Sindicato diz que sala de cesarianas está em risco de fechar em Faro

Segundo o comunicado, atualmente estão em serviço 40 enfermeiros, “a trabalhos por 50 e deveriam ser 70”

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O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses anunciou esta quarta-feira que o bloco de partos em Faro está em risco de encerrar a sala operatória de cesarianas por falta de enfermeiros.

Segundo o comunicado, atualmente estão em serviço 40 enfermeiros, “a trabalhos por 50 e deveriam ser 70”.

“De acordo com o Regulamento Dotações Seguras da Ordem dos Enfermeiros, para o bloco de partos da Unidade Hospitalar de Faro, o cálculo aponta para a necessidade de 70 enfermeiras, mas neste momento tem ao serviço apenas 40”, refere em comunicado.

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O sindicato acrescenta que este número de enfermeiros está “abaixo do necessário para assegurar uma prestação com qualidade e segurança às mulheres grávidas e recém-nascidos, já que estão escaladas 9 em cada turno, quando deveriam estar 12”.

Esta situação agrava-se agora com o encerramento do bloco de partos de Portimão, enquanto os enfermeiros referem “ter atingido níveis de exaustão insuportáveis por trabalharem muitas vezes 16 horas seguidas, e várias semanas sem folgar para assegurar as 1800 horas extraordinárias mensais que são necessárias”.

“Por gozar estão cerca de 2000 dias de descanso!”, acrescenta o sindicato.

Até ao final da semana será entregue um abaixo assinado ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve e ao Ministério da Saúde.

Situação insustentável

O enfermeiro Nuno Manjua, da Direção Regional de Faro do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, disse ao JA que a está a viver-se uma “situação insustentável” no CHUA.

“As enfermeiras resolveram dar o alerta”, uma vez que “o problema da carência de profissionais e a sua valorização não é só de médicos, é também de enfermeiros”, explica ao JA.

O responsável revela ainda que existem “várias enfermeiras especialistas que já deveriam ter transitado para a sua respetiva categoria, com o compromisso da própria administração, desde 2019 e que ainda não aconteceu”.

“Nos últimos dois anos tem sido imensamente duro para as enfermeiras conseguirem dar resposta”, acrescenta.

Nuno Manjua revela que as enfermeiras “esperam que este problema se resolva brevemente” porque “não vão conseguir aguentar mais”.

“Não é uma questão de não querer ou não desejar, mas humanamente não é mais possível”, afirma.

O bloco de Faro tem uma média de 200 partos mensais, sendo cerca de 50 delas cesarianas, que “se somarmos mais 100 que se possam fazer em Portimão, já vem sobrecarregar” a capital, uma vez que a infraestrutura do barlavento pode estar encerrada.

“Ninguém consegue aguentar muito mais tempo a fazer 16 horas seguidas e várias semanas sem folgar. Ou resolvem isto ou as enfermeiras vão definir prioridades entre aquilo que é a suportabilidade gumana dos cuidados e as necessidades das grávidas e dos recém-nascidos”, salienta.

Para resolver este problema, o sindicato considera que é necessária contratação, abertura de concurso para enfermeiros especialistas, valorização e do “gozo de direitos”.

O responsável garante que “se vierem a acontecer outras situações, é da total responsabilidade do Conselho de Administração do CHUA e do Ministério da Saúde”, uma vez que “as enfermeiras têm vindo a fazer tudo por tudo para conseguir evitar a situação de rutura”.

No entanto”, quando o próprio ser humano entra em rutura, é impossível assegurar o que quer se seja”.

O sindicato recorda que tem vindo a exigir à administração do CHUA uma reunião “desde fevereiro, já por diversas vezes”, mas “teimam em não marcar”.

“Isto significa que não estão minimamente interessados no enfermeiros” e esta situação pode ter “consequências nos utentes”.

Nas próximas semanas, o sindicato vai reunir com vários serviços do CHUA, porque “esta situação de carência de profissionais não é só no bloco de partos, mas também noutros serviços médicos”.

Por outro lado, Nuno Manjua destaca que “tem sido muito difícil ficar profissionais na região” e que os enfermeiros têm vindo a sair.

Desde janeiro até junho, saíram do serviço de urgência de Portimão 10 enfermeiros, que foram para o privado, para o estrangeiro ou que “infelizmente abandonaram a profissão”, apesar da “falta que fazem”.

Já em relação às duas enfermeiras que foram contratadas para o CHUA, o sindicato refere que “uma durou uma semana e outra apenas um dia. Isto é indicativo que a situação é insustentável e ninguém quer trabalhar nestas condições”.

Contactado pelo JA, o diretor clínico do CHUA, Horário Guerreiro, disse “não ter nenhuma noção de que isso seja assim” e que tem de “proteger sempre as áreas mais críticas”, garantindo que o encerramento da sala de cesarianas “não irá acontecer”.

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