SMS: A dificuldade das coisas

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Colaboradora. Designer.

Vou confidenciar. Como há muitas, muitas semanas não acontecia, esta semana andei a adiar a escrita deste apontamento de dia para dia, sempre a adiar, até que, num momento já próximo deste, estava decidido a desistir. Ora esbarrava no assunto, ora esbarrava no título. Ou então derivava para um assunto desligado da realidade, da realidade com relação direta e útil com o Algarve, ou mesmo com o mundo que lhe está próximo. Foram várias as tentativas. Primeiro pensei escrever alguma coisa que daria como título certo – “Pobres, atrasados, isolados”. Não, dizer isto, por mais que corresponda à verdade, é uma agressão inútil. Mudei para outro registo – “Balões cheios de ar, tribos, clãs”. De modo nenhum, aproximam-se eleições, vai por aí uma revoada de propaganda e contra-propaganda, os balões já não significam balões, e, além disso, mal se fala em tribos ou clãs, a conversa fica estragada.

É claro que, apesar de muito fogo-de-vista, o Algarve está pobre, atrasado e cada vez mais isolado. Só que coisas destas não podem ou não devem ser ditas por alegadamente serem ou parecerem campanha contra o Algarve, afugentarem os turistas, fazerem perigar a paz social. Também é verdade que pelas repartições públicas e pelas autarquias abundam sem precedentes os balões cheios de ar, paredes-meias com tribos que gerem o poder e clãs que definem o dever consoante as conveniências. No entanto, não é de bom-tom pôr-se em letra de forma que o Algarve não é uma sociedade aberta, que a democracia não é vivida por inteiro, que os manhosos não são reis e que os partidos não estão organizados de modo a impedir que a manha não controle a rua, a vizinhança, a sociedade. Todos sabemos o que acontece mas para se salvar alguma sã convivência, é aconselhável que se finja. Fingimos que somos ricos, que estamos muito evoluídos, e que, melhor do que ninguém, estamos ligados ao mundo. Fingimos que os balões têm conteúdo mesmo que a gente que sobe de balão é melhor que não abra a boca, fingimos que muito do nosso canibalismo político não decorre do tribalismo também político, e fingimos que o pertencer ou não a um clã é o critério dominante de selecção, independentemente do clã poder ser já de si o piorio. Já nem se questiona.

É a dificuldade das coisas. Não sei é se haverá alguém a ficar grato para quem estraga o 25 de Abril, cantando-o com manha.

Flagrante progresso: Uma estação ferroviária como a de Loulé/Quarteira, como tudo o que supõe, encerrou a bilheteira, fechou os saitários, trancou as portas e colou um papel à porta avisando que encerrou isso tudo “por razões técnicas”…

Carlos Albino

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