, e que exporta 73% da sua produção, essencialmente para a Noruega e Suíça.


“Temos um dos melhores climas da Europa, não estamos nada atrás em tecnologia e, em comparação com outros, Portugal até é um país onde, por exemplo, obter um crédito para iniciar a atividade não é tão complicado. Mas vejam onde estão os mercados e onde está Portugal. Agora vejam, dentro do país, onde está a Costa Vicentina que é onde está a nossa empresa”, recordou.


Didier Mercier, belga casado com uma portuguesa e radicado no nosso país há várias décadas, explicou que “só o transporte pode chegar a representar 30% do custo” quando o produtor quer colocar o seu produto à venda nos grandes mercados do estrangeiro. Além disso, em Portugal “há demasiados impostos e a energia também é caríssima, em comparação com outros países”, lamentou.


João Pereira, diretor executivo da Terra Projetos e que moderou o debate, acabou por resumir, na perfeição, esta questão: “O Algarve está na causa de um país que está na cauda da Europa. Estamos na cauda da cauda da Europa”.


A sustentabilidade na produção foi outro dos temas do debate, com todos os intervenientes a salientar que, atualmente, a realidade já é muito diferente daquela que se verificava há alguns anos, quando poucos tinham em conta este fator, nomeadamente a sustentabilidade ambiental.


No entanto, destacou-se, neste âmbito, a intervenção de Pedro Bastos, sócio-gerente da Nutrifrescos, empresa que faz chegar diariamente “o melhor peixe fresco” aos ‘chefs’ de cozinha mais exigentes e que, além do mercado nacional, já exporta para oito países.


“Temos tido a preocupação de sugerir aos ‘chefs’ o consumo diversificado de peixe e temos conseguido que eles passem a utilizar outras variedades, das quais há maior ‘stock’ no mar, e não só aquelas que, por tradição, são consideradas mais nobres. Desta forma, estamos a contribuir para a sustentabilidade e para que os recursos não se esgotem”, sublinhou.


Antes, e numa das primeiras intervenções da tarde, José Graça, diretor regional adjunto de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve, fez um breve retrato do setor agrícola da região, salientando que a produção de citrinos “destaca-se em área”, os frutos vermelhos “já têm uma área e um peso nas exportações muito significativos”, a cultura do abacate “está a ter um bom desenvolvimento” e, na transformação de produtos agrícolas, destaca-se “a da alfarroba”. Por seu turno, a horticultura “já teve muito peso, mas já não representa grandes valores”, explicou.

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