Simpósio: Arons de Carvalho defende mais apoios do Estado à Imprensa

“Hoje recebemos informação não só dos media tradicionais, mas igualmente dos grandes gigantes da internet, Google, Facebook, etc, e também dos cidadãos produtores de conteúdos e igualmente consumidores, os chamados prosumers”, disse

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O especialista em comunicação social Alberto Arons de Carvalho considerou hoje imprescindível a mudança da lei de imprensa e dos estatutos da ERC, e reforçar os apoios do Estado à Imprensa.

Falando durante o Simpósio “O papel da imprensa na defesa da democracia”, organizado durante todo o dia pelo JORNAL do ALGARVE em Vila Real de Santo António (VRSA), Arons de Carvalho considerou urgente atualizar a legislação do setor face aos novos desafios que se colocam à comunicação e ao jornalismo.

O ex-secretário de Estado da Comunicação Social de António Guterres considerou também que “é preciso fazer no plano legislativo, a transposição e o acompanhamento do quadro europeu, desafio que considerou “urgente” em Portugal.

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Sobre a desejável mudança do quadro legal dos incentivos, salientou que “deve ser valorizado o papel das empresas que têm jornalistas e o contributo da informação com jornalistas”.

“Exemplos não faltam: em França anualmente são 130 milhões de euros destinados aos apoios à comunicação social”, apontou.

Outra questão que colocou foi se estará em Portugal o setor da comunicação pública encarregado da política de comunicação social preparado para estes novos desafios.

“Já tivemos um departamento para os media. Nos últimos anos o regulador ERC passou a desempenhar funções em matéria de avisos e fiscalização, retirando-as a esse departamento”, Contudo, enfatizou, “o atual modelo, com 3 ou 4 pessoas ligadas à comunicação social está na presidência do conselho de ministros e não na cultura, mesmo sendo os incentivos atribuídos pelas comissões coordenadoras de desenvolvimento regionais, esse modelo, essa direção de serviços é insuficiente”.

Falando à distância, através de vídeo, por impossibilidade de estar presente, devido a doença, no Auditório António Aleixo, no centro da cidade de VRSA, o especialista em media discorreu sobre os novos tempos da comunicação social, considerando que, no mundo em que vivemos, “não são suficientes a liberdade de criar empresas ou direitos dos jornalistas como a liberdade de expressão, igualmente importante é relevar o direito à informação dos cidadãos. Isto é, garantir uma oferta plural de Meios de Comunicação Social, garantir a transferência de propriedade, assegurar apoios do Estado aos OCS, sobretudo os regionais e locais. Garantir uma media independente e plural, fundado numa relação independente e fluente, entre outras medidas”.

“Hoje recebemos informação não só dos media tradicionais, mas igualmente dos grandes gigantes da internet, Google, Facebook, etc, e também dos cidadãos produtores de conteúdos e igualmente consumidores, os chamados prosumers”, disse, sublinhando que já não existe um único processo de comunicação em que o emissor é o único ator do processo de comunicação face a um ator passivo. Por exemplo, aduziu, as redes sociais, que são formas de expressão direta sem filiação jornalística, que permitem aos utilizadores publicar conteúdos e torna-los acessíveis aos outros utilizadores desse serviço.

“Com os novos media e a Internet há espaço informativos ilimitados, um aumento exponencial da oferta informativa atualizável a qualquer momento e multimédia”, acrescentou.

Referiu também um novo modelo de negócio, a que chamou “a economia da atenção”, um incentivo a novos “clickbytes assegurados por títulos enigmáticos, que reforçam uma procura aprofundada por parte do consumidor; a mais pageviews; à obtenção de dados pessoais e dos hábitos e preferências dos consumidores, e à definição de algoritmos, o petróleo do século XXI”.

“Existe de facto um novo contexto: o mesmo número de consumidores dispõe de uma oferta bem mais alargada o que se reflete em menos receitas publicitárias e menos jornalistas. Há mais oferta, há mais conteúdos, mas muita informação sem a indispensável intermediação dos jornalistas, com um maior risco de desinformação, com uma diluição entre informação e publicidade”, disse, dando como exemplo as publirreportagens.

“Muitos dos produtos a que temos acesso têm como fonte original a comunicação social, mas esta não é economicamente compensada economicamente por esse trabalho. E há também o fenómeno da desinformação, que é um novo desafio para as políticas públicas. Há várias formas possíveis de a combater. Por exemplo confiar apenas na autorregulação, é um processo que já deu provas de não ser suficiente; confiar nas iniciativas de fact checking (Polígrafo), insistir na literacia mediática para preparar as gerações mais novas para distinguir o verdadeiro do falso”, concluiu.

Organizado pelo JORNAL do ALGARVE em Vila Real de Santo António (VRSA), cidade-sede da publicação, o Simpósio “O papel da imprensa na defesa da democracia” contou com dezenas de participantes e assistentes, ligados a vários setores de atividade, e teve a colaboração e apoio ativo de várias entidades, entre as quais a Câmara Municipal de VRSA e a UAlg.

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